segunda-feira, 26 de outubro de 2015

MICROSCOPIA AVANÇADA DE CÉLULAS DANÇANTES



E se você pudesse pegar um microscópio e olhar as células de Bram?

Você veria que cada célula é um ser vivo completamente independente e tem sua vida própria, elas dançam, elas cantam e elas vivem suas vidas exatamente como Bram ou seus amigos. As células são seres vivos com seus sonhos e pretensões salariais, sem ter a mínima consciência de que fazem parte do corpo de Bram.

Há uma célula do seu joelho que reza toda noite para que consiga cantar como aquela vagabunda da outra célula, que faz parte do seu pescoço e roubou seu namorado.

Dyoníza, aquela célula simpática que todos adoram amar, vive em seu ritmo frenético pra conquistar likes naquela rede social que está bombando no mundo microscópio do corpo de Bram. Ela posta várias fotos das baladas, dança melhor do que qualquer outra célula, mantém a forma indo na academia todos os dias e adora um sexo casual.

Bram bebe uma cerveja com sua namorada Imala naquele momento em que Dyoníza aproveita a night com aquele som eletrônico pesado na pista de dança.

- E se a gente for células de um ser superior? – pergunta Bram depois de beber seu décimo e segundo copo de cerveja.

- Que porra tu tá falando?

- Tipo assim, eu e você sermos partes vivas de um mesmo ser, se eu te machucar, na verdade estou me machucando.

Imala não estava em condições de acompanhar os pensamentos do namorado e apenas levantou a sobrancelha.

O último gole de cerveja desceu aliviando.

- Que diferença faz se uma célula nossa deixar de existir? – Bram tentava formular algo com base no mundo do Edifício onde a morte não existia, mas tudo era confuso em sua mente.

- Eu acho que é melhor parar com a cerveja por hoje – disse Imala de bom humor, aproximou o rosto de Bram e lhe deu um beijo, com a unha deu um beliscão em sua bochecha.

Beliscão fatídico, enquanto Dyoníza dançava loucamente na última festa de sua existência, foi esmagada e deixou de existir no mesmo instante por culpa de Imala. Bram deu um último gole antes de ir pra casa, nunca em toda a sua existência Dyoníza fez alguma diferença para ele.

Gustavo Campello

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O COPO CONTINUA NA JANELA



Então você foi embora, fiquei parado em frente ao meu portão vendo o seu carro se afastar lentamente até sumir rua abaixo.

Em casa, depois de quase dois meses, ainda está na janela o copo onde bebeu água pela última vez, sua toalha permanece pendurada no banheiro e inúmeros badulaques seus eu coloquei em uma caixa de plástico. Não chorei, só fiquei deitado na cama durante sei lá quantos dias sem entender direito o que tinha acontecido, ainda não chorei.

No mundo virtual me deparo com um meme que diz: “Uma das coisas mais difíceis da vida é não falar mais com quem você falava todos os dias”.

Vontade de jogar o celular na parede.

Sinto-me em animação suspensa, dentro daqueles tubos de vidro, completamente congelado enquanto o mundo lá fora está em constante modificação, em completa metamorfose em um mundo em que não me encaixo mais. Odeio tecnologia, mas é só assim que as pessoas se conectam hoje em dia.

Sozinho.

Seguimos caminhos opostos, seu carro descendo a rua e eu ficando aqui, nesta tumba suja e empoeirada que é esta casa sem você, mas ainda não chorei, devo ter perdido todos os meus sentimentos, devo ter virado aquela pedra de gelo que você tanto me acusava de ser.

Sem levantar da cama assisto a um filme depois do outro. Totò tenta me fazer rir sem sucesso, Steve McQueen interpreta um cara frio e escroto que me obriga a encarar meus defeitos e Jack Lemmon me salva de cair no fundo do poço.

Nada vai ser como antes, já estive neste exato momento mais de uma vez, mas quanto mais envelheço mais difícil fica de estar aqui de novo e de novo e de novo. Olhando a imensidão do mundo como se fosse o último homem nele. Sozinho de novo.

Revivo a mesma cena, de olhos abertos e fechados, a cena do seu carro descendo a rua, e eu sou como o Jack Lemmon no final daquele filme, olhando pela janela a mulher que ama ir embora, porque se ele não a amasse, então terminaria o filme com ela.

Gustavo Campello

sábado, 29 de agosto de 2015

AMOR "JEN" EGOÍSTA X AMOR "IMALA" ALTRUÍSTA



- Como você sabe que ama Imala? – Ferzan não queria gerar polêmica, afinal, ele mais do que todos, tentava ficar longe de polêmicas.

- Oras... – Bram foi pego desprevenido pela pergunta – Eu simplesmente sei.

Ferzan percebeu o constrangimento da pergunta e quis mudar logo o assunto, mas Bram odiava quando o amigo tentava evitar discussões, como se vivesse a vida pisando em ovos.

- Lembra da Jen? – pronto, o assunto estava de volta e não tinha nada que Ferzan podia fazer, o guitarrista fez que sim com a cabeça – então, eu não amava Jen.

- Você ficou bem mal quando ela foi embora.

- Exato, este é o meu ponto!

- Quer dizer que se Imala for embora você não vai ficar mal?

- Não, obviamente vou ficar pior.

- Que tipo de argumento é esse? – Ferzan agora achava que Bram estava bêbado ou algo do tipo.

- O que quero dizer é – Bram procurava as palavras certas – quando Jen se foi eu fiquei mal porque estava perdendo ela e não necessariamente porque ela estava indo embora. Jen me fazia falta, mas todos os meus sentimentos eram sobre mim e não sobre Jen. Eu fiquei mal por puro egoísmo, não estava dando à mínima se era o melhor pra ela, todo o sentimento que aflorava era sobre eu estar sem a Jen... e não de como Jen estava se sentindo.

- Certo, mas qual a diferença se Imala se for? Realmente acredita que vai ser diferente?

- Se eu perceber que ela vai ser mais feliz longe de mim, bem, vou me despedaçar aos poucos, mas vou querer ela bem longe de mim, só quero ver ela mais e mais feliz. Acho que isto é amor, sei lá... por isso acho que amo Imala e não amava Jen, são coisas diferentes.

- Egoísmo contra altruísmo?

- Algo do tipo.

- Você está sendo idiota, não existe este tipo de amor.

- Se Imala entrasse por esta porta agora e dissesse que precisaria de mim longe pra ser feliz eu iria embora na mesma hora.

- Jura? – Ferzan parecia não se importar mais com a polêmica.

Antes que Bram jurasse Imala entrou e foi em sua direção, disse algo em seu ouvido, ele sorriu e os dois saíram de mãos dadas sem falarem mais nada.

Ferzan terminou a cerveja e foi pra casa masturbar o ego tocando guitarra.

Gustavo Campello

quarta-feira, 22 de julho de 2015

ME LEVE PARA LONGE (CINCO ANOS - BALANÇO GERAL)


Para Cristine

Hoje faz cinco anos que lancei minha primeira crônica (Meu Tio é um Bundão), lembro que eu estava em Sorocaba e era lá pra meia noite e meia. Havia acabado de voltar da casa do meu primo, foi a última vez em que eu estive lá, comendo pizza, bebendo vinho e jogando vídeo game com ele, pela primeira vez na vida não havia perdido no futebol, tinha conseguido um empate. Voltei pra casa meio alto, meu sobrinho (com seus oito anos) me enchendo o saco, resolvi escrever uma crônica e postar no blog (que já tinha sido criado, mas não tinha crônicas ainda), peguei o notebook da minha namorada que me incentivava muito a escrever, assim surgiu As Crônicasde Scaglia, uma série com mais de 70 crônicas que eram bem autobiográficas.

Então muita coisa aconteceu nesse meio tempo, uma era de trevas, o fundo do poço, nem sei como comentar, mas este é um post pessoal, é um balanço 100% real. Meu primo, que em muitos momentos era mais meu irmão que minhas irmãs, faleceu em menos de cinco meses depois da primeira crônica, meu namoro terminou na mesma época, de volta as bebedeiras constantes minha vida não parecia sair do lugar. Tá tudo aí, nas crônicas, é só ter um olho clínico que tu acha as coisas por que passei.

Então resolvi virar a mesa, a morte do meu primo havia me mudado de alguma maneira, enterrou toda a raiva, frustração, ódio, negatividade e mais tantas coisas com ele, lógico que só depois de muita terapia com o Dr. Oswaldo. Nunca parei de escrever, persisti escrevendo, terminei o livro (ainda não publicado) e as crônicas continuaram. Retomei minha relação com a minha filha, que é e sempre foi a coisa mais importante pra mim (pra quem dedico essa crônica). Não acho que ela lê o blog, mas a ideia é que um dia ela leia e possa me conhecer melhor. Eu trocaria qualquer pessoa por ela: pai, mãe, irmã, primo, cachorro, namorada... enfim, e é por isto que eu chamo ela de filha. Nossa relação pode ser das mais esquisitas para os olhos dos outros, morando distantes, ficado tanto tempo sem nos ver, e tantas outras coisas, mas é uma relação forte. Busquei ela esta semana de um intercâmbio na Alemanha, dez meses lá fora neste mundão, cada vez mais eu tenho muito orgulho dela e não consigo imaginar minha vida sem a ter conhecido. Queria poder fazer muito mais do que faço. Ela, por si só, já faz os últimos cinco anos terem mais ganhos que perdas. Uma das minhas crônicas favoritas é a (Ausente), que escrevi pra ela e provavelmente ela nem saiba ainda.

Mais recentemente teve o câncer da minha irmã e continuei escrevendo. Namoro problemático e continuei escrevendo. Meu cachorro que ilustrou o conto (NovaVida, Novo Começo) ficou muito doente e depois de um intenso tratamento que me zerou os bolsos fugiu na mesma semana que minha irmã operava, tentei desesperadamente encontra-lo, postei fotos pelas ruas, mas até hoje nada dele aparecer, mas continuei escrevendo. Depois de doze anos tentando me formar, tirei o diploma, sem deixar de escrever. Enfim, escrever tem sido minha vida, mas eu tava com uma vontade louca de encerrar o blog hoje (mas mudei de ideia).

Veio a promoção 5 anos 5 livros que realizei aqui e foi a maior frustração de todos esses cinco anos de blog, ver o tão pouco de pessoas que participavam me broxou (Porra! Era livro de GRAÇA, era só compartilhar, mas ninguém compartilhava), teve um sorteio entre cinco pessoas mais ou menos (Bem sugestivo: 5 anos 5 livros 5 participantes, patético). Pela primeira vez deu vontade de parar com tudo, desencanar do blog, desencanar de escrever, porque ninguém vai ler mesmo. Na verdade, acho que ninguém nem chegou até aqui. Mas não vou parar com o blog, decidi não escrever pra ninguém, nem pra mim, vou escrever pra registrar o que eu penso, quem eu sou, como eu vejo o mundo, pra se um dia, seja minha filha, minha namorada, meus sobrinhos, amigos ou quem quer que seja resolver querer saber algo sobre mim, bem, está tudo aqui, é só ler, explícito ou nas entrelinhas, 100%, um enorme quebra cabeças que se chama Gustavo Campello. Escrevo pra família, seja ela de sangue ou não, porque é tudo o que temos (talvez pra família de sangue bem menos).

Obrigado a todos que leram, e se tu leu até aqui, escreva “Idiota” nos comentários, não seja tímido. ;)

Gustavo Campello

quarta-feira, 8 de julho de 2015

AH, ORDINÁRIO!



É engraçado como a gente cresce e nem percebe.

Nestas últimas semanas percebi, depois do Zeca Camargo dizendo que é preciso ouvir mais Cazuza e Michael Jackson do que sertanejo, e mais recentemente, a repórter Monica Iozzi veio dizer a mesma coisa sem mencionar o Michael Jackson. Esta é a mentalidade de um adolescente chato pra caralho de quinze anos que quer ditar regras, que quer se afirmar dizendo que o que ele lê, ouve e assiste faz dele melhor do que você.

Graças a Deus eu cresci, imagina chegar com a idade do Zeca Camargo e da Monica Iozzi assim? Credo!

Quando tinha meus quinze anos ouvia rock, e me achava o tal: Metallica, Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains, Aerosmith, R.E.M. e tantas outras bandas tocavam no aparelho de som sem parar para desespero de meus pais e irmãs. Vestia-me de preto e xingava pagodeiro, falava que eram ignorantes, que isso ou aquilo. Típico adolescente chato querendo se impor pra um mundo que não dá a mínima.

Daí com dezessete anos descobri algumas coisas diferentes: Nina Simone, Frank Sinatra, Bobby Darin, Johnny Cash, David Bowie, Lou Reed, David J. e vários outros que saíam um pouco do o rock pesado e criavam coisas misturando jazz, blues, soul, country e outras coisas. Continuava achando pagodeiro idiota, mas falava menos, me importava menos, tentava impor menos meus gostos pra um mundo que eu percebia cada vez mais que tava se lixando.

Hoje, com trinta e quatro anos, percebi que já faz um bom tempo que deixei de lado aquela coisa adolescente de só ouvir música estrangeira e descobri várias outras coisas ao longo dos anos que passaram tão rápido: Almir Sater, Ney Matogrosso, Cartola, Tom Zé e tantos outros. Continuo não gostando de pagode, não curto funk, também não me desce o sertanejo comercial (prefiro o de raiz pouco divulgado nas mídias). Daí morreu um sertanejo que eu não conhecia (é, to falando do Cristiano Araújo) e parece que todo mundo resolveu cagar regra.

“Mais Cazuza, menos Cristiano Araújo”

“Mais Michael Jackson, menos sertanejo”

Oras, apesar do meu gosto musical ser extremamente eclético, nunca me desceu Cazuza, nem Michael Jackson, e agora? Porque ainda não me desce pagode e sertanejo vou começar a dizer por aí que é preciso ouvir mais Tom Zé e Cartola? Isso é demagogia barata, cresci e continuo ouvindo Nirvana, mas parei de ouvir só Nirvana. Cresci e agora escuto Cartola, mas não escuto só Cartola. Acho que todo mundo pode e deve escutar aquilo que quiser, o que agrada seu ouvido, o que der na telha. Se alguém quiser vir comparar Cristiano Araújo com meu David Bowie (Afinal de contas não foi o Paulo Coelho que veio se comparar com o James Joyce?), aí a conversa é outra, mas eu já estou velho demais pra essas discussões.

Não vou entrar em discussões sobre aquilo que a mídia insiste em te colocar dentro de determinados padrões, porque não é assim só com música, é assim com cinema, literatura e várias outras coisas. A discussão é extensa, mas se a pessoa quiser ouvir funk, ler Guerra dos Tronos, assistir Velozes e Furiosos e se achar o máximo, bem, o problema é da pessoa e ninguém tem nada haver com isso. Amadureci, não da pra dizer o mesmo do Zeca Camargo e companhia. To fora de discussões extensas deste tipo!

Gustavo Campello
Fingindo que não entrou na discussão e se sentindo maduro

sexta-feira, 3 de julho de 2015

PROMOÇÃO 5 ANOS 5 LIVROS (ENTRE A NEVE E O DESERTO)



Quinto e último livro da promoção de cinco anos do blog, onde em cada mês irei sortear um livro até julho, quando o blog efetivamente faz aniversário. Neste mês temos como quinto livro sorteado ENTRE A NEVE E O DESERTO da escritora gaúcha Gisela Rodriguez, que apesar de termos nos visto poucas vezes posso chamá-la de amiga (e uma das pouquíssimas pessoas que já leu meu romance ainda não publicado). O livro tem um valor pessoal muito grande pra mim, e foi por isto que escolhi ele pra fechar com chave de ouro a promoção, conta a história de Gabriel, que perdeu o seu primo. Lembro que quando perdi meu primo, que era como um irmão pra mim, e fui contar pra Gica, ela já estava no meio do livro, é uma dessas coisas misteriosas do universo que convergem as pessoas. O livro da editora Libretos tem 248 páginas, espero que o(a) ganhador(a) goste, pois é um dos meus preferidos!

Entre a Neve e o Deserto - Três jovens mergulham em uma trip literária e existencial. Procuram desenvolver a criatividade através das drogas. Em uma vida nômade, tendo como bússola os textos de seus heróis. Os escritores malditos. No entanto, um trágico desfecho transforma o mundo do protagonista. De volta à sua terra natal, Gabriel deverá reinventar o seu caminho em uma realidade da qual nunca quis fazer parte. Entre a neve e o deserto une aventure e existencialismo. Rock e crítica social, sonhos adolescentes e dilemas reais de personagens inadaptados à rotina convencional.

A promoção é fácil, pra participar tem que estar curtindo nossa página no Facebook clicando AQUI!, depois de curtir nossa página no Facebook é só compartilhar publicamente o banner igual ao da foto aí de cima e pronto, você automaticamente está participando do sorteio. Boa Sorte!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

NEIL YOUNG



Foi em 1993, quando tinha 12 anos, que Vitor conheceu o Neil Young... bem, não que ele tenha conhecido pessoalmente, mas ouviu algo com ele, havia assistido um filme com o Tom Hanks e gostado muito. Comprou o CD do filme por causa de uma música do Bruce Springsteen que estava fazendo sucesso. Foi seu primeiro CD na vida, não havia comprado nenhum antes e muitos vieram depois. Mas sua música preferida não era a do Bruce que estourou, mas sim de um tal Neil Young, que nunca ouvira falar e cujo título tinha o mesmo nome do filme: Philadelphia.

O tempo passou e ele esqueceu do tal Neil Young até o ano de 1997, quando tinha 16 anos e descobriu uma banda dos anos 60 chamada Buffalo Springfield. Havia estreado na Sony a série Dark Skies, uma espécie de irmã mais nova de Arquivo X, o capítulo piloto terminava com o Buffalo Springfield tocando a famosa For What It’s Worth, mostrando os protagonistas na estrada fugindo de uma conspiração alienígena que havia matado o presidente Kennedy.

Vitor ficou obcecado por esta música e conseguiu o primeiro CD do Buffalo Springfield em arquivo digital no Napster. Não demorou muito pra descobrir que o guitarrista da banda era o Neil Young, mesmo cara daquela música que ele sabia cantar de cor do filme com o Tom Hanks. Descobriu ainda que ele também era o compositor de Cinnamon Girl, aquela música que o Type O Negative fazia cover no CD que ele tinha. Pronto, Neil Young era um cantor obrigatório a partir daí.

Quando ele confirmou presença no Rock in Rio III, Vitor sabia que faria de tudo pra assistir e que seria um show que contaria para seus netos (se viesse a tê-los um dia). Estava lá na grade, na primeira fileira, mas não tinha grandes expectativas, imaginou que por ele já estar velho, veria um show calmo de um velhinho sentado em um banquinho, fato que se mostrou completamente equivocado quando Neil entrou no palco tocando Sedan Delivery, aquilo sim era rock and roll baby, o resto é resto.

O cara parecia o Wolverine, envelheceu que nem vinho, pulava e tocava como ninguém, a guitarra era uma extensão do seu braço. Até hoje Vitor não deve ter visto um guitarrista ao vivo como ele. Já emendou a segunda música tocando Hey Hey, My My (Into The Black), uma das preferidas de Vitor.

Hey hey, my my
Rock and roll can never die
There's more to the picture
Than meets the eye.
Hey hey, my my.

O Rock and Roll nunca esteve mais vivo. Veio Love and Only Love e na sequência Cinnamon Girl, tão conhecida de Vitor. Em determinado momento do show a corda da guitarra estourou, exatamente como acontecia com Vitor, mas com a diferença que esta talhou o braço de Neil Young, do cotovelo até metade do braço. Sangue escorria e pingava e o show não podia esperar, Neil Young continuou tocando ainda melhor do que antes, ignorando qualquer dor que pudesse estar sentindo. Vitor foi ao delírio, um monte de gente que estava longe nem devia ter reparado no fato, mas Vitor estava na primeira fila e assistia tudo aquilo guardando na memória cada segundo. O braço sangrando, Neil Young tocando guitarra e cantando Fuckin’ Up.

Foi um dos melhores shows que ele já assistiu, quando acabou ficou um gostinho de quero mais, por pelo menos mais duas horas seguidas. Encontrou Marcel e voltaram pra casa a quilômetros de distância. Havia acabado mais um dia de Rock in Rio, o último de Vitor. Hora de voltar pra realidade, encarar o cursinho e pensar no que diabos iria prestar no final do ano pro vestibular.

Gustavo Campello

sábado, 13 de junho de 2015

O PRIMEIRO HOMEM (O SEGUNDO TAMBÉM) E A PRIMEIRA MULHER



Poucos sabem, mas Bohus foi o primeiro homem do Edifício, não havia ninguém por lá ainda, aquela enorme construção de concreto pairava vazia, sem sons, sem cheiro, sem nada. O concreto frio em contato com a pele de Bohus o fez sentir um arrepio, mas não era um arrepio de frio, mas um arrepio de medo. Estava completamente sozinho na maior construção que já existiu e que se tem notícias.

O resto foi puro instinto, aprender a mexer nas coisas que lá havia, ligar a máquina de café, abrir um saco de salgadinhos, tudo foi automático como se ele fosse a engrenagem de uma máquina gigantesca, uma parte integrante que sempre existiu, não um ser pensante que havia acabado de se materializar por ali.

Bohus não era um Adão, como diria anos mais tarde aquele livro idiota. Se tinha algo que Bohus odiaria, se ainda tivesse a consciência que deveria ter, era a Bíblia Sagrada do Deus-Fungo, mas Bohus já não lembrava mais que era o primeiro homem, os duendes mecânicos fizeram um bom serviço com ele.

Bohus estava lá muito antes do Deus-Fungo, viu o segundo homem surgir do nada e se tornaram amigos. Marcelo era divertido e não saberia dizer quanto tempo os dois ficaram lá, sozinhos. A vida era estranhamente calma, bem melhor do que de onde eles haviam saído, daquele mundo pútrido dominado pelo Deus-Fungo. Criaram palavras que aprendiam conforme sonhavam e viam coisas que não compreendiam muito bem. Comiam, falavam, transavam e ficavam bêbados, alterados com substâncias que estavam ali à vontade para eles. A vida era boa.

Foi só então que surgiu a primeira mulher, Zahrat, que as coisas ficaram complicadas. Bohus gostava dela e ela de Bohus, mas Marcelo não estava gostando nada de ficar de lado, vivia cada vez mais e mais bêbado e cada vez com menos sexo. Queria transar e Bohus só queria saber de foder com Zahrat, queria conversar e Bohus só queria saber de falar de Zahrat, queria companhia e Bohus só queria andar com Zahrat.

Marcelo entrou em uma loja que nunca havia notado, havia armas por toda a parede, mas ele não sabia para que serviam, demorou uns dois anos até que tenha entendido que precisava colocar balas dentro para que funcionassem direito. Queria matar Zahrat.

- Sua puta desgraçada – gritou ele apontando-lhe a arma – vou acabar com você!

- Está louco? – gritava Bohus de volta.

- Éramos felizes! Éramos felizes – era o que gritava Marcelo quando a arma disparou. Bohus entrou na frente e levou três disparos no peito, a dor era imensa, mas não morreu, já que a morte não ronda as entranhas do Edifício.

Marcelo tentou correr, mas Bohus o alcançou, mesmo com a dor que percorria todo o seu corpo que expelia as balas lentamente. Bohus esmurrava Marcelo inúmeras vezes enquanto ele chorava, tentava se desculpar enquanto engolia sangue e lágrimas. Por fim teve o coração arrancado, foi arrastado até o porão mais próximo e jogado no subterrâneo.

Muitos vieram depois, muitos já foram embora, mas os três permanecem no Edifício até hoje.

Gustavo Campello

quarta-feira, 3 de junho de 2015

PROMOÇÃO 5 ANOS 5 LIVROS (O RETRATO)



Quarto livro da promoção de cinco anos do blog, onde em cada mês irei sortear um livro até julho, quando o blog efetivamente faz aniversário. Em junho temos como quarto livro sorteado O RETRATO da escritora Olívia Freitas que nasceu em São Paulo, ganhou o Festival de Poesia da Escola da Vila em 2010, se dedica ao teatro no momento e vai pra Índia logo logo. É minha prima caçula, que apesar de sempre sermos distantes, temos nos aproximado bastante nos últimos anos. O livro da editora Patuá tem 112 páginas, espero que o(a) ganhador(a) goste!
O Retrato é um livro de poesia - 
A voz do retrato
reflete minh’alma,
trancada a sete chaves,
atrás de sete portas,
onde a primavera
descansa para sempre 
em paz.

O outono passou.
As folhas velaram as flores,
como se fossem moedas
para um barqueiro sem rumo. 

A promoção é fácil, pra participar tem que estar curtindo nossa página no Facebook clicando AQUI!, depois de curtir nossa página no Facebook é só compartilhar publicamente o banner igual ao da foto aí de cima e pronto, você automaticamente está participando do sorteio. Boa Sorte!

quarta-feira, 27 de maio de 2015

SHERYL CROW



O próximo show já ia começar, Vitor chegou bem próximo da grade, só tinha umas garotas na sua frente. Sheryl Crow era a próxima atração, Vitor não tinha o perfil de que curtia este tipo de som, mas gostava bastante da cantora, tinha os CD’s Sheryl Crow (1996) e o The Globe Sessions (1998) e ela foi responsável pelo interesse de Vitor em cantores country como Johnny Cash, Willie Nelson ou Kris Kristofferson.

Ela entrou cantando A Change Would Do You Good do álbum de 1996, era ainda mais bonita pessoalmente. Um carioca com sotaque carregado começou a gritar:

- Gostosa, vem aqui que eu quero te comer!

O cara estava atrás de Vitor e não parava, atrapalhando o show de todo mundo, as garotas na frente de Vitor também olhavam pra trás irritadas. Era aquele tipo de público que foi no Rock In Rio III só pra dizer que foi, não tinha a mínima noção de quem estava tocando nos palcos desde o começo do dia.

Quando Sheryl Crow começou a segunda música All I Wanna Do, o cara até deu um sossego, devia conhecer a música das rádios, então deve ter parado pra ouvir. Vitor estava bem próximo dela, pode ver o show perfeitamente. Quando começou a cantar Leaving Las Vegas o cara voltou a gritar.

- Vem aqui que eu te quero, sua gostosa!

- Calaboca! – disse uma das garotas.

- Gostosa pra caralho! Vem aqui que vou te foder! – o cara ignorou a garota e continuou gritando. Vitor já estava perdendo a paciência.

Foi na quarta música, enquanto ela cantava It Don’t Hurt que Vitor se cansou de vez, enfiou o cotovelo com toda a força no estômago do sujeito, meteu o calcanhar com o coturno nos dedos do pé dele e acertou a parte de trás da sua cabeça no nariz do idiota. O cara nem viu o que o atingiu, foi bem rápido, antes que conseguisse estancar o sangue do nariz já estava sendo levado pra trás por uma falange de pessoas. Vitor tinha conseguido uma semi-briga em um show da Sheryl Crow, estava orgulhoso, enquanto isso ela cantava.

It Don't Hurt Like It Did
I Can Sing My Song Again
It Don't Hurt Like It Did
I Can Sing My Song Again

O show continuou sem nenhum imprevisto, ela cantou mais sete músicas, incluindo um cover do Guns N’ Roses, até encerrar com There Goes The Neighborhood. As garotas que estavam na frente de Vitor saíram depois do show e ele conseguiu chegar na grade. A grade, o grande trunfo do dia para assistir o maior show da noite, o grande motivo para ter feito Vitor ir até o Rock In Rio III. Ele segurou com as duas mãos e ninguém no mundo poderia tirar ele dali naquele momento.

Olhou pra trás e viu toda aquela multidão.

- Mordam-se de inveja seus putos, eu to na frente de todos vocês – pensou – o cara do seu lado sorria e devia pensar a mesma coisa.

Gustavo Campello

quarta-feira, 20 de maio de 2015

...ATÉ MAIS, E OBRIGADO PELAS NOITES DE INSÔNIA!



Pode parecer um texto de modinha, pode parecer um texto pra entrar na onda, mas não é... Eu realmente curtia o David Letterman. Não assistia a seu programa faz anos, já que não tenho televisão em casa desde 2007, mas me lembro que em 2004 até 2007 (quando eu tinha TV a cabo) ele me salvou de inúmeras noites de insônia e era um dos poucos programas que acompanhava na TV já naquela época. Hoje (dia 20 de Maio de 2015) chegou ao fim um programa que estava ao ar por 33 anos na televisão americana e por mais que os brasileiros não tenham sentido nada em sua maioria, me veio uma tristeza difícil de explicar.

Por quê?

Nos meus últimos oito anos de vida tenho vivido a vida sem televisão, não tenho televisão em casa e não tem me feito falta nenhuma. Faço download de filmes da internet e quase não assisto mais séries, fiz a assinatura do Netflix e ainda usufruo o meu mês grátis que não pretendo levar adiante. Quando fiquei sabendo da aposentadoria do David Letterman, não acreditei, achei que era golpe publicitário (o que me faz voltar àqueles anos que acompanhava o programa e me lembro do enorme golpe publicitário da entrevista com a Oprah). Era verdade. David Letterman estava mesmo se aposentando, o que me fez pensar: as duas únicas coisas que realmente me fazem falta da televisão daquela época eram, os programas com o David Letterman e o Aqua Teen que passava no Adult Swin do Cartoon Network.

David Letterman era um apresentador diferente (que por mais que o Jô Soares tenha tentado copiar, nunca chegou aos pés), diferente porque parecia estar se lixando se parecia tosco, se parecia indiferente ou completamente anárquico na maneira de fazer piada. Fazia piadas com republicanos, fazia piada com democratas, fazia piada com qualquer coisa (e quando eu digo fazer piada de uma maneira tosca: não, não é igual ao Gentili), porque por mais toscas que fossem as piadas, TODAS eram inteligentes, todas eram meticulosamente elaboradas. Até as piadas ruins que deixavam o apresentador com cara de idiota no palco com silêncios constrangedores.

A televisão perdeu uma de suas lendas, que trouxe inovação na maneira de se fazer entrevistas, na maneira de encarar o showbusiness e de lidar com o público (lembro de flashes ao vivo de um imigrante que tinha um mercadinho na rua do Ed Sullivan Theater que era simplesmente as melhores partes do programa). Bill Murray foi o primeiro a ser entrevistado e o último, só isso já foi um baita golpe de mestre, com uma grande despedida com direito a tortas na cara e show do Bob Dylan. O maior brilhantismo de David vem com o final, sabendo a hora de parar, sabendo que não tem mais relevância pra uma sociedade que não liga mais pra nada, que só sabe tirar selfies e viver dentro de uma rede social, deixando de lado a realidade. David Letterman não era virtual, era de carne e osso, uma pessoa real e isto é absurdamente estranho pras novas gerações que idolatram uma mídia cada vez mais maquiada.

David Letterman vai deixar um enorme buraco na televisão, mas com a rapidez do mundo atual, um buraco que vai ser preenchido, infelizmente, rápido demais. Para aqueles que acompanharam, nem que seja por um curto período de tempo (como eu), seu programa, fica aquele gostinho de “queria ter assistido mais vezes”. E fica a impressão de que há cada vez menos espaço para programas diferentes e inteligentes na televisão (em qualquer parte do mundo).

David Letterman salvou várias de minhas noites enquanto minha companheira dormia profundamente ao meu lado. Fica aqui meu muito obrigado!

Gustavo Campello

terça-feira, 12 de maio de 2015

A REALIDADE



Você já sentiu como se houvesse algo que não conseguisse perceber?

Como se fosse algo gigantesco que só você não vê? Como se o cisco no seu olho fosse um elefante. A maldita peça de um quebra cabeça que você nunca vai conseguir montar, porque aquela maldita peça é invisível somente para seus olhos.

E se aquela peça invisível não parar de gritar que você é Deus? Que no exato momento da sua morte você vai saber de tudo e entender de tudo.

A união completa com o infinito. (Infinito devia ser uma palavra que obrigatoriamente tinha que começar com a letra maiúscula).

Então você morre e descobre que era perfeito, e a consciência de tudo o que existe estava ao seu alcance o tempo inteiro, mas você não conseguia se conectar com isto porque estava cego.

A morte é o exato momento do apocalipse bíblico, o fim de tudo o que existe e o culpado é você, só você e ninguém mais.

Penso, logo sou Deus, o único Senhor de toda a minha realidade. A percepção é a única realidade do mundo de um único indivíduo.

Gustavo Campello

sábado, 2 de maio de 2015

PROMOÇÃO 5 ANOS 5 LIVROS (NOITES DE ALFACE)



Terceiro livro da promoção de cinco anos do blog, onde em cada mês irei sortear um livro até julho, quando o blog efetivamente faz aniversário. Em maio temos como terceiro livro sorteado NOITES DE ALFACE da escritora Vanessa Barbara que nasceu em São Paulo da dimensão conhecida como Mandaqui, com quem já pude dar cambalhotas em um site sobre catalupos nos idos anos 90. O livro da editora Alfaguara tem 165 páginas, espero que o(a) ganhador(a) goste!

Noites de Alface - Noites de alface é um romance que trata de perda, solidão e das convivências diárias triviais, às quais se pode resumir e encerrar uma vida inteira. Até a inesperada morte de Ada, com quem Otto estava casado há mais de 50 anos, os dois compartilhavam cada detalhe de sua rotina banal: a disputa do pingue-pongue, os cuidados com o jardim, o preparo de couve-flor à milanesa, as longas noites de documentários sobre o reino animal. Agora, a solidão de Otto ocupava uma “casa de gavetas vazias”.

A promoção é fácil, pra participar tem que estar curtindo nossa página no Facebook clicando AQUI!, depois de curtir nossa página no Facebook é só compartilhar publicamente o banner igual ao da foto aí de cima e pronto, você automaticamente está participando do sorteio. Boa Sorte!

domingo, 19 de abril de 2015

SEM CORAÇÃO PRA VOCÊ!



Ele ainda sente alguma coisa porque seu coração foi arrancado há apenas dez minutos. Sente o desespero correndo por todo o seu corpo, sente as lágrimas brotarem de seus olhos, sente saudades daqueles que nunca mais vai ver e sente repulsa por onde se encontra.

“Malditos duendes mecânicos!” – pensa antes de sentir medo por ver que já há vermes brotando de sua pele – “que lugar escuro é aquele?”.

Um trilho de trem logo à frente, do outro lado ele vê os outros sem-coração como ele, andando apáticos pelo lugar. O trem chega, ele tenta entrar, mas o maquinista não deixa.

- Sinto muito, cara – ele diz – mas nada de sem-corações no meu trem!

Os olhos do maquinista sofrem de heterocromia, é a primeira coisa que ele consegue perceber dele, mas é empurrado pra fora antes que possa dar outra boa olhada.

Sente seu peito formigando, sente sede e sente fome.

O desespero diminui como todo o resto. Seus sentimentos já estão abandonando sua alma.

Um duende mecânico passa por perto dele, sente um calafrio, mas já não tão intenso.

- Devolvam meu coração! – ele grita chutando o ser metálico, ninguém vira o rosto para observar a cena, ninguém liga. O duende mecânico leva em consideração o fato do homem ter perdido o coração há pouco tempo.

Um homem ao seu lado come os vermes que brotam de seu antebraço, sente vontade de vomitar.

O trem vai embora sem levar ninguém, quase sempre é assim, mas o homem não sabe e daqui um tempo nem vai perceber o trem chegando mais. O submundo, o subterrâneo, o porão, a dimensão da passagem, o portão, o caminho... Aquele lugar é conhecido por inúmeros nomes, centenas deles. Um lugar que leva a todos os porões de cada casa construída no Edifício. O homem começa a tentar raciocinar que diabos de lugar é aquele, mas sua cabeça já não pensa tão bem.

Enfia a mão no buraco que tem no peito, os dedos passam por onde antes havia um coração. Sente repulsa, mas a sensação é agradável.

Trinta minutos depois de perder o coração o homem já anda em meio a multidão, comendo vermes, sem saber onde está, sem sentir nada, completamente apático, talvez para todo o sempre. Se algum dia um duende mecânico se sentir misericordioso em relação a ele, então talvez ganhe outro coração e tenha uma segunda chance, enquanto isso irá vagar por ali durante uns bons anos.

E o maquinista continuará indo e vindo, levando alguns poucos afortunados, mas nunca trazendo ninguém.

Gustavo Campello

quinta-feira, 2 de abril de 2015

PROMOÇÃO 5 ANOS 5 LIVROS (DIAS DE ROCK AND ROLL)



Segundo livro da promoção de cinco anos do blog, onde em cada mês irei sortear um livro até julho, quando o blog efetivamente faz aniversário. Em abril temos como segundo livro sorteado DIAS DE ROCK AND ROLL do escritor Edmilson Felipe que nasceu em São Paulo, com quem já pude tomar uma cerveja na Vila Madalena. O livro da editora Patuá tem 182 páginas, espero que o(a) ganhador(a) goste!

Dias de Rock and Roll' aciona o universo da contracultura, marcado pela rebeldia, desejo e muitas viagens. Anderson Vick é um espírito livre, protagonista desse romance-roteiro. Sem dinheiro, moradia e emprego fixos, topa qualquer parada para ganhar a vida e viajar. Mas nem tudo acontece como manda o script, pois nessas viagens, o andarilho depara-se com situações inusitadas, marcadas por sexo, fugas, sequestros e 'otras cositas más'. Ironia, humor e rock and roll devem marcar o estilo da narrativa, ambientada num Brasil que precisa ser redescoberto ou, quem sabe, escondido.

A promoção é fácil, pra participar tem que estar curtindo nossa página no Facebook clicando AQUI!, depois de curtir nossa página no Facebook é só compartilhar publicamente o banner igual ao da foto aí de cima e pronto, você automaticamente está participando do sorteio. Boa Sorte!

quinta-feira, 26 de março de 2015

DAVE MATTHEWS BAND



Dave Matthews Band foi a primeira banda internacional daquele segundo sábado do Rock in Rio III. Eles haviam acabado de gravar o álbum Everyday que seria ainda lançado no mês seguinte ao daquele show, porém não tocaram nenhuma música do álbum novo, nenhuma música inédita de presente para o público.

O show teve só oito músicas, mas as músicas eram bem mais incrementadas que nos álbuns com solos de contrabaixo, saxofone... enfim, a parte musical dos caras estavam em um nível bem acima de qualquer banda de rock convencional. Tinha harmônica, melodia, jazz, country, uma mistureba de ritmos e inovações.

Começaram com Two Steps e emendaram com Tripping Billies e mesmo não tendo causado alvoroço, agradou a maioria. Era um show mais pra assistir do que pra pular, o pessoal gingava ao som da música como se estivessem em um festival de jazz. As raízes do rock estavam todas ali, naquele show de uma banda que nem era assim tão conhecida no Brasil naquela época.

Lá pro final do show estavam tocando #41:

I will go in this way
And find my own way out
I won't tell you to be
But It's coming to much more
Me
Come down like ghosts come back
Reeling in you now
Oh, what if they came down crushing?

Quando a música acabou tocaram o que parecia ser o final do show, um cover de All Along The Watchtower, a galera pareceu ter acordado de um transe hipnótico e foi à loucura. Eles saíram do palco.

- Cara – disse Vitor para o Marcel – esse Dave Matthews é a cara do Jim Belushi.

- Hahahahahahahaha – o amigo concordava com ele – realmente, podia trabalhar de dublê.

- Poxa, eu curto o Jim Belushi, porque será que ele anda tão sumido?

- Ele fez uma continuação daquele filme com o pastor alemão recentemente e teve aquela mini série Wild Palms que tu me emprestou e não assisti ainda.

- Essa Wild Palms é do cacete! – Vitor vasculhou na memória mais alguma coisa recente do ator sem sucesso, mal sabiam que naquele mesmo ano James Belushi estrearia uma série para televisão que duraria oito temporadas – lembro que quando era moleque queria ser meio galhofa e cara de pau como ele nos filmes.

- Mas tu é meio galhofa e cara de pau que nem ele nos filmes.

Vitor era? Ficou pensativo e fazendo um rápido retrospecto de vida e viu que era mesmo. Havia atingido um objetivo e nem havia percebido.

Dave Matthews, o sósia do James Belushi, voltou ao palco e terminou o show tocando Ants Marching.

Gustavo Campello

quinta-feira, 19 de março de 2015

ZLATKO



Zlatko come um snack, desses que se acha em qualquer lugar para pegar. Ele não pensa. Tudo o que passa pelo cérebro dele é um fluxo contínuo do coletivo. Ele não é um indivíduo. O membro mais distante de todos os outros do Formigas de Mercúrio. Zlatko faz parte da consciência coletiva, pensa igual todo mundo e vive igual todo mundo. De todos os membros da banda é o que vive no Edifício há mais tempo que qualquer outra pessoa conhecida, já fazia uns mil anos? Talvez um pouco mais ou talvez um pouco menos.

Só está no grupo porque toca baixo como ninguém, o instrumento é a única coisa que difere ele dos despertos e dos seres sem coração que vivem com vermes crescendo em seus braços. O instrumento é uma extensão de seu corpo, ele sente como se sofresse uma simbiose enquanto seus dedos tocam as quatro cordas.

Ele nãos se preocupa com o Deus-Fungo, não se preocupa com os duendes mecânicos, com o Edifício, de onde veio ou para onde vai. Zlatko só quer tocar seu baixo, todo sábado às 10:15pm.

Se um médico tirasse uma radiografia da sua cabeça, o que ele veria?

Cogumelos, cogumelos e cogumelos por toda parte! Deus-Fungo é onipresente em Zlatko. Todos tem aquele medo interno de falar qualquer coisa na frente dele. É um frio na espinha que ninguém sabe explicar. Zlatko não é o Deus-Fungo, mas é um agente de longa data, infectado em todo o seu cérebro. Coitado. Pobre Zlatko.

Faça isso! Faça aquilo! Coma! Viva feliz! Não faça perguntas! Bom menino! Sirva de alimento ao grande Deus-Fungo que usa seu cérebro como motel de vez em quando.

Zlatko é um pobre coitado, faz parte da massa, sua vida nunca vai mudar. Quando o Formigas de Mercúrio não existir mais ele vai continuar por aí, em outra banda, em uma carreira solo. Quem sabe? Remando junto com a galera, sempre em favor da correnteza.

Ele é carismático, é o cara que pega as garotas. Tem pose de guitarrista, todos os fãs do Formigas de Mercúrio lembram dele antes de Ferzan. Coisa estranha. O guitarrista costuma ser lembrado antes, não? Competir com Zlatko é difícil, é carismático mesmo sento calvo. Não me pergunte o que carismático tem haver com calvície. Ferzan raspa a cabeça porque quer, ou não? Zlatko deixa os cabelos do lado, que se dane o aeroporto de mosquito em cima!

Foda-se o Deus-Fungo! Foda-se o duendes mecânicos! Zlatko quer se divertir! Sem pensar, sem se comprometer! Nada vai mudar... Nunca!

Gustavo Campello

quarta-feira, 11 de março de 2015

EU FUI SPOCK



Dedicado a Leonard Nimoy

E morreu uma lenda, sempre achei uma tremenda idiotice essas pessoas que se apegam a ídolos e se sentem parentes e pessoas próximas deles, choram quando morrem e coisa e tal, daí o Lou Reed morreu e entendi mais ou menos tudo isso.

O fato é que eu era uma criança esquisita, viciada nas séries Os Invasores e Jornada nas Estrelas enquanto todo mundo ia a festinhas e só pensava em pegar garotas. A verdade é que aos 13 anos uma garota destruiu meu coração, depois de uma semana de muita coisa rolando em um quarto de hotel em uma excursão com meus avós, não estava preparado quando ela me deu um pé na bunda, deve ter sido ainda pior do que minha memória me permite lembrar, porque mesmo depois de vinte anos ainda lembro o nome inteiro e do endereço completo dela.

Então larguei tudo e virei o Spock, isso mesmo, eu fui o Spock. 14 anos de idade, sem sentimentos, sem laços sentimentais e olhando tudo pelo lado lógico. Spock era o meu ideal, um objetivo a ser alcançado, um muro que me protegia do que tinha lá fora. Iniciei meu Kolinahr e minha vida nunca mais foi a mesma. Perdi minha adolescência, a verdade é essa, mas não é qualquer um que pode dizer que já foi o Spock. Arrependimentos? Com certeza, mas a vida segue e carrego o Spock como um estigma de anos grudado no meu ser.

Quando recebi a notícia de que ele havia morrido foi meio que um choque, era como se tivesse morrido uma espécie de tutor, algo assim. Chorar? Seria ilógico. Pra que diabos eu treinei durante anos pra nem sequer sentir cócegas e chorar agora? A verdade é que eu não sou mais o Spock, depois de muita terapia é claro, mas é uma parte de mim, eu gostando ou não.

Assisti dois capítulos da série clássica neste dia e percebi que o Spock não havia morrido, quem morreu foi um ator chamado Leonard Nimoy, que teve uma enorme importância na minha vida e de milhares de outras pessoas, o Spock continua vivinho da silva em séries, livros, quadrinhos e filmes.

Que a memória deste ator possa continuar tendo uma vida longa e próspera dentro de nossos corações (independente do quanto tentamos fingir que não sentimos nada).

Gustavo Campello