Pode parecer
um texto de modinha, pode parecer um texto pra entrar na onda, mas não é... Eu
realmente curtia o David Letterman. Não assistia a seu programa faz anos, já
que não tenho televisão em casa desde 2007, mas me lembro que em 2004 até 2007
(quando eu tinha TV a cabo) ele me salvou de inúmeras noites de insônia e era
um dos poucos programas que acompanhava na TV já naquela época. Hoje (dia 20 de
Maio de 2015) chegou ao fim um programa que estava ao ar por 33 anos na televisão
americana e por mais que os brasileiros não tenham sentido nada em sua maioria,
me veio uma tristeza difícil de explicar.
Por quê?
Nos meus
últimos oito anos de vida tenho vivido a vida sem televisão, não tenho
televisão em casa e não tem me feito falta nenhuma. Faço download de filmes da
internet e quase não assisto mais séries, fiz a assinatura do Netflix e ainda usufruo
o meu mês grátis que não pretendo levar adiante. Quando fiquei sabendo da
aposentadoria do David Letterman, não acreditei, achei que era golpe publicitário
(o que me faz voltar àqueles anos que acompanhava o programa e me lembro do
enorme golpe publicitário da entrevista com a Oprah). Era verdade. David
Letterman estava mesmo se aposentando, o que me fez pensar: as duas únicas
coisas que realmente me fazem falta da televisão daquela época eram, os
programas com o David Letterman e o Aqua Teen que passava no Adult Swin do
Cartoon Network.
David
Letterman era um apresentador diferente (que por mais que o Jô Soares tenha
tentado copiar, nunca chegou aos pés), diferente porque parecia estar se
lixando se parecia tosco, se parecia indiferente ou completamente anárquico na
maneira de fazer piada. Fazia piadas com republicanos, fazia piada com
democratas, fazia piada com qualquer coisa (e quando eu digo fazer piada de uma
maneira tosca: não, não é igual ao Gentili), porque por mais toscas que fossem
as piadas, TODAS eram inteligentes, todas eram meticulosamente elaboradas. Até
as piadas ruins que deixavam o apresentador com cara de idiota no palco com
silêncios constrangedores.
A televisão
perdeu uma de suas lendas, que trouxe inovação na maneira de se fazer
entrevistas, na maneira de encarar o showbusiness e de lidar com o público
(lembro de flashes ao vivo de um imigrante que tinha um mercadinho na rua do Ed
Sullivan Theater que era simplesmente as melhores partes do programa). Bill
Murray foi o primeiro a ser entrevistado e o último, só isso já foi um baita
golpe de mestre, com uma grande despedida com direito a tortas na cara e show
do Bob Dylan. O maior brilhantismo de David vem com o final, sabendo a hora de
parar, sabendo que não tem mais relevância pra uma sociedade que não liga mais
pra nada, que só sabe tirar selfies e viver dentro de uma rede social, deixando
de lado a realidade. David Letterman não era virtual, era de carne e osso, uma
pessoa real e isto é absurdamente estranho pras novas gerações que idolatram
uma mídia cada vez mais maquiada.
David
Letterman vai deixar um enorme buraco na televisão, mas com a rapidez do mundo
atual, um buraco que vai ser preenchido, infelizmente, rápido demais. Para
aqueles que acompanharam, nem que seja por um curto período de tempo (como eu),
seu programa, fica aquele gostinho de “queria ter assistido mais vezes”. E fica a impressão de que há cada vez menos espaço para programas diferentes e inteligentes na televisão (em qualquer parte do mundo).
David
Letterman salvou várias de minhas noites enquanto minha companheira dormia
profundamente ao meu lado. Fica aqui meu muito obrigado!
Gustavo Campello
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