domingo, 30 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O NADA



Dedicado a Felix Baumgartner

O que é o nada?

Ele existe?

A própria concepção do nada chega a ser absurda.

Antes de Deus existia o nada? Existia o “antes de Deus”? Como era o nada antes de Deus? Escuro? Claro? Preto? Branco? O nada pode ter cor?

Pra mim é fácil demais acreditar em vida após a morte, porque imaginar que vou virar um “nada” é tão estranho, tão estúpido e tão incoerente que não faz nenhum sentido.

Como pode ser possível que tudo o que eu penso, tudo o que eu sinto, tudo o que eu sou simplesmente deixe de existir?

Neste momento em que estou completamente sozinho neste enorme espaço silencioso, tento parar de pensar. Pensar em nada. Mas percebo que é impossível.

Mesmo quando tento pensar em nada, começo a pensar no que é o nada, logo acabo não conseguindo pensar em nada. É um paradoxo mental, quase uma armadilha cerebral.

Quanto tentamos não pensar em nada, acabamos pensando no que nos preocupa naquele exato momento. Neste momento, por exemplo, eu penso que devo ter no máximo duas horas de oxigênio. Duas horas devem passar bem rápido agora.

Fiquem em uma cama de hospital durante três semanas. Vai parecer que você está ali deitado por três meses inteiro. Um minuto parece pouco tempo, mas segurem com o braço estendido uma sacola com duas garrafas de dois litros de coca cola dentro por um minuto. Um minuto vai parecer uma eternidade.

O tempo é relativo.

Mas o que não é relativo?
             
O próprio nada pode ser relativo de uma pessoa para outra.
           
Claro ou escuro. Preto ou branco. Sólido ou liquido.

Dizem que os peixes tem uma memória de alguns minutos. Viver assim deve ser o mais próximo do nada. O nada é o esquecimento. Não saber quem você é. Onde você está. O que você quer. Quais seus sonhos. Quem você ama...
           
O mais próximo que chegaria da concepção do nada é se eu fosse um peixe.
           
Um peixe nadando num espaço de divagações que logo seriam esquecidas.
            
Minhas divagações logo vão ser esquecidas... Mas duraram mais do que alguns minutos. Estou longe de entender o nada.
             
Eu sei quem sou, um astronauta. Onde estou, no espaço fora do meu planeta Terra. O que eu quero, que é viver. Conheço meus sonhos, poder dizer para as pessoas o quanto elas significam para mim e o quanto elas foram importantes até agora. Quem eu amo... Agora eu entendo...
            
Eu amo a todos.
             
Todos eles lá embaixo.
           
Cada um deles, sem distinção.

Gustavo Campello

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE SUICÍDIO



Suicídio sempre foi um pensamento constante na minha vida. Medo de envelhecer. Medo de doenças. Medo de viver demais e ver o quanto tudo é inútil e vazio.

Sempre encarei a morte de frente, acho que uma pessoa não poderia se tornar um astronauta se tivesse medo de morrer. Apesar de todas as precauções, ainda é uma profissão de risco. Bombeiros, policiais, soldados... São todos suicidas enrustidos. A pessoa não escolhe uma profissão onde corre o risco de levar um tiro ou morrer queimado por puro altruísmo. Não existem heróis que não sejam suicidas.

Quando eu era adolescente ficava horas pensando em como eu faria. Pensei em remar até uma área cheia de tubarões e fazer um corte na mão. A água do mar se misturando ao meu sangue iria atrair as feras para o banquete final. Faria um furo no barco e estouraria os miolos com uma arma. Rápido e indolor. O barco afundaria aos poucos, os tubarões me comeriam já morto. Nenhum corpo para ser enterrado. Simplesmente sumiria para sempre.

Depois que perdi um cachorro que fugiu e nunca mais o encontrei desisti desta idéia. É muito ruim não ter certeza que alguém que você ama muito está vivo ou morto. É preciso um corpo para enterrar.

O mar foi minha escolha por ser quase infinito.

Irônico.

Jamais imaginaria que o espaço sideral seria o meu túmulo.

Será que há algo mais infinito do que o espaço?

Será que Deus consegue passar esta sensação com sua presença?

Agora que estou vagando no espaço e devo morrer logo por falta de oxigênio, suicídio é algo que não para de passar pela minha cabeça. Algumas pessoas dizem que é um pecado mortal. Dizem que vou para o inferno. Suicídio é mal visto pelas pessoas, você não tem o direito de tirar a própria vida.

Por quê?

O suicida não é uma pessoa com mais fé? Ninguém se mata pensando que não há algo melhor do outro lado. Não seria o suicida o único a dar um passo preciso e sólido rumo a eternidade? Não seria recebido com salva de palmas por ter mais certeza do além vida do que as pessoas que se apegam a vida como urubus atracados a carniça? Não seríamos pobres de espírito quando simplesmente nos recusamos a morrer e lutamos sem motivo nenhum contra algo que não podemos vencer?

A morte é inevitável. Nada de novo nisso.

Se eu decidir abrir o capacete e simplesmente morrer alguns minutos antes do sofrimento vir me pegar me recuso a me sentir culpado. Não vou entrar na eternidade com a cabeça baixa por ter decidido tomar minha própria vida. É preciso muito culhões pra isto. E quem diabos pode julgar a minha decisão? Quantas pessoas morreram no espaço como eu? Quantas pessoas tiveram a vida de todos os suicidas lá de baixo?

As pessoas julgam e é só isto o que elas sabem fazer.

As vezes o sofrimento é grande demais. As vezes a desesperança é grande demais. As vezes a vontade de viver é pequena demais. E quem somos nós pra julgar?

Acho que já decidi meu fim. Acho que o decidi há muito tempo atrás.

Gustavo Campello

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE ENVELHECER



Existem pessoas que querem envelhecer e existem pessoas que preferem morrer mais jovens. Eu sempre pertenci ao segundo grupo. 

Envelhecer sempre foi o meu maior medo.

Minha avó ainda é viva, tem mais de noventa anos e está há quase dez vegetando em uma cama. Alzheimer e Parkinson. Alimenta-se por um tubo enfiado no seu nariz. Pick e Huntington. Ela era a pessoa mais independente que conheci, jamais gostaria de estar viva desta maneira. Lewy e Wernicke.

Sempre vi minhas tias e tios avós morrerem perto dos cem anos, todos ficaram anos em uma cama vegetando. Decidi que não morreria assim, enfiaria uma arma na minha cabeça e a explodiria se precisasse assim que fosse diagnosticado com alguma dessas doenças. Conheci Hemingway anos depois de tomar esta decisão e tudo ficou decidido ainda. Seria teatral, épico e definitivo.

As pessoas tentavam me convencer de que ser velho é legal. Você fica mais experiente, uma outra visão de mundo, poder enxergar mudanças ocorrendo bem na frente dos seus olhos e blá blá blá.

Se o mundo mudou no ultimo século eu realmente não acredito que foi pra melhor.

As pessoas ficaram mal educadas, mais burras e supérfluas. Pra que ficar velho pra enxergar uma merda dessas? Dispenso!

Apesar de que agora nem tenho mais escolha. 

Se for pra morrer hoje pra não ficar velho igual a minha avó... Tudo bem!

A única curiosidade é a de saber como iria ficar o meu rosto com uns oitenta anos. Onde eu teria mais rugas? Perderia todo o cabelo? Usaria dentadura ou teria ainda alguns dentes remanescentes? Meu corpo ficaria todo flácido ou ainda conseguiria manter algum resquício de dignidade?

Penso nas pessoas envelhecendo lá embaixo que se importam comigo, elas vão sofrer muito porque não vão ter um corpo para enterrar. Lembro quando um cachorro do qual gostava muito fugiu e nunca pude ter certeza de que ele estava vivo ou morto. Foi uma angustia viver com esta duvida até hoje.

O mais triste da vida é que nos acostumamos a viver sem as pessoas que amamos.

Pessoas entram na nossa vida, ficam um tempo e vão embora cedo ou tarde. Às vezes seguem outros caminhos ou simplesmente morrem. Todas elas. Sem exceção.

- Não vou ficar velho!

De certo modo é um alivio poder falar isto em voz alta. Penso em todas as coisas que vou perder daqui para frente, mas também penso em todas as coisas que serei poupado daqui para frente. Colocando em uma balança é difícil saber qual pesa mais.

Diziam que eu era muito depressivo por dizer que a pior parte da vida é o fato que viver cansa. Eu estava cansado de acordar todos os dias, cansado de pensar nas mesmas coisas, fazer as mesmas coisas e quando fazia diferente tudo me cansava também.

Ótimo, agora estou pensando sobre mim no passado. Como se já estivesse morto.

Gustavo Campello

domingo, 16 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A CULPA



A culpa é como uma parede de concreto que carregamos em nossas costas, tendo o cuidado para nos mantermos equilibrados com o peso constante que tende a tentar nos derrubar a todo o momento.

A culpa é algo que criamos em nossas cabeças?

Ela existe?

Podemos ser culpados por seguir nossos instintos e sermos fieis a algo que está dentro de nós, mesmo sabendo que é errado?

Devemos nos sentir culpados pelo que fazemos aos outros somente?

E o que fazemos a nós?

A culpa é um dos sentimentos mais abstratos que rodeiam a história humana. Nunca consegui entendê-la, do porque sentimos tal coisa, mas ela esteve presente em todos os momentos da minha vida desde que me conheço por gente.

Sinto-me culpado pela fome do mundo, por pessoas que são obrigadas a desistirem de seus sonhos pela sobrevivência, sou culpado pela morte prematura de John Lennon e por guerras inteiras ao redor do mundo. É um complexo esquisito este que sinto. Um psicólogo me disse certa vez que sou empata, que consigo sentir demais o que as pessoas ao meu redor sentem. Consigo facilmente me colocar no lugar do outro. Se algum louco entra atirando em uma escola infantil, consigo sentir o sofrimento dos familiares das crianças mortas como se fossem meus filhos e filhas. Posso ficar dias deitado na cama pensando como se fosse o meu dedo em todos os gatilhos e como se fosse minha avareza que impede crianças de comerem na África. Sinto-me parte de uma sociedade corrompida desde seus primórdios por culpa minha.

É como se Deus fizesse tudo para me ensinar uma lição. Para mim e mais ninguém. Então me sinto culpado por me sentir tão importante e os dados são lançados.

E quando tudo parece perdido vem o ápice da paranóia onde acredito que na verdade Deus sou eu, que tenho o poder pra impedir tudo o que é de ruim no mundo e na verdade não levanto um dedo.

“Mas eu não sei como impedir isto” – tento dizer para mim mesmo – “Mas eu tenho o poder para fazê-lo!”

Gostaria de pedir desculpas para todas as pessoas que conviveram comigo, porém para algumas nem sei por que gostaria de pedir desculpas, apenas gostaria.

“Me desculpe, meu filho” – eu digo para a criança abortada que não chegou a nascer – “me desculpe por matar você. Logo estaremos juntos e poderá gritar comigo pela vida que lhe tomei. Quando eu disse que não queria ver a cara de sua mãe para o resto da vida, era mentira, tive apenas medo. Sorte dela ter se afastado. Eu te matei e somente eu devo carregar esta culpa”.

Na mitologia Jasão nunca conseguiu se vingar de Medeia que assassinara seus filhos para se vingar do amado que lhe trocou por outra, talvez ele não tenha se vingado devido a culpa que sentia de ter abandonado uma mulher que havia feito tanto por ele. Fui o negligente Jasão e a assassina Media. Sou os dois ao mesmo tempo.

“Eu nem mesmo deixei-me o corpo de meu filho; não o levei comigo para ser enterrado. E para mim mesmo, que te fizeste todo o mal, eu profetizo uma maldição final. Morrerei no espaço... Sozinho”.

Gustavo Campello

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE CONSEQUÊNCIAS



Tudo que vai volta!

Todas as nossas escolhas refletem na vida das outras pessoas como ondas de uma pedra atirada em um lago. Essas ondas reverberam infinitamente durante toda a nossa existência.

Lembro-me quando, na casa de meus avós, balançava uma vara de bambu para tentar atrair morcegos. Queria derrubar um para provar que conseguia. Devia ter uns onze anos. Peguei um em cheio, rodopiou pelo ar e caiu na minha frente. O morcego tremia machucado. Me assustei e chamei meu avô. Ele me fez entender que eu avia machucado aquele animal que era mais fraco que eu e que agora ele era minha responsabilidade. Tive que pegá-lo e colocá-lo pendurado em uma árvore de sapoti que havia na casa dele. Esta árvore era uma das razões de haver tantos morcegos por ali. Eles adoravam esta fruta.

Durante uns três dias o morcego ficou ali pendurado, sem poder voltar para sua toca. Alimentava-se das frutas com dificuldade e eu ia conferir como ele estava a cada par de horas. Quando acordei no quarto dia ele não estava mais ali e senti saudades dele. Apeguei-me a ele. Nunca mais balancei um bambu para acertar morcegos.

“Você é responsável por quem cativas”

Frase célebre de Antoine de Saint-Exupéry.

Ela explica muita coisa sobre conseqüências. Principalmente quando nossos atos afetam terceiros, ou seja, a maioria deles.

Não existe cena mais triste pra mim do que lembrar-me da Raposa, interpretada por Gene Wilder, no campo de trigo com o olhar distante esperando o Pequeno Príncipe. Pra mim é a imagem mais concreta da tristeza.

Nunca quis machucar ninguém, mas na vida, isto é inevitável.

Muitas vezes evitei criar laços afetivos com pessoas com medo do que eu podia fazer a elas. Preferia me machucar. Me isolar. Me afastar.

Muitas vezes quando eu resolvia me reconectar e me aproximar era a outra pessoa que me machucava... E esta é a história da existência humana.

Eu acho que quando tomamos uma decisão, devemos estar preparados pelas conseqüências que ela trará. Estou morrendo no espaço, mas a decisão de ser um astronauta foi minha. Só minha. Não vou reclamar das conseqüências que isto acarretou, mesmo que tire a minha vida. Quando uma pessoa bebe, ela não deve reclamar quando seu fígado começa a parar de funcionar, isto seria uma atitude imbecil.

Não tem nada pior que fumantes reclamando de câncer no pulmão!

SEJAM COERENTES ATÉ O FINAL!

Eu tento ser coerente até o final.

Reclamar das consequências não leva a lugar nenhum. Quando se é possível corrigir algo que deu errado, então corrija! Não coloque a culpa em ninguém.

Desculpem-me por morrer no espaço, seja lá quem for sofrer com isto.

Só tenham em mente que eu nunca me arrependi por ter acertado um morcego com um bambu. Eu teria me arrependido se tivesse deixado ele lá no chão frio para morrer sozinho.

Gustavo Campello

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O CANSAÇO



Em Memória de Oscar Niemeyer

As minhas costas doem. Meus olhos estão pesados. Parece que tenho mais de cem anos e sinto meus ossos esfarelarem aos poucos. É a posição. O cansaço de estar há horas vagando sem rumo no meu traje de astronauta neste espaço infinito.

Queria que a morte fosse mais simples. Que fosse rápida e chegasse de um minuto para o outro. Seria mais fácil.

Nada na vida é fácil.

Tudo vem do jeito mais difícil, sempre.

O cansaço é quando todas as suas forças te abandonam. Quando seu corpo não funciona mais e sua mente luta para se manter alerta. É uma eterna luta entre cérebro e corpo. Meu cérebro ainda está a mil por hora, trabalhando o tempo todo, mas meu corpo sofre toda a tensão, dores, desconfortos e fadiga.

Cansaço é quando seu corpo quer entregar os pontos e seu cérebro não deixa.

Queria poder dormir, tentar descansar. Muitas pessoas gostariam de morrer dormindo, eu não, tenho pânico disto. Fico imaginando eu morto achando que estou dormindo ou algo assim, meu espírito ainda achar que está vivo. Quero encarar a morte acordado, de frente.

Preferia estar descansado pra tudo isto, queria só tirar um cochilo de quinze minutos, nada demais, só para recuperar minhas forças.

Vagar pelo espaço sabendo que você vai morrer é como aquelas noites intermináveis que você precisa dormir para acordar cedo no dia seguinte, mas os pensamentos não deixam que você pegue no sono. Você vira para um lado, vira para o outro e seu corpo não acha uma posição. Lembra de memórias do passado, imagina como teria sido se tivesse tomado outras escolhas e fica suando no travesseiro com medo de não conseguir dormir ou de não conseguir acordar no horário.

Tive uma noite dessas na estação espacial. Fiquei tentando pegar no sono e fiquei a imaginar uma enorme nave espacial coletando animais como na arca de Noé. Tentava imaginar um animal com a letra A, outro com a letra B e assim por diante. Tentei pegar no sono imaginando os animais sendo recolhidos, mas quando travei na letra N fiquei mais inquieto ainda e foi aí que desisti de dormir e fiquei a lembrar de Rachel.

Lembrei dos seus olhos grandes e do seu sorriso, ela tem um sorriso capaz de matar alguém. Tem um quê de sedução e um quê de serial killer. E em cinco minutos estava dormindo como um bebê.

É assim na vida da gente também, algumas soluções só aparecem depois que desistimos de procurá-las.

Talvez o cansaço só vá embora quando parar de pensar nele, talvez a morte só tenha coragem de vir aqui me encarar depois que parar de pensar nela. Talvez ela seja tímida, não consiga se aproximar com alguém procurando por ela. A morte deve ser uma mulher... Com olhos grandes e um sorriso capaz de matar alguém... Com um quê de sedução e um quê de serial killer.

Sim. A morte definitivamente é uma mulher.

Gustavo Campello

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE ALUCINAÇÕES



Dedicado a Ron Fugelseth

Minha mente está divagando, entre a realidade e a irrealidade. Tento focar no aqui e no agora, mas já perdi o foco.

Olho para o planeta Terra e algo está vindo em minha direção de lá, penso estar imaginando coisa, mas não, algo realmente está vindo de lá em minha direção. Parece pequeno, mas vai aumentando de tamanho conforme se aproxima mais e mais. É um trem, ou melhor, é um trem com um enorme rosto na frente. É a porra de um trem vivo!

- Está perdido? – pergunta o trem se aproximando de mim.

- Vamos dizer que sim – eu digo – quem diabos é você?

- Eu sou Stanley – diz ele – um trem que viaja pelo espaço.

- Você ta de sacanagem!

- Não – diz Stanley com a maior naturalidade possível – viajo por aí, entre os planetas.

- Sério – eu digo – pode me dar uma carona até a Terra?

- Claro – ele diz – sobe aí!

- Eu entro no Stanley, não tem nenhum maquinista.

Ele começa a viajar muito rápido, as estrelas começam a virar riscos luminosos diante de mim e eu percebo que ele está indo na direção oposta do planeta Terra. Quando finalmente penso que posso estar salvo, percebo que ele está me afastando cada vez mais de onde eu quero estar.

- Onde você quer estar e onde você precisa estar são lugares diferentes!

Eu acordo do meu transe e estou cercado de fumaça, alguém está fumando maconha e não consigo respirar direito.

Spock está fumando um beck!

- A lógica não funciona aqui – ele diz – você precisa esquecer a lógica e deixar o desespero tomar conta de você.

- Por quê? – não consigo entender mais onde estou.

- Se não se entregar aos seus sentimentos eles vão consumir sua alma ao ponto de não entender mais quem você é e o que você quer.

- Eu quero viver!

- Viver é relativo – ele para, traga a fumaça e respira fundo – você pode viver e estar morto, mas pode morrer e continuar vivo, depende do ponto de vista.

- O gato de Schrödinger?

- Não seja tolo – ele levanta a sobrancelha – o gato de Schrödinger não é a resposta, o que importa é o aqui e o agora.

Volto a mim com as palavras do Spock.

“O que importa é o aqui e o agora”

Consigo retomar minha consciência, quase perdi o controle sobre minhas faculdades mentais. Poderia ter terminado minha jornada na loucura, mas preferi estar são.

Tenho que terminar com tudo são, tenho que estar consciente nos meus momentos finais. Ainda não sei porque, mas preciso morrer com minha mente viva.

Gustavo Campello

domingo, 25 de novembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A EXCITAÇÃO



Começo a pensar em sexo, tento pensar em outra coisa, mas a única coisa que vem na minha mente é o corpo de uma mulher. Recordo-me de cada corpo que toquei, das perfeições e imperfeições dos corpos delas.

Tento pensar em outra coisa desesperadamente.

Pensar nelas é uma tortura.

Lembrar deste tipo de coisa sabendo que você vai morrer é a pior parte do processo.

Seios grandes, médios e pequenos.

Estou suando, levo minhas mãos para enxugar minha testa e só então me dou conta que estou com o capacete ainda com o vidro semi embaçado.

Tento me masturbar, mas não consigo. A roupa de astronauta é muito complexa e tem um tubo no meu pinto para que eu possa mijar durante missões muito demoradas no espaço. Nem isto eu posso fazer para aliviar meus pensamentos.

Grito, acho que pela primeira vez, grito com toda a força que consigo. Sinto minha garganta irritar e o gosto de sangue lá no fundo. Tento bater minha cabeça contra o capacete em vão.

Somos todos animais primitivos, seguindo nossos instintos primários até as últimas conseqüências. Destruímos toda uma vida por um rabo de saia. Pisamos na bola e magoamos pessoas queridas por sentimentos que não temos controle.

Quando era adolescente a internet não existia ainda, conseguir uma pornografia era a coisa mais difícil do mundo para um jovem de dezesseis anos. Conseguíamos uma revista ali, outra aqui. Um vídeo então, nem me fale, era raridade. Hoje você liga o computador, se conecta a rede e assiste qualquer putaria com a maior facilidade possível. Estou ficando velho. Lembro quando a internet surgiu, pra se conseguir abrir uma foto com uma resolução mais ou menos você tinha que esperar mais ou menos dez minutos. Quando a conexão não caía durante o processo.

A pornografia se tornou uma potência com a internet e toda a graça da coisa foi-se embora.

A tecnologia conseguiu destruir até a putaria.

Somos todos um bando de idiotas.

Lembro de uma vez que meu pai me pegou vendo uma Playboy. Fechou a porta do quarto como se nada tivesse acontecido. Morri de vergonha. Não sabia onde enfiar a minha cara. Evitei meu pai por dias a fio até que a história ficasse esquecida.

Tento não pensar mais sobre este assunto, tento imaginar velhas desdentadas e enrugadas. Sinto o suor escorrendo por todo o meu corpo e fico a pensar se estou começando a ter alguma crise de pânico.

Não seria tão absurdo eu ter uma crise de pânico nesta situação.

Na verdade é estranho que eu não tenha tido uma crise de pânico até agora.

Vou morrer e meu corpo começa a tremer compulsoriamente.

Gustavo Campello

terça-feira, 20 de novembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O DESEJO



Se eu tivesse um desejo agora seria poder voltar no tempo e poder conversar comigo mesmo há uns quinze anos atrás. Me preveniria sobre vários assuntos.

- Não saia com ela – eu diria – ela vai te fazer sofrer.

- Não faça aquilo com ela – eu diria – vai machucar tanto você como ela e vocês não merecem isto.

- Pare de se preocupar demais com este tipo de coisa idiota, você vai chegar lá na frente e perceber que só perdeu tempo pensando nisto.

- Ela vai odiar este presente de aniversário e vai trocar por duas calças nesta mesma loja dois dias depois.

- Você acha que está sozinho agora? – então eu daria um sorriso sarcástico – Espere pra ver daqui a alguns anos...

- Prender cabo de segurança 1, soltar cabo de segurança 2 – eu gritaria em meu próprio ouvido – Nunca se esqueça disto, isto é o mais importante de tudo.

Sim, eu gostaria de poder me avisar sobre algumas coisas, seria este o meu último desejo, viajar no tempo. Não estaria morrendo agora, porque eu teria tomado o máximo de cuidado ao prender o cabo de segurança 1 e só então soltar o cabo de segurança 2. Teria tomado cuidado porque teria me alertado sobre o acidente, poderia viver mais.

“Burro! Burro! Burro!”

De acordo com Schrödinger eu posso estar morto e vivo ao mesmo tempo agora, posso ser um paradoxo, pois ninguém no universo sabe qual minha real condição.

Sou o gato dentro da caixa. Vivo e morto. Morto e vivo ao mesmo tempo.

Sinto-me como um ser vivo, divago sobre minha vida e sobre os assuntos importantes que fizeram parte dela, penso logo existo.

Permaneço inerte como um morto, nada mais que eu fizer importa. Pensar, falar ou ouvir já não fazem diferença nenhuma, não interfiro em nada para o universo.

Talvez eu esteja vivo em outro universo. Não me distraí com os cabos de segurança em uma realidade paralela e estou a salvo na estação espacial. Vou voltar e viver minha vida. O gato de Schrödinger divide o universo em duas possibilidades e o universo continua existindo com essas duas possibilidades diferentes. O gato está vivo em um universo e o gato está morto em outro.

Eu vou sobreviver em outro universo e morrer neste, talvez o segredo da vida seja exatamente este. Vivemos nossa vida por completo, cada escolha que fazemos nos permite dividir o universo e vivenciarmos nossas vidas com as duas escolhas possíveis. Então quando morrermos em todos os universos paralelos nossa consciência se junta em uma só e saberemos quais foram as conseqüências de cada escolha.

Morrerei agora, mas continuo vivo. Quando todos os meus “eus” realmente estiverem mortos saberei como foi morrer no espaço ou ficar velho com filhos.

Gustavo Campello

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O CONFORTO



Esta roupa de astronauta está começando a me incomodar, estou apertado, sorte que a roupa de astronauta tem um compartimento pra se mijar e continuar seco. Não ia gostar de morrer todo mijado. Uma coceira na nuca cresce, eu tento mexer a minha cabeça e empurro para trás pra tentar fazer a nuca se esfregar na vedação entre o capacete e a roupa.

Não consigo coçar a nuca direito, tento pensar em outra coisa.

Gostaria de poder usar um banheiro pela última vez.

Tento me mexer um pouco, mas a roupa restringe os meus movimentos. Tento me esticar, faz um bom tempo já que estou vagando pelo espaço sem me mexer. Minha perna já está formigando e meu pescoço está tenso demais. Puxo os meus ombros para trás, isto alivia um pouco.

A cabeça não vai para trás, o capacete não deixa. Posso apenas virar o pescoço para a esquerda e para a direita. Não é o suficiente para aliviar o desconforto.

Tem pessoas que sentem conforto ao ficarem em casa, deitados em uma boa cama ou numa poltrona, outros preferem ficar boiando em uma piscina em um dia de sol. Eu gostava de mato, acampar e olhar para o céu estrelado de noite. Naquela época achava que o céu visto do meio de uma floresta era o mais estrelado possível, mas descobri que fora da atmosfera não existe nem comparação.

Deitava em alguma pedra ou no chão forrado de folhas e ficava horas a meditar sobre as coisas. Para mim isto era conforto. Não havia barraca, gostava de ficar ao sereno e sentir o ar gelado entrar nos pulmões. O barulho das folhas balançando, grilos e cigarras cantando, o fogo da fogueira estalando a madeira seca e o som intermitente de algum riacho bem ao fundo.

Na manhã seguinte se podia pescar no riacho, limpar o peixe e fazer na hora com a fogueira ainda acesa da noite anterior. Sempre achei que devia ter nascido há tempos atrás, em uma época mais simples. Sou um homem vivendo no seu tempo errado.

Minha irmã dizia que eu devia ser a reencarnação de algum homem do mato, mas não sei se acredito em reencarnação. Se existe espero que a gente reencarne do futuro pro passado, não quero ir mais pra frente. Gostaria de voltar ao planeta em uma época mais simples, pra trás. Quem sabe?

A única coisa ruim do mato são as moscas, se houvesse uma mosca no meu capacete já havia enlouquecido. Teria tirado ele e morrido sem oxigênio só pra não ter que ficar agüentando aquele zumbido no ouvido ou sentir aquela mistura de patas finas em meio ao suor.

Odeio moscas.

Gostaria de sentir o conforto de um abraço pela última vez.

O conforto da paz.

Nunca senti paz com um abraço, sempre me senti inseguro em todos eles. A paz é o sentimento de completude. Só senti a paz no meio do mato e talvez agora, aqui, morrendo no espaço em meio ao nada.

Apesar de tudo, da morte espreitando cada vez mais, da solidão, do desconforto e do desespero... Sinto-me completo, em paz.

Não é estranho?

Gustavo Campello

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



1º COLOCADO


BANDA: TOM ZÉ
ÁLBUM: TODOS OS OLHOS
ANO: 1973
MÚSICA PREFERIDA: COMPLEXO DE ÉPICO


MEDALHA DE OURO PRO TOM ZÉ!

1973 ficou com Prata e Ouro (Só me toquei agora).... que ano!

Além da capa bizarra e cheia de histórias e controvérsias (Sim, é um CU com uma bolinha de gude enfiada) o álbum é incrível musicalmente. Brigitte Bardot é uma música engraçadissíma e o jeito que o Tom Zé canta meio que falando deixa a sonoridade de um jeito ímpar. Brigitte Bardot já estava ficando velha em 1973... Imagina agora.

Augusta, Angélica e Consolação é uma das músicas mais famosas do compositor e está presente neste álbum também.


TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



2º COLOCADO

BANDA: RAUL SEIXAS
ÁLBUM: KRIG-HA, BANDOLO!
ANO: 1973
MÚSICA PREFERIDA: OURO DE TOLO


MEDALHA DE PRATA PRO RAUL!

Ele tinha que estar aqui no pódio.... É difícil pra escolher um melhor álbum, fiquei na dúvida entre este e o Gitá. Este ganhou porque tem 3 músicas que pra mim são muito fodas, Ouro de Tolo, Al Capone e Metamorfose Ambulante.

Raul é daqueles compositores que tem MUITA coisa boa e muita coisa dispensável, portanto uma coletânea é uma ótima idéia pra quem está começando a ouvir, mas acho que nenhuma coletânea faz jus ao cantor, sempre falta alguma coisa.

Quem nunca gritou?
TOCA RAUL!!!!
Eu pago esse mico sempre!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



3º COLOCADO

BANDA: WANDER WILDNER
ÁLBUM: BALADAS SANGRENTAS
ANO: 1996
MÚSICA PREFERIDA: BEBENDO VINHO


MEDALHA DE BRONZE PARA WANDER WILDNER...

Fiquei pensando se colocava um álbum dos Replicantes ou do Wander Wildner aqui.... bem, pra ser honesto, escutei muito mais a carreira solo do Wander na minha vida do que o Replicantes, então nada mais justo que colocar um álbum solo dele.... Fui em muito show do cara e teve um memorável de encerramento de uma casa de show em Campinas que foi demais... onde o E.T. do Muzzarelas terminou o show de cueca em cima de uma caixa de som.

Outra coisa difícil foi pensar qual álbum dele colocar aqui.... Afinal eu gosto de TODOS quase que igualmente... Foi Foda! (Coloquei então o primeiro que marca a transição do Replicantes pra carreira solo). O Cara é Foda! ESCUTE!

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



4º COLOCADO

BANDA: ENGENHEIROS DO HAWAII
ÁLBUM: VÁRIAS VARIÁVEIS
ANO: 1991
MÚSICA PREFERIDA: PIANO BAR


Este pode ser o álbum com a capa mais tosca do rock nacional de todos os tempos. Ok, admito! Mas musicalmente eu adoro ele! O mais engraçado é que eu não tenho este álbum, foi roubado há vários anos atrás..... Preciso comprar outro.

Engenheiros do Hawaii foi a banda que mais marcou minha adolescência, culpa do meu finado primo (Que Deus o tenha). Íamos em vários shows, entrávamos no camarim da banda e o Humberto já chegou a dizer pra mim que eu era o único cara que ele conhecia que fazia aniversário no mesmo dia que ele. Bons tempos, sinto muita saudades dessa época.

Lembro de uma história engraçada. A banda ia fazer um show em Sorocaba e eles não sabiam chegar ao local do show, ligaram pro meu primo, pegaram ele na casa dele e foram com ele de guia pro local.

Destaque para as músicas Ando Só e Muros e Grades.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



5º COLOCADO

BANDA: LEGIÃO URBANA
ÁLBUM: DOIS
ANO: 1986
MÚSICA PREFERIDA: TEMPO PERDIDO


1986 foi realmente O ANO pro Rock Nacional. Proporcionou nosso 5º e 6º colocado.

Eu tinha este álbum em vinil desde quando era muito pequeno. Sempre ouvi ele e portando está aí entre os cinco melhores álbuns nacionais de todos os tempos pra mim.

Renato Russo podia ser um chato, chiliquento e metido, mas ele podia, porque sabia fazer música muito bem.

Nem tem muito o que falar deste álbum, pra mim ele é nostalgico, com cheiro de infância e sempre atual. Até hoje ligamos o rádio e ouvimos Eduardo e Mônica como se fosse a primeira vez.

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



6º COLOCADO

BANDA: TITÃS
ÁLBUM: CABEÇA DINOSSAURO
ANO: 1986
MÚSICA PREFERIDA: POLÍCIA


Algumas pessoas vão me xingar porque este álbum não está mais pra cima... Mas como o título do POST já diz, é minha opinião!

Este é um dos álbuns mais importantes pro rock nacional, na época em que o Titãs era uma das melhores bandas do país e não esta coisa POP que virou. Infelizmente os Titãs deviam ter se aposentado faz tempo, porém isto não tira o mérito que a banda merece.

O álbum mostra a cara de contracultura que eles tinham na época, letras fortes e pesadas, som punk e violento.

Se você nunca ouviu este álbum não deve ser deste país. Tive sorte de assistir um show desta banda quando ainda valia a pena, apesar que recentemente a turnê de 25 anos deste álbum parece ter colocado a banda de volta de onde nunca deveria ter saído.


domingo, 11 de novembro de 2012

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



7º COLOCADO

BANDA: CAMISA DE VÊNUS
ÁLBUM: CORRENDO O RISCO
ANO: 1986
MÚSICA PREFERIDA: SIMCA CHAMBORD


Taí uma das melhores bandas que os anos 80 trouxe no cenário nacional. Este é o terceiro álbum da banda, acho que ele dá um salto em qualidade das músicas em relação aos outros (Que são excelentes também), sem perder a característica oitentista da banda que chega a ser quase datada.

Pra quem já teve a felicidade de ver um show com o Marcelo Nova ao vivo sabe que não preciso dizer mais nada do porque esta banda precisava aparecer entre os 10 melhores álbuns nacionais.

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



8º COLOCADO

BANDA: LULINA
ÁLBUM: CRISTALINA
ANO: 2009
MÚSICA PREFERIDA: MI GOSTAR MUSGA


Lulina é uma das melhores coisas que apareceu na música nacional nos últimos anos, na minha opinião. O som dela é ótimo, a voz dela é ótima, o álbum dela é ótimo. Sem contar que ela é uma gracinha.

A primeira vez que eu ouvi foi em um show ao vivo mesmo, me pegou de surpresa. Conversei com ela no final e ela me deu o álbum GRÁTIS!!!! Porque eu tava duro e sem dinheiro. Simpática e muito gente boa essa Lulina. Virou um dos meus álbuns nacionais preferidos assim que eu havia terminado de ouvir.

Músicas que gostaria de destacar são: Nós, Margarida, Música Para Colocar Naquele Som Com Despertador, Argumentos e Narcolepsia.

sábado, 10 de novembro de 2012

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



9º COLOCADO

BANDA: LITTLE QUAIL AND THE MAD BIRDS
ÁLBUM: A PRIMEIRA VEZ QUE VOCÊ ME BEIJOU
ANO: 1996
MÚSICA PREFERIDA: AA


Little Quail And The Mad Birds, a banda tem nome de banda gringa porra! Que tá fazendo aqui? Calma, eles cantam em portuguêis! (Tem uma música ou outra em inglêis!) HA HA HA!

Bem humorados, misturando Rock Underground, Rockabilly, Letras cômicas que colocam os Mamonas Assassinas no chinelo e um som muito superior na minha humilde opinião! Little Quail foi uma das bandas desconhecidas mais importantes dos anos 90! Abriram shows para os Raimundos (As duas bandas tinham uma relação de quase irmãos).

Gabriel Thomaz, vocalista e guitarrista da banda fundou a banda Autoramas em 1997 que toca por aí até hoje!

Destaque pra música Me Espera Um Pouco cantada por Zé Ovo (Baixista) e A Alegria Está Contagiando O Meu Coração.

Bons tempos do Rock que não voltam mais!

TOP 10 ÁLBUNS NACIONAIS PARA OUVIR ANTES DE MORRER (Na Minha Humilde Opinião)



10º COLOCADO

BANDA: PATO FU
ÁLBUM: TODA CURA PARA TODO MAL
ANO: 2005
MÚSICA PREFERIDA: AGRIDOCE

Pato Fu foi uma banda que eu sempre tive um certo pé atrás, demorei pra conseguir engolir esta banda, porém depois que desceu foi bem.

Fernanda Takai tem uma das melhores vozes femininas do MUNDO! É! Do Mundo! As músicas do John Ulhoa não ficam devendo em nada para o Radiohead!

Este foi o primeiro CD em que eu realmente parei pra ouvir a banda, por isto tenho um carinho especial por ele. Tem músicas excelentes como Anormal que abre o álbum, Amendoim e Sorte e Azar.

Ouçam que não vão se arrepender.

DIVAGAÇÕES SOBRE A REJEIÇÃO



Sempre me achei feio.

Sei que é coisa da minha cabeça, até que sou bem atraente. Muitas mulheres me dizem que tenho traços delicados, sou bonito e essas coisas. Mas bem lá no fundo sempre me achei feio.

Acho que essa coisa de se achar feio é um sistema defensivo para não sofrer com a rejeição, sempre tive problemas com isso. Eu tinha que ser sempre o melhor em tudo, fazer as coisas direito, porque queria ser aceito de alguma maneira por alguém ou por algum grupo.

A verdade é que quando eu era aceito me sentia um peixe fora d’água também. Parece que não existia um lugar para mim naquele planeta. Eu sempre estava fora do meu habitat natural seja onde eu estivesse. Parecia que por mais que eu lutasse para ser aceito em algum lugar naquele planeta, mais e mais ele tentava me expelir para fora.

Conseguiu.

Tanto que estou aqui vagando no espaço tão longe de tudo aquilo.

Eu só queria me sentir bem onde eu estava. Nada mais, nada menos. Porque era tão difícil? Eu olhava para o lado e parecia ver tantas pessoas felizes, porque eu não podia ser uma delas?

A rejeição partia das pessoas ou partia de mim? Era eu que rejeitava a felicidade? Era eu que impedia que ela viesse até mim?

Recuso-me a acreditar que era culpa minha.

Lembro quando mudei de escola na quinta série e os meus colegas de classe não queriam falar comigo porque eu tinha o cabelo comprido. Não andava e me vestia como eles, então eu era um elemento que deveria ser extirpado dali. Quanto mais as pessoas me tratavam como um elemento estranho, mais eu me tornava um elemento estranho. Batalhava dia e noite para me tornar o elemento mais estranho possível e fazia de tudo para que me odiassem. Só assim meu ódio por tudo seria justificado.

Meu ódio de tudo e de todos cresceu tanto que tomou conta de mim de um jeito que eu jamais consegui escapar dele depois.

“Só o amor mata o demônio” – já dizia o índio que foi morto por dar abrigo a um casal de assassinos em um filme dos anos 90 – quanta sabedoria existe nesta frase.

O amor poderia ter me salvado, mas ele só piorou as coisas, só serviu para me arrastar cada vez mais para o fundo nas profundezas do asco pelas pessoas e conseqüentemente por mim também.

A rejeição é o primeiro passo para se trilhar um caminho sombrio e solitário, depois que você dá os primeiros passou não há mais volta. Dei meus primeiros passos quando era muito novo, sem saber as conseqüências que isto traria.

Vivi minha vida quase que na mais completa solidão. Sofri por isso todos os dias da minha vida. Morro agora mais sozinho do que nunca estive, longe de tudo e de todos. Gostaria que alguém lá embaixo pudesse ter me entendido, talvez alguém tenha e eu não tenha percebido.

Não me odeiem, eu gostaria de ter sido como vocês.

Gustavo Campello