quinta-feira, 30 de agosto de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O TÉDIO



Quando se é criança o tédio não existe. Se acabar a energia criamos um cenário fantasmagórico onde monstros devem ser caçados e pigmeus nos espreitam ora como aliados, ora como inimigos. Se nossos pais nos trancam em um quarto de castigos, logo fazemos da cama uma savana onde leões e elefantes lutam por suas vidas contra caçadores selvagens e o armário se transforma na maior montanha a ser escalada, um verdadeiro Everest. Na escola basta desenharmos rostos em borrachas e transformar o estojo em uma enorme nave espacial. Se lá fora está chovendo a casa se transforma em uma arca de Noé.

O tédio não existe para uma criança.

Se eu fosse uma criança agora transformaria o universo escuro que me cerca em um véu mágico ou o interior de uma cartola, e seria aqui onde estou neste momento o local de onde os coelhos seriam retirados.

Mas não sou mais criança e o universo não é o interior de uma cartola. O tédio é tudo o que me resta? Será que o fato de eu estar praticamente parado flutuando sem nada para fazer significa que eu não posso quebrar o tédio que me cerca? Poderia jogar tetris com as estrelas ou ser um invasor espacial.

A quem quero enganar?

Tédio!

Gostaria de ter alguém com quem conversar que não fosse eu mesmo. Uma boa refeição antes do fim também seria uma boa. Quem sabe um bom filme, daqueles clássicos que ainda não assisti. Sempre sobra um clássico que você não pode morrer sem ver que você vai acabar nunca assistindo.

O tédio é um sentimento de inexistência, é como se nada mais existisse para se fazer, então você fica a mercê deste do pensamento de que tudo é inútil, de que nada importa e só resta assistir os outros vivendo lá fora.

É assim que me sinto agora, nada mais importa, só me resta imaginar as pessoas vivendo lá naquele planeta que se afasta cada vez mais. Imagino os carros em movimento, as pessoas comendo suas refeições e conversando sobre os seus sentimentos uma com as outras, Rachel olhando para o céu e tentando me imaginar aqui em cima, animais de estimação sendo acariciados, uma flor depositada em um tumulo de alguém querido e o clima mudando constantemente em milhares de regiões.

Em algum lugar agora um temporal se torna mais forte, cortando energias e deixando um menino a imaginar... E nessa região, por causa desta única criança o tédio deixa de existir completamente... Para Sempre.

Eu sorrio e fico a imaginar esta criança que não faz idéia de que eu estou aqui em cima morrendo no espaço enquanto ela está lá embaixo. Brincando, imaginando, criando e feliz.

Gustavo Campello

sábado, 25 de agosto de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE CONEXÕES



Em Memória de Neil Armstrong

Quando nascemos, já chegamos conectado a algo. Nossa família. Conforme crescemos temos apenas dois caminhos a seguir, nos conectamos a mais coisas além da nossa família ou vamos perdendo conexões até não termos mais nada.

Acho que se eu não fosse morrer aqui, chegaria ao ponto onde não teria mais nada. Vinha trilhando um caminho perigoso, me afastando de tudo e de todos. Dinheiro já não me importava mais, bens materiais muito menos. Minha humanidade ia escorrendo do meu corpo aos poucos, como se fosse tirada de mim por um conta-gotas. Olhava as pessoas na rua e não sentia nada, não tinha vontade de conversar, de interagir ou de fingir que era parte de alguma sociedade que não me dizia respeito. Estava me perdendo, agora eu consigo enxergar, estava deixando que minha alma me deixasse.

Conheci Rachel há pouco tempo e achei que ela seria minha salvação, mas eu estava errado em dar tamanha responsabilidade nas mãos de uma única pessoa. A responsabilidade tinha que ser minha. Consigo ver agora que se eu tivesse continuado lá embaixo ela não teria me salvado, talvez eu tivesse tragado sua alma para o buraco junto com a minha. Pobre Rachel. Temos sorte, você e eu. Agora eu consigo ver que não foi nossa conexão que me salvou, mas foi o meu afastamento de tudo no espaço que fez isso. Só agora que eu estou longe de tudo é que estou conectado de novo com a essência das coisas.

Para nos conectarmos ao mundo, amar o próximo, nutrir compaixão e fazermos parte de um todo é preciso primeiramente estar conectado a si mesmo. Mesmo aqui tão longe de tudo ainda não estou desconectado de tudo, pois tenho a mim mesmo para me conectar. Somente quando você consegue se entender consigo mesmo, saber quem realmente é, seus sonhos e desejos é que você estará disposto a dar um passo a frente e estar realmente conectado ao mundo como ele deve ser.

Agora, que estou afastado de tudo, é o momento em que eu nunca estive tão conectado a tudo e a todos que estão naquele planeta. Posso sentir as tristezas e felicidades, posso sentir como uma folha se sente ao ser carregada por uma brisa suave de primavera, sinto fome e fartura ao mesmo tempo e principalmente sinto o gosto salgado das lágrimas que escorrem agora pela pele macia da Rachel enquanto ela pensa em mim aqui em cima pensando nela.

O mundo é como uma enorme teia de aranha, onde tudo está conectado. Se Deus tiver alguma forma, com certeza é a de uma enorme aranha, puxando seus fios, ligando tudo em um complexo quebra cabeças. Conectando e desconectando. Tecendo novos caminhos em fios quase invisíveis.

Estou feliz por estar conectado agora.

Estou feliz porque consigo ver os fios quase invisíveis e me espanta como quase ninguém consegue vê-los. Porque agora que eu realmente parei para prestar atenção, eles são enormes e impossíveis de se ignorar. É só realmente abrir os olhos que eles estarão ali.

Abra os olhos!

Gustavo Campello

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A SOLIDÃO



Vagando no espaço infinito, faz a gente pensar em como estamos sozinhos, mas a verdade é que eu estou tão sozinho agora como sempre estive em toda a minha vida.

A solidão é o pior sentimento que existe. Se você sente ódio, rancor, raiva, tristeza, desespero e misturar tudo isso, não chega nem perto do que é se sentir sozinho. Ao longo da minha existência conheci várias pessoas que gostaram muito de mim, mas não conheci ninguém que era feliz convivendo comigo. Isto é triste. Sozinho.

A felicidade só existe quando você tem pessoas para compartilhá-la, que comemorem seu sucesso com você, que incentivam você a continuar, que te abraçam em momentos de fracasso e que suspiram no seu ouvido “você é importante”.

Aqui no espaço não tenho nada disso, porém na Terra esses momentos foram tão poucos e tão passageiros. Quem estava realmente do meu lado eu não consegui enxergar e quem eu achei que estava não estava. Meu coração ficou frio como gelo e duro como pedra.

A culpa foi minha?

O medo de me machucar em cada relacionamento, seja familiar ou amoroso, ajudou a construir o muro que me isolou de todos os seres humanos que estão lá embaixo agora?

Não tenho mais tempo, de concertar a minha vida, de quebrar o muro. De dizer o quanto a solidão me destrói, me corrói, me desgraça as vísceras.

Gostaria de um abraço agora.

Gostaria de sentir minha pele em contato com outra.

Não tenho tempo.

Quantas pessoas lá embaixo se sentem como eu aqui? Quantas vezes pensei em colocar uma arma na boca e acabar logo com tudo isto?

Solidão.

Sozinho.

Pessoas ao redor que nada sabem, que nada acrescentam, que nada percebem, que não se importam. Tantas delas. Te tocando, te dando conselhos, fingindo.

Penso se do outro lado as coisas vão ser assim também. Será que depois que eu chegar lá vou conhecer alguém que realmente fará eu me sentir parte de algo ou as coisas vão ser as mesmas?

O paraíso deve ser um lugar onde a gente se sinta bem, então este sentimento deve se dissipar, mas ele está aqui dentro a tanto tempo, como é possível? Ele simplesmente vai evaporar como água em uma panela no fogo?

Nessas horas deixo de acreditar no outro lado. Começo a pensar que é assim mesmo, caminhamos para a inexistência na completa solidão. Quem se lembrará da gente? Quem estará em nosso funeral e chorará por nossa partida? Gostaria de poder saber. Olhar o rosto das pessoas sentindo a minha falta e finalmente perceber que não estava sozinho.

Gustavo Campello

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE FUTILIDADES



A vida é tão curta e perdemos tanto tempo com idiotices...

O mundo capitalista em que vivemos se tornou uma armadilha que nos prende pelas entranhas, não há escapatória, uma hora ou outra você vai ser pego. Seja comprando chaveiros na Disneylândia ou algum enfeite inútil de cristal para colocar em cima da sua lareira. Seus filhos vão querer se enturmar com as massas escutando qualquer lixo que a indústria nos enfie goela abaixo. Música ruim. Arte ruim. Costumes ruins. Comida ruim. Empregos ruins. Vidas vazias. Padrão. A sociedade vai ditar regras de como você deve viver e você não pode gritar “NÃO!”, porque senão você vai ser o louco, o excluído, sem chance de trabalho ou sobrevivência. Extirpado como uma doença. O capitalismo é como um monstro telepático controlando nossas mentes, criado em nossas próprias casas por nós mesmos. Ligamos a TV para não pensar, comemos enlatados porque é mais fácil, lemos porcaria para não nos preocuparmos com a realidade que bate lá fora. “Trabalhamos em empregos que odiamos para comprar porcarias de que não precisamos!” já dizia Tyler Durden no clássico Clube da Luta. Quando a sociedade vai acordar? Quando seremos uma legião indo contra o que nos faz infeliz? Porque temos que ser infeliz? Banqueiros ganham fortunas em cima da miséria dos outros, eles precisam de pessoas comendo merda para garantir sua lagosta nas refeições de sábado a noite. Mas quem quer se preocupar com isso? Da trabalho pensar e trabalho é o que menos queremos. Doenças são testadas na áfrica para as empresas farmacêuticas ganharem fortunas com medicamentos já criados antes da própria doença existir. Não moro na África, não é da minha conta. Não é da minha conta. Não é da minha conta. Não é da minha conta. Não é da minha conta. Não é da minha conta. Não é da minha conta. Não é da minha conta. Conta pra pagar do cartão de crédito. Minha conta. Conta da internet, televisão, escova de dente elétrica, creme facial, juventude eterna. Minha conta. Roupa cara: Hollister, Prada, Gucci e sei lá mais que porra existe por aí. Sinto-me sozinho em um mundo que não consegue olhar pra fora, tento conversar e as pessoas me ignoram, elas não querem saber, elas não se preocupam, me olham com horror. “Que pessoa chata é esta que só sabe falar de coisas que não me diz respeito, quero um homem que possa conversar comigo sobre a novela de ontem”. Não assisto TV há mais de 10 anos, não consigo, no máximo compro um filme e coloco pra assistir. Sem propaganda, sem interrupção, sem pessoas querendo que eu vendesse a alma pra comprar merda. Merda eu faço na minha privada, merda eu vejo quando olho pela minha janela em outdoors gigantes, merda é como as pessoas tratam umas as outras. Fomos ensinados assim, adestrados como animais, presos em um cercado minúsculo e vivendo vidas inteiras sem saber como é o mundo lá fora, sem saber como as coisas realmente são ou deveriam ser.

As idiotices são tantas e consomem toda a nossa vida, que é tão curta...

Gustavo Campello

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE AS MULHERES



Tem coisas que eu lembro agora que estavam completamente perdidas. Fico feliz de poder lembrar-me de tudo, parece que meu cérebro ativou memórias que estavam suprimidas há décadas. Houve tantas mulheres em minha vida e tão poucas realmente significativas.

Luiza era uma garota companheira, éramos amigos, nunca nos relacionamos como namorados. Ela foi a pessoa mais atenciosa que conheci. Ainda lembro-me do vestido branco que ela vestia, quando a conheci, na festa de quinze anos da minha prima. Posso sentir o seu cheiro aqui dentro do meu capacete. Ela me tratou melhor do que todas as pessoas que conheci, mas nunca nos relacionamos.

Carla... Oh Carla... Desculpe-me por ter te pedido para fazer aquilo.

Tento não pensar em Carla, em seus ataques de nervosismos e da mania que tinha de tomar água durante a madrugada. Sempre me acordava. Gostava de conversar com ela, não tínhamos muitas coisas em comum, então prestávamos muita atenção um no outro. Mundos diferentes, histórias diferentes... Era interessante.

Tive medo do nosso envolvimento, terminou quando eu tinha vinte e dois anos, começou aos meus dezessete. No começo não tive a mínima vontade de namorar com ela. Ficamos acostumados a ficar juntos, durante muito tempo foi tudo o que tivemos. Um ao outro. Não agüentava o ciúme dela... Ela não agüentava minha determinação desde novo para ser astronauta.

- Você sonha demais – ela dizia – não quero estar com uma pessoa que só sabe sonhar e não faz nada!

Silvana foi diferente, foi a melhor pessoa que já conheci. Menti para ela. Menti? Será que eu realmente menti? Tem hora que a memória falha, mas dura pouco. Posso não ter mentido, mas fui um tremendo de um calhorda. Depois de tudo o que aconteceu entre a gente eu só queria fugir para longe. Olhei para o foguete que ia me servir de transporte até a estação espacial e disse – Me leve para longe – e lembrei-me de Silvana naquele momento mesmo depois de anos.

Minha mãe foi uma mulher importante também na minha vida. Controladora, metódica e durona. Quase um robô. Apelidei o robozinho que controlávamos via controle remoto na estação espacial de “Mãe”. Percebo agora que vim para o espaço para fugir um pouco das mulheres da minha vida, não que a culpa seja delas.

Rachel é uma boa garota, já deve saber neste momento que eu não vou voltar. Gostaria de mandar uma mensagem para ela em Código Morse, o pessoal da estação diria a ela “Sinto muito, não espere por mim. Viva!”.

Gostaria de saber como Luiza está hoje.

Gostaria de ter uma ultima conversa com Carla.

Gostaria de pedir desculpas para Silvana.

Gostaria de tentar fazer com que as coisas dessem certo com Rachel.

Gostaria de falar coisas engasgadas na minha garganta por anos a fio para minha mãe.

Mas agora é tarde.

Fecho os olhos. Penso em seus rostos e tento lembrar de cada detalhe com carinho.

Gustavo Campello

terça-feira, 7 de agosto de 2012

CONCURSO SESC BIENAL DO LIVRO

Olá
Peço para, por favor, entrar no Link e votar acima do vídeo.... Esta votação me ajuda a participar da Bienal pelo SESC e há uma grande chance de acontecer a publicação do meu livro.

Peça para seus amigos votarem tmb! Me ajudem! Compartilhem em seus murais!

Se você já votou é preciso fazê-lo de novo, pois o sistema zerou os votos hoje devido a um erro no sistema!

domingo, 5 de agosto de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE EXTRATERRESTRES



Quando eu era pequeno, sempre que havia uma prova de matemática, eu torcia para que uma nave espacial me levasse embora. Algumas vezes eu acreditava tanto que isto ia acontecer que eu nem estudava para a prova. Nunca aconteceu.

Cresci e parei de acreditar em alienígenas, não que eu ignoro a existência deles, mas não acredito que de todos os cantos do universo eles fiquem voando pelo nosso planeta. Quais as chances disso? Se eles têm naves espaciais que percorrem enormes distâncias em um curto espaço de tempo, porque diabos estariam sobrevoando o nosso planeta insignificante? Não, definitivamente não acredito em alienígenas por aqui... Digo... Por ali, no planeta Terra.

As vezes eu achava que meus pais iriam chegar para mim e dizer “Filho, temos um segredo para lhe dizer” – eu ia achar que eles estavam se separando, mas então – “Na verdade somos extraterrestres e temos que ir embora daqui” – e tudo estaria explicado, o motivo por eu não me encaixar, o sentimento de ser diferente. Pensando agora não sei se seria uma boa, acho que o nível de matemática de uma civilização que constrói discos voadores deve ser muito mais difícil.

A matemática sempre foi um obstáculo, mas foi algo que venci para me tornar astronauta. As provas e testes não foram fáceis.

Venci a matemática para morrer no espaço.

Tenho que parar de pensar que vou morrer no espaço, não adianta nada ficar todo minuto pensando nisso, as coisas não vão mudar se eu ficar reclamando e não quero morrer como um velho rabugento... Reclamando de tudo...

Queria conhecer um planeta onde as pessoas tivessem uma cultura de aversão a acúmulo e ostentação de riqueza. Onde o que realmente importa é viver em harmonia com o ambiente e os outros seres vivos, respeitando e se importante em evoluir mental e espiritualmente. Porque precisamos criar um planeta assim em nossas mentes? Porque não fazer do nosso planeta um exemplo?

Se eu fosse um extraterrestre e viesse para a Terra com o meu disco voador, não bastaria nem quinze minutos para que eu desse as costas para este planeta e fosse embora correndo para nunca mais voltar.

Devíamos ter vergonha de sermos como somos.

Gostaria de falar para algum ser de fora – Sinto muito – começaria – mas eu sinto vergonha por ser lá daquele planetinha azul e insignificante.

- Você é lá daquele planetinha azul e insignificante? – ele diria assustado e sairia correndo logo depois para não ter contato com ninguém da Terra. Se extraterrestres existem, então acho que ele tem medo de nós.

Tudo o que tocamos, nós corrompemos.

Tudo o que enxergamos, nós queremos.

Tudo que sonhamos, nós sonhamos apenas para nós. Porque somos egoístas.

Talvez seja bom morrer longe de tudo isto, sem a presença de todas essas coisas negativas ao meu redor. Acho que vou gostar de morrer sem ninguém invejoso ao meu lado. Sem a tristeza de olhos marejados de quem amamos a nos olhar doentes em uma cama.

Olha só eu de novo, reclamando, mas que velho rabugento eu me tornei.

Gustavo Campello