sábado, 9 de dezembro de 2017

ÚLTIMO POST DO BLOG (VIDA LONGA AO NOVO SITE)


E finalmente, depois de inúmeras promessas vazias, o BLOG chega ao fim!

Mas calma, como eu havia prometido anteriormente, o fim vem através de uma mudança, todo o conteúdo de crônicas foi transferido para o novo site que vem com novidades, crônicas de outros autores, além das minhas, espaço para textos maiores (Contos) e algumas publicações físicas (que começa com o meu primeiro livro).


Então é só ir lá no site novo que estarei por lá como sempre estive por aqui.
Pra quem estiver em Campinas-SP e quiser ir no meu lançamento, estejam convidados, segue o convite abaixo:


É isso aí Pessoal!
Espero vocês na casa nova...


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

ODIADEMERDA



Vouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligarvouligarnãovouligar

E mais um dia se passou.

Ansiedadecaféchocolateemaisumpoucodeansiedade.

Dia de merda.

Olhoocelularenadademensagensmascomovocêquermensagenssebloqueounowhats?masseelaaindalutassepormimtinhamandadosmsouligado.

Amanhã começo o curso novo na faculdade. Curso de bacharelado em amor próprio.

TheSmithstocandonavitrolaevamoscomeraquelemolhopestocompãoquefizpraela.

Sinto orgulho pela primeira vez na vida, não liguei pra ela, me segurei.

Masodiapassouevocênãosesentiumelhormesmoassimcontinuousesentindovazioeperdidoeumbosta.

Vai passar.

Tem que passar.

Uma hora passa.

Gustavo Campello

sábado, 11 de novembro de 2017

M & B: CORAÇÕES & MUDANÇAS



ATO I

- Agora meu coração está completo – M entrou na sala e achou que devia falar algo, estava com um sorriso no rosto – e eu simplesmente não consigo explicar, portanto nem vou tentar.

- Há! Eu ainda não sei pelo que eu estava esperando – B disse sem pensar, mas era o que estava passando pela sua cabeça – e meu tempo estava passando muito rápido.

- Hummmm.... acho que então vai haver algum problema – M olhou ao redor – uma casa inteira precisará ser reconstruída.

- Mudança! – gritou B – Vire-se e encare o estranho!

M se virou e não viu nada, quando voltou sua atenção B já não era o mesmo.

- Ah, mas, Bunnie, eu te adorava!

- Só tenho que ser um homem diferente – levantou-se e se olhou no espelho – o tempo pode me mudar, mas eu não posso enganar o tempo.

- Estou cansado de novo, eu tentei de novo e...

B colocou o dedo na boca de M, não deixou que continuasse.

- Mudanças estão tomando o ritmo pelo qual estou indo.

ATO II

- Nosso elo de confiança foi abusado – M fazia suas malas e tentava esconder as lágrimas que escorriam do seu rosto – algo de valor pode se perder.

“Fico imaginando se um dia ele vai saber” – B pensa sem coragem de se expressar em voz alta – “que agora ele anda atrás do seu sonho naufragado”.

- Porque perder bons momentos brigando com as pessoas que você ama?

“Existe vida em marte?” – B não presta mais atenção, sua mente não está mais ali.

- Mas agora você só me chama quando está se sentindo deprimido!

- É um pequeno e terrível caso – B estava realmente diferente – está espancando o cara errado!

M deu-lhe uma bofetada na cara e foi embora.

ATO III

M andava pelas ruas e sua mente estava a mil por hora:

“Não desenterre meus erros, eu sei exatamente quais são eles. E o que você faz? Bem... você só fica sentado aí e eu tenho sido apunhalado pelas costas tantas e tantas vezes. Eu não tenho mais nenhuma pele, mas é assim que são as coisas...”

Enquanto isso B sentado em sua poltrona, olhava para seu novo rosto e pensava – “Estou afundando na areia movediça do meu pensamento e não tenho mais o poder”.

Nunca mais se viram.

Gustavo Campello
Diálogos tirados das músicas:
Morrissey: Now My Heart is Full / Hold On To Your Friends / Why Don't You Find Out For Yourself
David Bowie: Changes / Life on Mars? / Quicksand

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

MAIS FÁCIL TEU CU!




E então se passaram 20 anos, duas décadas... um tempão! Tempo pra cacete!

Lembro que me disseram que com o tempo ficava mais fácil, mais fácil teu cu, a dor é a mesma, a falta é a mesma, o vazio que ficou continua ali, sem preenchimento nenhum. O mais engraçado é que nem lembrei que era hoje, passou batido, mas mesmo assim tinha falado dele hoje, no trabalho. Ele sempre é assunto, não importa quanto tempo passe vai estar sempre ali, na minha memória, nos meus assuntos, na minha vida.

Os olhos escuros, quase pretos, difícil de distinguir as pupilas, iguais aos meus... a semelhança física para por aí... alto, gordo, careca (to chegando lá), orelhudo (opa, não é que a semelhança não parou por ali), aquele jeito irlandês alegre com um copo de cerveja celebrando qualquer bobagem que a vida mandava...

Lembro-me da sua voz e dos abraços, o que não daria hoje por um daqueles abraços? Um braço? Uma perna? Um olho?

A gente sobrevive à morte dos nossos, mas isso não significa que nos habituamos, que fica mais fácil, que com o tempo a dor vai embora... ela continua ali, a gente pode até não pensar nela, mas se pararmos pra dizer um “olá” a gente chora que nem criancinha de novo, como se estivesse lá atrás... 20 anos!

Se eu fosse metade do homem que ele foi... com seus enormes defeitos, com suas pisadas de bolas, com seus arrependimentos, tristezas e aquele enorme coração que o tornava único. Hoje consigo perceber em quantas coisas éramos diferentes e mesmo assim continuo a amá-lo do mesmo jeito. Com seus erros e acertos, será sempre um exemplo.

Ao longo do meu caminho, errei como ele, acertei como ele...

Obrigado, por tudo, mesmo. 

Gustavo Campello

terça-feira, 26 de setembro de 2017

ATÉ O FIM DO MUNDO



Tudo indo pelo ralo, como um redemoinho de sentimentos, como o som de um violino ao meio de um piano que não para de tocar mesmo quando seu fígado pede um break após um porre colossal.

A dor no peito é só um pequeno atrativo em relação à realidade atual e as paralelas que nada significam, pois o vórtex temporal quer regurgitar as mesmas coisas, quer que você viva a mesma vida de novo e de novo e de novo e de novo e assim sucessivamente.

Nenhuma vida é única, as vidas se repetem de novo e de novo e de novo para sempre ao infinito. A monotonia e a rotina já fazem parte de você e quando acorda e cai na real é realmente algo ruim? É realmente tão horrível assim viver a vida de outra pessoa?

Duendes mecânicos tentam e tentam fazer com que tudo seja igual, mas isto é ruim? Eles são os vilões da história? Eles são os bad boys ou simplesmente representam uma força da natureza que tenta te salvar do sofrimento? De viver aquilo que só serve para te machucar? De sentir aquilo que só serve para te fazer desistir de sentir e existir?

Os duendes mecânicos são os servos do Deus Fungo ou são o teste definitivo do despertar?

O maquinista está morto para sempre?

O túnel jamais será fechado, crianças irão nascer de um jeito ou de outro no mundo posterior.

Choros estridentes serão para sempre ouvidos ou chegará o dia em que cessarão para sempre?

Será que alguém percebeu o grande espaço de tempo que ficou sem que uma criança nascesse? Segundos, talvez. Minutos? Ainda assim um tempo considerável entre a escolha de um novo maquinista. Segundos de eternidade ou minutos que representam um buraco negro no meio do infinito.

A travessia não pode parar.

O sonho jamais pode acabar.

Violinos, teclados e saxofones irão tocar ainda por um bom tempo, de maneira diferente, mas mesmo assim serão tocados, de um jeito ou de outro.

Duendes mecânicos, o maquinista, almas, tristezas, sonhos, sem-corações, seres e deuses interpretarão seus papeis por muito tempo até que tudo esteja acabado.

No fim do infinito.

Na última nota de um violino.

Quando o amor morrer.

Abemus um novo maquinista, mas será ele?

Gustavo Campello

sexta-feira, 26 de maio de 2017

AGUARDEM NOVIDADES!



quarta-feira, 24 de maio de 2017

SOU O QUE NÃO DEVERIA SENTIR



Sinto o que não deveria ser

Hoje faz dois meses que te vi pela última vez, precisava escrever algo, mesmo que eu tenha parado com o blog pra rever algumas coisas sobre mim.

As pessoas dizem que eu tenho que te esquecer, que você não me merecia e que não vale a pena sofrer por quem não merece a gente.

Eu não escolho sofrer, não é algo que eu queria, mas é algo que eu aceitei. Resolvi sofrer por você, não importa se você já nem se lembra de mim, não importa se sua mão hoje acaricia o corpo de outro homem e que eu seja uma memória distante. Eu te amo e não posso simplesmente fingir que esses últimos anos não aconteceram, é da minha natureza ser como eu sou, sentir como eu sinto e sofrer como eu sofro. Decidi não tentar mais renegar isso, esse sentimento que me corrói.

As pessoas hoje são assim, se desprendem uma das outras, apagam memórias como se apaga um erro gramatical com uma borracha no colegial. Você já me apagou tantas vezes durante esses anos todos que sinto raiva de não conseguir fazer o mesmo. Não quero sentir raiva.

Quero aceitar o que sinto.

As pessoas acham que sou idiota.

Não sou idiota.

Sinto e enxergo o mundo de maneira diferente da maioria, só isso. Não consigo apagar o amor que inflamou meu peito durante mais de meia década com a facilidade que você conseguiu, com a facilidade que a maioria das pessoas conseguem. Não desisto de quem amo e não acredito que quem ama desista.

Sou o monge da fábula com o escorpião.

Vou ser picado a vida inteira.

Não ligo mais, só quero aceitar quem sou, aceitar o que sinto, aceitar...

Você tentou fazer com que eu acreditasse que me amava, mas desistiu de mim da maneira mais simples que poderia, o amor é incondicional, perdoa, segue em frente, faz de tudo pra continuar vivendo, exatamente como um moribundo sentenciado a guilhotina se apega a vida. Como sempre fiz. Fui um moribundo condenado a guilhotina, acreditando que o amor existia, que lutaria e que prevaleceria. Acho que não preciso provar meu amor, nunca precisei, te perdoei mais do que devia, segui em frente mais do que aguentava... tão em frente que agora não tenho forças pra voltar, não guardei fôlego para o caminho de volta.

Solidão.

Solidão por todos os lados.

Olho pro lado da cama e sei que você nunca mais vai estar ali, mesmo que ainda te enxergue todo dia ali ainda.

Sinto-me culpado por sentir o que sinto, não quero sentir culpa pelos meus sentimentos, não quero mais ouvir que estou errado por sentir o que sinto, que devo sentir o que sinto de outro jeito, que devo fazer isso ou aquilo para parar de sentir as coisas como sinto. O sofrimento não funciona assim, não vai mudar se agir como as pessoas pensam que devo agir ou como as outras pessoas agem nessas situações. Não sou o fulano que diz que tem um monte de boceta por aí me esperando, não sou o cicrano que diz que tenho que me abrir para outra pessoa. Não sou assim. Simplesmente não sou assim.

Não beijo uma pessoa que acabei de conhecer.

Não durmo com alguém por quem não sinto nada.

Não pertenço à sociedade de hoje.

Não pertenço a esse mundo que não faz sentido para mim.

Meu mundo é outro.

Mas meu mundo não existe mais.

Amor.

Gustavo Campello
Ilustração da artista Sarah Maxwell

domingo, 26 de março de 2017

ATÉ MAIS, E OBRIGADO PELOS PEIXES!



Não vejo mais sentido em escrever, na verdade não vejo mais sentido em muitas coisas. Cansei de ser uma pessoa desperta em um mundo onde todo mundo está dormindo, quero ser um zumbi, me satisfazer em viver em um presídio com muros invisíveis. Quero abraçar a “normalidade” da apatia, o senso comum dos alienados, assistir Fantástico domingo à noite, votar em qualquer boçal e me sentir aliviado porque posso colocar a culpa de qualquer coisa que dê errado no PT... enfim, quero ser um zumbi da ignorância.

Por isto este é o último texto.

Desisti!

Chega!

Minha vida agora é ir para o trabalho, voltar pra casa e dormir, e no dia seguinte tudo se repete, de novo, de novo e de novo. E estou muito bem assim.

Olho-me todo dia no espelho e me sinto um lixo. Definitivamente desisti do amor, consequentemente quero aproveitar a deixa e desistir de todo o resto. Deixar de viver para apenas existir como a maioria das pessoas neste mundo egoísta e caindo aos pedaços.

Foi péssimo enquanto durou.

Até mais, e obrigado pelos peixes!

Gustavo Campello

segunda-feira, 20 de março de 2017

MAIS UM ST. PATRICK'S DAY!



Venho de uma família ítalo-irlandesa e carrego no sangue toda a bagagem do que vem de bom e de ruim nisso. Cresci no cristianismo (mais especificamente no catolicismo), que significa que damos uma enorme importância para símbolos, tradições, significados e marcos importantes e históricos do mundo e de nossas vidas. Já faz alguns anos que rompi com o cristianismo, mas é inútil pensar que não existem marcas, afinal foram mais de 25 anos dentro dele. Mas por mais que não me considere cristão, nutro um enorme respeito por imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora, São Francisco, pelo Papa e, como não poderia deixar de ser, de São Patrício (Ou Saint Patrick, ou ainda Saint Paddy para os íntimos). Comemorar o St. Patrick’s Day é uma tradição, celebrar a vida, estar com amigos, estar feliz por estar no mundo, algo assim. Nunca trabalhei em um 17 de março, já cheguei a pedir dispensa por motivo religioso, na cara de pau mesmo.

Este ano foi mais um, longe de ser o que mais bebi, nem o melhor de todos, mas foi um dos melhores sim. Não dormi na rua como em 2010, não arrebentei minha cara no asfalto como em 2011, muito menos tomei dezessete garrafas de cerveja como nos velhos tempos. Tomei minha cerveja quando acordei ao som dos The Irish Rovers tocando Finnegan’s Wake (isso é tradição), dei beijo na boca nos primeiros minutos da madrugada do dia 17 (isto não é nem um pouco tradição), estive com diferentes amigos em diferentes bares, ganhei um chapéu verde de leprechaun, tomei cerveja verde com corante vagabundo (isto é quase tradição) e confundi garçons com meu inglês de irlandês arrastado que quase ninguém entende... Ah... e brindei todos os copos com “Sláinte” enquanto uns imbecis diziam “Cheers”.

Não fui à igreja, coisa que sempre fiz, mas no dia seguinte assisti ao novo filme do Scorsese (Silêncio) sobre os jesuítas no Japão. Talvez tenha tocado no meu sangue católico mais do que gostaria, faz parte de uma doutrinação de anos, mas como disse o Logan neste último filme: "Não seja aquilo que fizeram de você". Eu tento, mas existem cicatrizes que não dá pra esconder, mas acho que venho fazendo um bom trabalho.

Final de noite com a galera ainda comi uma porção de língua ao molho, nada melhor com uma cerveja. Descobri literalmente que meu inglês fica muito melhor quando estou bêbado e que devia fazer exatamente um ano que não mijava na rua. É isso aí, mais um ano, mais um St. Patrick e espero que ainda venham muitos.

Dedico este texto aos irlandeses que me inspiraram de alguma forma: James Joyce, Neil Jordan, Garth Ennis, Oscar Wilde, Bram Stoker, Sinéad O’Connor, Shane McGowan, Bono Vox, Frank McCourt, Michael Collins, Stephen Rea, Gabriel Byrne, Jim Sheridan, Pierce Brosnan, Enya e é claro que não podia faltar o Banshee dos X-Men.

Sláinte!

Gustavo Campello

quarta-feira, 15 de março de 2017

O HOMEM, A MOSCA E OS ÁTOMOS DE UM ELEFANTE



Há moscas somente no subterrâneo, pois no Edifício não há nenhuma outra forma de vida que não seja humana. Animais são vistos e reconhecidos somente por causa dos sonhos com o Mundo Posterior.

Em um sonho um homem está sentado no banheiro cagando enquanto olha uma mosca no azulejo ao lado do seu dedão do pé. E ele se sente igual a mosca. Não há diferença nenhuma entre o homem sentado na privada e aquela mosca ao lado do seu dedão, para o universo eles são tão pequenos e insignificantes que poderiam ser um só. Na ordem das coisas não alteram nada. São nada. Pó. Ínfimos átomos de um elefante.

Como processar este pensamento sem nunca ter visto um elefante? Como mensurar o sonho vivendo no Edifício? Como entender o azul do céu olhando para o concreto? Como entender o cheiro do mato após uma chuva vivendo em um ambiente onde o ar é parado, impregnado pelo cheiro de poeira e sem vento? Ferzan entende, mas de nada adianta para ele entender estas coisas, pois sente medo de fazer algo a respeito e a vontade de se movimentar em direção a algo lhe deixa com a alma morta.

Tem horas que tem vontade de arrancar o coração e ir para o obscuro subterrâneo viver com outros que devem ter sentido algo como ele. Sente que não há fuga, sente que não há o que fazer, quando tudo o que queria era sentir o vento lhe batendo na cara, o cheiro de terra molhada entrando nas narinas. Livre!

Liberdade não é seguir sonhos, mas dar valor para o que se tem. Ferzan não tem nada. Ferzan sabe demais em um mundo controlado por Duendes Mecânicos. Tem medo. Vive fingindo ser quem não é. Queria conhecer outros como ele.

Já tentou morrer como as pessoas do Mundo Posterior, mas sempre acorda intacto no dia seguinte. Parou de tentar e aceitou sua situação após arrancar o braço, desmaiou, no dia seguinte estava intacto.

Malditos Duendes Mecânicos!

Não deixam ninguém morrer, não deixam ninguém viver. Pobre Ferzan, mal sabe ele que por aqui é assim também.

Gustavo Campello

sexta-feira, 10 de março de 2017

TRÊS AMORES: HÁ 6⅓ ANOS




“Porque eu sei como é quando pessoas
que ama não acreditam em você,
Quando te deixam ir embora.”

Meu terceiro amor é aquela velha história do aprender que você não consegue fazer uma pessoa te amar, não importa quanto tempo passe, não importa quanto se esforce, não importa o quanto você seja completamente apaixonado por ela... se ela não te ama, ela não te ama e é isto. Por mais triste que seja, por mais dolorido que seja, quanto antes você assumir isto pra si mesmo, menos você vai se foder... e eu me fodi bem bonito.

Ela foi a pessoa com quem passei mais tempo e nunca me cansei de olhar pra ela, era aquela certeza de que com ela eu ficaria pro resto da vida, mas a vida não é uma via de mão única. Ela se cansava constantemente de olhar pra mim e não me enxergava em nenhum momento como seu príncipe encantado.

Ela era uma espécie de Humpty Dumpty versão feminina, que passou os 6⅓ Anos em cima do muro com medo de quebrar. Pra falar a verdade ela está lá até agora, em cima do muro, eu só cansei de ficar lá embaixo gritando “Pode pular! Eu te seguro! Você não vai quebrar!”, ou talvez não, talvez ela simplesmente tenha caído e quebrado, mas pro outro lado do muro, e eu fiquei deste lado tentando entender toda a bagunça.

Sinto falta dela ao meu lado na cama, sinto falta do seu cheiro, sinto falta do seu sorriso, sinto falta do sexo, sinto falta de andar de mãos dadas, e posso ficar nessa de ficar falando do que sinto falta por um bom tempo, mas olhando pra trás, o que sinto mais falta é de me sentir amado e infelizmente não posso dizer que me senti assim nos últimos 6⅓ Anos.

Estou tentando apagar os resquícios dela, tentando esquecer, toda semana algo dela vai pro lixo, pro abismo do esquecimento, desde elásticos de cabelo a fotos. Apaguei nossos vídeos picantes, fotos digitalizadas, queimei pijamas, só sobrou uma aranha de arame que eu já amassei toda e uma foto rasgada. Logo logo não terá mais nada, vazio, assim como me sinto em uma vã tentativa de me libertar de memórias fantasmas que me assombram todas as noites me impedindo de dormir.

Então tudo acabou como um meteoro que devasta tudo e ficou um gosto amargo na boca, um sabor que fez eu me sentir usado, como uma boneca velha jogada no lixo depois que a garotinha cresceu. É como enxergar todo um esforço de uma vida não reconhecida, mas é a vida, ela é cruel e não poupa ninguém. Não a culpo por não me amar, por não ter paciência pra relacionamentos, nesta altura da vida eu tinha que ter sido mais esperto, tinha que ter percebido os sinais. Não é o amor que é cego, nós é que ficamos cegos com ele, o amor é só um idiota que fica na frente atrapalhando a visão.

Só quero poder amar de novo, um amor que seja correspondido, seguir em frente, amar e ser amado. Ainda não desisti, portanto que venha o quarto e que seja o último.

Gustavo Campello
Texto em Itálico: Extraído da Série "Star Wars: Rebels" (Capítulo 14 - 3ªTemporada/2017) de Dave Filoni

domingo, 5 de março de 2017

RADIOHEAD



O Kraftwerk havia saído do palco, continuando a narração do dia 22 de março de 2009, a expectativa era para quando o Radiohead subisse e fizesse o show tão esperado. Parece que faz tão pouco tempo, mas na época as pessoas ainda usavam Orkut.

As pessoas sempre acharam Vitor parecido com o Thom Yorke, ele não se achava parecido, mas eram várias as pessoas que diziam “Nossa! Você parece aquele cantor do Radiohead”. Ele até tinha um olho maior que o outro, mas não tão evidente. Não se achava tão esquisito assim... mas beleza, melhor parecer o vocalista do Radiohead que o Lobão.

- Na Argentina os caras encerraram com Creep – disse Vitor se referindo ao show anterior da banda, fazia dezessete anos que eles não tocavam esta música.

- Sim, eu vi isso, faz anos que os caras não tocam... encerraram o show, acho que não vão ficar devendo essa pra gente. – disse Marcel

- Mas vão tocar mais músicas do Kid A, acho – completou Eurico – afinal, ainda hoje é o álbum mais vendido dos caras.

Era a turnê do In Rainbows, um excelente álbum, que Vitor andava ouvindo bastante, enquanto esperava Beatriz nas aulas de natação.

Quando o show começou já veio com 2 pés no peito com a barulhenta 15 Step, a música que abria o álbum da turnê, mas o show foi bem equilibrado, tocaram músicas de todos os álbuns, mas quase nada do Hail To The Thief (uma pena, pois Vitor adorava este álbum, mas não dava pra agradar todo mundo).

Mas o que dizer de um show do Radiohead? É tudo muito perfeito, parece um relógio atômico em ação. Tudo preciso e hipnótico. Os ataques epiléticos do Thom Yorke é só um algo a mais no meio de um baita show. Não tem muito como expressar, é só vendo pra entender, estando lá sentindo o ritmo, a música, o transe.

Quando chegou ao fim a música que representava toda a geração de que Vitor fez parte foi tocada ao vivo depois de dezessete anos, e depois de 2009 ela só foi tocada de novo sete anos depois: Creep.

But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doing here?
I don't belong here

Vitor era o chato, o estranho e não pertencia ao mundo que fazia parte. Quantos ali não eram como ele? Quantos ali não entendiam este sentimento? Marcel estava indo embora para o mundo “normal”: casa, família, filhos. Era o último show que veriam juntos... Vitor sabia disso... Marcel sabia disso... e assim foi.

Gustavo Campello

quarta-feira, 1 de março de 2017

TRÊS AMORES: HÁ 10 ANOS



"- Que tal arte?
- Arte? Legal. Pode falar.
- Fale você.
- Não entendo nada de arte."

Meu segundo amor foi a clássica história de conhecer a pessoa certa no momento errado da minha vida.

Marcou minha vida mais do que gosto de admitir, moldou minha consciência política, minha consciência artística e foi a maior responsável deste blog existir, quem me incentivou a escrever, que serviu de musa inspiradora em muitos textos e que ainda marca presença em mais coisas da minha vida do que minha consciência percebe.

Quando nos conhecemos estávamos quebrados por dentro, um serviu de muleta para o outro. Tínhamos cicatrizes que tentávamos ignorar. Ela era muito mais madura que eu, mas em alguns momentos parecia algum animalzinho assustado e machucado. Eu tentava cuidar dela enquanto fingia cuidar de mim.

Nem lembro quando nos conhecemos, faz muito tempo, no aniversário de um amigo em comum. Você namorando outro cara e eu, o esquisitinho que não pegava ninguém. Não podíamos imaginar que anos mais tarde teríamos uma história juntos.

Você será minha eterna Mrs. Robinson.

Você estará para sempre na minha memória quando escutar Sound Of Silence.

Não tem como olhar para dentro de mim e não ver um pedacinho seu.

Nossas vidas seguiram rumos diferentes, eu te machuquei mais do que gostaria de admitir (Nossa, como estou repetitivo hoje). Já pedi desculpas e obrigado, mas saiba que apesar de nosso tempo ter durado menos do que meus outros dois amores, o tempo que estivemos juntos foram os mais felizes.

No meu emprego novo tem uma funcionária que é igualzinha a você, inclusive tem o seu nome, tudo parece kármico na minha vida. Hoje você está namorando e parece feliz, cruzei com você não faz muito tempo, você não me viu. Se desejo algo de bom para meus amores, pra você eu desejo a melhor parte, porque de todas, você é a que merece mais.

Gustavo Campello
Texto em Itálico: Extraído do Filme "A Primeira Noite de um Homem" (1967) de Mike Nichols

sábado, 25 de fevereiro de 2017

UM MUNDO ONDE EXISTE O TRABALHO



Tariq sempre tem o mesmo sonho. Ele sonha que está trabalhando, mas não tem ideia do que seja tal coisa. O que é o trabalho? Ele passa as oito horas de sono sonhando estar em frente a um computador, fazendo coisas que não entende, para ganhar um pedaço de papel e comprar coisas que não entende ou entende e não entende porque precisa do papel para adquiri-las.

No Edifício não existe o trabalho.

Tabelas de Excel, café, uma barriga saliente que não reconhece como a dele, uma caneca com a ilustração de um homem com uma espada luminosa em cima de sua mesa. Ele não entende porque sonha todos os dias com o mesmo ser do Mundo Posterior, porque não consegue se desligar dele como todas as pessoas normais do Edifício?

Tariq acorda cansado depois de uma jornada de “trabalho”, tenta se manter acordado pra não ter que encarar o “trabalho”. Tariq usa drogas verdes, roxas e vermelhas. Ingere as drogas com cerveja vagabunda, tenta ficar acordado. Talvez devesse tentar aquela coisa azul que estão distribuindo por aí.

Pinta os olhos com maquiagem preta pra esconder as olheiras, mas chega uma hora que precisa dormir, que precisa “trabalhar”, que precisa encarar chefe, cafeína, computadores, planilhas, cobranças, metas, clientes gritando e piadas que não consegue entender.

Toca a bateria cada vez com mais raiva, tenta extravasar, tenta fugir, tenta acordar da realidade do Edifício.

Será que é obra dos Duendes Mecânicos? Será que os putos tem algum dedo robótico cheio de circuitos nisso? Tariq está perdendo cada vez mais a sanidade, está cada vez mais frustrado pelas frustrações do Mundo Posterior que não deveriam atingi-lo ali. Tão Longe. No Edifício.

Tariq está apaixonado por uma garota de seus sonhos, uma garota que nem vive na mesma realidade que ele. Morena. Trabalha na baia ao lado. Queria que o puto levantasse sua barriga e fosse lá conversar com ela, mas apenas pode observá-la passar, de tempos em tempos. Tariq quer gritar enquanto sonha! Quer se estapear para acordar. Mas dorme, sempre as oito horas e só acorda quando bate o ponto para ir embora do serviço.

Gustavo Campello

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

TRÊS AMORES: HÁ 15 ANOS



"Oh, meu amigo desses anos dourados.
Me ajude a deixá-lo!"

Hoje, 20 de Fevereiro de 2017, faz 15 anos que meus olhos bateram nela pela primeira vez. Ela tinha só 17 anos, eu com meus 21, me enganou que usava óculos e me perdi completamente em um caldeirão de sentimentos que não compreendo até hoje. Tivemos uma história de anos depois disso. Uma história que acabou, mas que continua muito importante na minha vida.

Lembro-me de seu sorriso, de seus períodos depressivos e de seus momentos Beatrix Kiddo onde teria me fatiado em dois com uma Hattori Hanzō se tivesse a chance.

Nos conhecemos na faculdade, era 20/02/2002 às 20:02hs... um encontro cabalístico, parecia que era destino, já fiz planos pra vida toda, planejando casamento, casa de campo, bodas de prata e o caralho à quatro.

Tempos depois nossas vidas tomaram rumos divergentes, foi um baque, sangrei como jamais havia sangrado, chorei como jamais havia chorado e sofri como jamais havia sofrido. Mas as cicatrizes invisíveis ficaram, as marcas eram eternas e para sempre, continuam até hoje no meu corpo, no meu cérebro, na minha alma.

Não tem como ouvir U2 sem lembrar dela.

Não tem como assistir uma comédia inglesa sem lembrar dela.

Não tem como olhar pra trás e não olhar pra ela.

Nem tudo era perfeito, afinal ela tinha um chulé horrível, mas vamos deixar as coisas ruins no passado, né? As brigas e os ciúmes doentios.

Foi meu primeiro amor, a primeira mulher que fiz amor, que dormi ao lado e que significou o infinito e além, mas não foi a única que tocou minha alma desta maneira, apenas a primeira.

Engraçado que no 15º aniversário eu ainda me lembre de você, mesmo estando tão longe, nesses alpes, com outro e que já não signifiquemos o que significamos um para o outro.

No meu emprego novo a primeira cliente que atendi tinha o seu nome, parecia algo kármico, mas era apenas o universo, agindo como sempre age de maneira caótica para me atingir.

Faz tempo que não nos falamos, mas onde estiver, hoje, pensei em você e espero que esteja feliz, minha eterna companheira, minha eterna amiga e uma das cicatrizes no meu coração, a primeira.

Gustavo Campello
Texto em Itálico: Extraído do Filme "Além da Linha Vermelha" (1998) de Terrence Malick

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

KRAFTWERK



Marcel estava casado e esperando sua primeira filha que iria nascer em breve, portanto sua esposa não poderia ir no show do Radiohead, tinha um ingresso sobrando.

- Fala, Marcel! – Vitor atendia o telefone após olhar no identificador de chamadas.

- Quer ir no show do Radiohead?

- Querer não é poder!

- Agora é, to com um ingresso sobrando!

Era uma espécie de despedida de solteiro do amigo de longa data, Vitor sabia que provavelmente jamais iriam a um show de novo. Marcel estava adentrando na vida de casado, com outras responsabilidades, de ser marido, pai e mais um monte de coisas que essas coisas acarretam. Vitor estava orgulhoso do amigo.

Foram em uma Van fretada naquele 22 de março de 2009, Vitor foi o último a chegar, atrasou porque foi almoçar com a namorada Beatriz. Estavam indo Vitor, Marcel e o irmão mais novo de Marcel, Eurico. Vitor se lembrava deste último como um pivetinho que curtiam zoar, mas já era um homem feito e iria acabar casando bem antes de Vitor.

Ficaram em um boteco algumas horas antes de entrar no Jockey Club, onde seria o show, beberam cerveja e colocaram o papo em dia. Marcel estava morando em Curitiba, bem longe de Vitor e sempre se viam esporadicamente agora.

A banda Los Hermanos abriu ao show e uma multidão gritava “Pedófilo!!!!”. Depois foi a vez do Kraftwerk entrar e aquilo não era mais um show, era uma aula de história da música eletrônica.

Começaram com The Man-Machine e durante todo o show, eles esqueceram completamente que era um show do Radiohead. Se a banda principal não pudesse se apresentar, aqueles velhacos imitando robôs já valia o ingresso. O show não foi curtinho, tocaram 13 músicas no total, passando pelos grandes sucessos da banda como Tour de France e Radioactivity, mas foi na primeira música do Bis que Vitor foi a loucura quando tocaram The Robots.

We're functioning automatic
And we are dancing mechanic
We are the robots
We are the robots
We are the robots
We are the robots

Era assim que Vitor andava vendo a humanidade, todos ligados no automático, todos como robôs sem emoções, sem sentimentos, frios como gelo.

Tocaram duas músicas depois, mas a mente de Vitor já divagava, olhando todas as pessoas a sua volta como autômatos, como seres mecânicos que não conseguiam pensar por si só. Será que estava sozinho no mundo?

Até hoje a resposta que guarda dentro de si é “sim”.

Gustavo Campello