sexta-feira, 28 de junho de 2013

METALLICA



Quando Vitor fez 11 anos ganhou seu primeiro vinil da sua avó. Era o álbum Ride Of Lightining do Metallica. Seu primo ganhou no mesmo natal o Blood Sugar Sex Magik do Red Hot Chili Peppers. Ouviam os dois discos juntos o tempo todo. Um tempo depois Vitor deixou o cabelo crescer pela primeira vez.

O Metallica tocou no Brasil em 1993, mas Vitor era muito novo e sua mãe não deixou ele ir. Ficou deprimido.

Então quando ele já tinha idade o Metallica voltou! O show estava marcado para o dia 8 de maio de 1999. Já não era mais a sua banda favorita, mas ainda gostava bastante. Umas semanas antes do show seu cachorro ficou doente, era terminal e ele estava deprimido, chegou a pensar em não ir no show, mas Marcel o convenceu do contrário. Foram com uma van com outros amigos. Buda, Inferno, Damião e Cotovelo eram os amigos metaleiros que foram juntos. Chegaram bem cedo e já tinha uma fila.

Ficaram bebendo na fila e Vitor comprou uma camiseta de um cambista.

- Que merda! – disse o Inferno olhando Vitor colocando a camiseta.

- O que foi? – Vitor perguntou intrigado vendo que ele olhava atrás da camisa – ta rasgada?

- Pior!

- Que foi porra?

- Tá escrito Kirk Hammett errado! – realmente estava escrito “Kirk Hamlett”.

Vitor ficou puto e saiu com Marcel pela fila tentando vender a camiseta, mas parece que ninguém tinha dinheiro. Um cara parou eles e perguntou quanto era, Vitor reparou que ele estava uma camiseta do Lobo desenhada pelo Simon Bisley.

- Pra você é de graça se me der sua peita!

Trocaram as camisetas e Vitor ganhou uma camiseta do Lobo que usa de vez em quando até hoje.

Quando conseguiram entrar já tava um bolo de gente perto do palco.

- Vêm atrás de mim – disse Inferno. Ele era um cara muito alto, com cara de mal, gente boa, mas tinha cara desses putos violentos que te quebram a cara se você respirar da maneira errada perto dele. Tinha quase dois metros e era musculoso o filho da puta. Foi abrindo caminho entre as pessoas, um sujeito tentou encarar ele e acabou sendo levantado no ar e jogado a mais de um metro de distância em cima das outras pessoas. Ficamos olhando a cena com olhos arregalados, mas ninguém mais se meteu com a gente.

Sepultura abriu o show, quando o Igor Cavalera bateu na bateria a primeira vez foi o inferno na terra. A namorada de um cara tava sentada nos ombros dele em frente de Vitor, todo mundo se espremeu e a bunda dela entrou na cara dele. Vitor mal conseguia respirar e ficou com a cara enfiada na bunda da mina durante uma música inteira. Quase foi morto em um show do Metallica por uma bunda. Teve que se afastar do palco pra respirar e Marcel foi seguindo ele. Era uma pancadaria só.

Quando o Metallica entrou os caras mandaram muito bem, mesmo sem telão e essas frescuras. Era um show de rock das antigas, a banda tava no palco e só. Tocaram apenas uma música do vinil que Vitor tinha, Fight Fire With Fire:

Fight fire with fire
Ending is near
Fight fire with fire
Bursting with fear
We shall die
Time is like a fuse, short and burning fast
Armageddon is here, like said in the past

Foi quando o tênis de Vitor voou do seu pé, conseguiu abraçá-lo no ar e vestir a meio de trancos e barrancos.

Não tocaram Fade to Black que era sua música preferida. Quando o show acabou as pessoas foram saindo e deu pra ver um mar de tênis sendo deixados para trás. Damião havia perdido um e calçou outro qualquer para não ir embora com um pé descalço.

Na volta Inferno quase matou Vitor porque ele não parava de falar, achou melhor ficar quieto e todos dormiram. Depois que o Jason Newsteed saiu da banda, Vitor achou que o Metallica perdeu a graça, era seu integrante favorito. Dois dias depois seu cachorro morreu e nem se lembrou mais do show.

Gustavo Campello

sábado, 8 de junho de 2013

SUPERCHUNK



Superchunk estava longe de ser uma banda badalada naquele ano de 1998. Estavam se tornando uma importante banda no cenário underground, antes de surgir a moda indie, mas pode-se dizer que estavam no topo entre as bandas independentes da época.

Vitor conheceu a banda através do programa Lado B, que passava tarde da noite na MTV e buscava exibir videoclips de bandas pouco conhecidas. O programa era encabeçado pelo apresentador Fábio Massari que manjava muito de bandas undergrounds como Letters to Cleo, Yo La Tengo, Buck-O-Nine, Pavement, Sonic Youth e Superchunk. Algumas bandas já tinham um certo prestigio lá fora, como no caso de Sonic Youth, mas aqui no Brasil você dificilmente assistia a um videoclip deles fora do programa Lado B.

Quando o Superchunk marcou o show no dia 15 de Setembro de 1998 Vitor já tinha marcado a presença. Vários amigos falaram que queriam ir, mas na hora H todo mundo puxou o carro. Vitor foi sozinho.

Achou que algum outro conhecido podia ter tido a mesma ideia, mas quando chegou na Via Funchal não conhecia ninguém dos presentes. Um grupo de amigos viu que ele estava sozinho e vieram puxar papo. Eram três garotas e dois garotos mais ou menos da mesma idade que ele.

Vitor contou sobre sua banda, Caixa Materna, que estava fazendo alguns showzinhos por aí. Vitor cantava mal e tocava guitarra bem meia boca, seu amigo Marcel tocava baixo e seu primo Giulio a bateria. O que realmente salvava a banda eram algumas letras compostas por Vitor e a melodia de algumas músicas. A banda era boa porque não se levava muito a sério.

- A gente tá tentando montar uma – disse uma das gurias que parecia interessada nele – mas tá difícil.

- Vocês tocam o que? – Vitor perguntou pra ela.

- Rock alternativo, e você?

-Um pouco de Grunge com Punk.

O resto do pessoal que estava com ela era o resto da pseudo-banda ainda não formada. Vitor pegou o telefone da garota, mas nunca teve coragem para ligar de volta.

A primeira banda da noite começou a tocar, se chamava Wry e era de Sorocaba. Vitor acabou vendo vários outros shows desta banda no futuro e conversou algumas vezes com o vocalista Mario Bross pelos bares da vida. A segunda banda a tocar foi o Pin Ups que Vitor já conhecia e adorava. Alexandra Briganti era ainda mais bonita ao vivo e mandaram muito bem.

Então o Superchunk entra no palco para fechar a noite e Vitor parece ser transportado para outra dimensão onde as leis da física não se aplicam mais. Seu rosto é acertado por pés, uma pessoa parece que caiu do teto enquanto voava, uma bunda se materializa a sua frente e lhe acerta ao lado do rosto e em alguns momentos ele não sabe se está em pé ou de ponta cabeça.

Ele pula como um louco!

É o melhor show de todos os que viu até agora!

Quando o Superchunk começa a tocar Precision Auto vai todo mundo a loucura:

Do not pass me just to slow down
I can move right through you
Do not pass me just to slow down
I have precision auto

No meio da música uma corda do baixo de Laura Ballance arrebenta e a banda continua a tocar no improviso. Calmamente a gatíssima baixista pega uma corda nova, coloca e a afina com um fone de ouvido gigante na cabeça. Enquanto tudo isto acontece a banda improvisa uma verdadeira aula de rock sem sair da música. Então a banda inteira se entreolha e voltam a tocar juntos do ponto onde pararam:

I see you way too slow
I see you in slow motion
You've got muscles--use them

Vitor pula e acerta com o ombro o queixo de uma garota sem querer. Ele percebe que ela cortou a língua com o impacto e é arrastada para a enfermaria. Um pouco de sangue mancha sua jaqueta. Ele se preocupa com a garota, mas agora não há nada que ele possa fazer. O show tem que continuar e o Rock ’n’ Roll rola solto.

Na saída Vitor compra o álbum Lee Marvin do Pin Ups que estava a venda e volta para a casa sem saber que Superchunk seria a banda internacional que mais assistiria shows em sua vida.

Gustavo Campello