segunda-feira, 27 de maio de 2013

FERREIRA GULLAR X ARTE CONTEMPORÂNEA



Em Janeiro deste ano saiu uma entrevista com o poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e um dos fundadores do neoconcretismo, o Sr Ferreira Gullar.

A entrevista você pode ler na integra no link abaixo:


Nela o Sr Gullar transcorre sobre arte. Fiquei um tempo pensando sobre o assunto e resolvi escrever um texto para o blog. Acho que é a primeira vez que eu publico algo assim por aqui. Li a entrevista e os comentários de algumas pessoas e me espantei em como a grande maioria defende com unhas e dentes o poeta. É muito fácil ser meio “Maria vai com as outras” quando um cara de renome como o Ferreira Gullar expõe alguma idéia, eu mesmo até certo ponto do texto estava sendo levado até o momento em que ele critica o artista plástico Joseph Beuys, do qual sou um grande fã. A partir daí já comecei a ler o restante da entrevista com outros olhos.

Gullar afirma que nem todo mundo pode fazer arte e que existe uma diferença entre arte e expressão. Bem, sou apenas um mero aspirante a escritor com cinqüenta anos a menos do que ele, mas não posso simplesmente concordar com isto. Não quero me auto-promover com este texto criticando um grande escritor brasileiro, mas ao meu ver, o que o Sr Ferreira Gullar disse nesta entrevista é uma tremenda bobagem.

Joseph Beuys disse que todo mundo pode fazer arte, Ferreira Gullar rebate que não e dá exemplos como “Nem todo mundo pode jogar bola como Zico” ou “Nem todo mundo pode tocar Bach”. Verdade, eu não jogo bola como o Zico, na verdade eu nunca devo ter chutado uma bola porque nunca me interessei por jogar futebol, simplesmente não fez parte da minha vida tal coisa. Já brinquei no piano da minha avó quando era pequeno e também nunca me preocupei em tocar Bach. Isto não significa que eu não tenha a capacidade para isto. Poderia ter jogado bola como o Zico se eu tivesse me esforçado para isto. Todo o ser humano pode alcançar o seu potencial, acredito nisto.

Acredito que escrevo bem, alguns familiares pensam que é um dom e blá blá blá, mas eu tive que ler muito Hemingway, Dostoiévski, Bukowski, Fante, Kafka, Garcia-Marquez, entre outros para conseguir escrever razoavelmente bem na minha concepção. Acredito que ainda tenho muito que ler pra chegar onde eu quero. Posso nunca chegar a escrever como o Hemingway, tudo bem, mas não significa que o que eu escrevo não é nada, não vale nada e não é arte.

Em um dos comentários, uma usuária do Instituto de Artes da UNESP chamada Beatriz Ruco consegue simplificar todo o meu argumento: “Ele falou coisas das quais compartilho como obras que não fazem o menor sentido, não atingem nenhum objetivo e são defendidas por críticos que fazem menos sentido ainda.Isso me lembra o porco empalhado , obra de Leiner.
Porém não sou eu e muito menos o grande Ferreira Gullar que pode definir o que é e o que não é arte, podemos apenas não gostar do que vemos. Queria ainda lembrar que discordo totalmente desse pedestal em que colocam o artista, como se ele fosse um ser iluminado pelo dom. Acredito que sim, qualquer um pode fazer arte (alguns com mais facilidade) ou seria inútil estudar a forma, o desenho, a pintura e deixaríamos tudo por conta do dom.”

Eu, particularmente, odeio Picasso. Não me agrada olhar para os quadros dele. E aí? Só porque eu não gosto de Picasso ele não é arte para mim? Quem dita o que é e o que não é arte? Adoro os quadros do Pollock, tem gente que odeia. Pode algo ser arte pra mim e não ser arte pra outra pessoa? Arte é arte e pronto. Nem tudo vai descer redondo pela garganta de todo mundo.

Pelo discurso do Gullar poderíamos então jogar no lixo a arte de Marcel Duchamp? Teria ele feito mal para o mundo das artes? Certa vez o escritor Paulo Coelho declarou que James Joyce fez mal para a literatura, achei de um tremendo mal gosto este comentário. Ao meu ver, se Joyce fez mal a literatura, fez bem menos mal que o Sr Paulo Coelho. Esta entrevista parece seguir o mesmo caminho. Ferreira Gullar dizendo que Beuys e Duchamp fizeram mal para as artes plásticas. Quem é ele para dizer isto?

Duvido que meu estilo de literatura agrade ao Sr Ferreira Gullar, devo ser enxotado como escritor por isto? Não quero um Prêmio Nobel e muito menos um lugar na Academia Brasileira de Letras, mas sou um escritor sim. Respeito é bom e eu gosto. Odeio os livros do Paulo Coelho, mas que direito eu tenho de dizer que o que ele escreve não é literatura? Posso até chamar de péssima literatura, mas ainda assim é literatura.

O porco empalhado de Leiner pode até ser chamado de péssima arte por quem não se sentir agradado por ele, mas não deixa de ser arte. Já vi várias performances por aí, nunca entendi direito elas e já até rendeu uma crônica chamada Arte Transgressora. De todas que vi, gostei só de uma. Quem sou eu pra dizer que arte performática não é arte? É preciso que alguém pinte a performance para que seja arte? Desculpem-me, mas a visão de arte de Ferreira Gullar está muito limitada na minha opinião.

Gullar ainda diz “Vídeo bom é aquele que narra al­guma coisa”. Sou fã do David Lynch e também sou obrigado a discordar desta frase. A imagem pode nos tocar com sentimentos sem que seja uma simples narrativa. O vídeo pode ser usado sim como algo muito maior do que uma simples narrativa.

Espero não ter falado bosta demais, sou apenas um apreciador de arte, conheço muito pouco, meu negócio é mais a literatura mesmo. Achei que minha opinião sobre o assunto fosse acrescentar algo a discussão.

Pensem sobre o assunto!

Gustavo Campello

segunda-feira, 20 de maio de 2013

U2



O U2 estava com a turnê Pop Mart explodindo de público por onde quer que passasse. Era uma febre! Os ingressos esgotavam rapidamente. Vitor e Marcel queriam ir neste show a qualquer custo, mas não haviam mais ingressos.

Vitor começou a escutar U2 quando a banda havia lançado o álbum Zooropa, quatro anos antes do lançamento do álbum Pop que rendera a turnê Pop Mart que estava em questão. Foi seu primo Giulio que comprou o Zooropa em 1993 e que Vitor havia gravado em uma fita K7 que ficava tocando em seu walk-men enquanto descia para a praia todo o final de ano com sua família. Foi esta fita K7 que o salvou de horas dentro de um carro tocando músicas chatas de dancing que sua irmã adorava.

Foi Marcel que viu no jornal uma empresa de turismo oferecendo um pacote completo para o show. Estava incluso o ingresso e transporte. Perfeito! Foram até lá e fecharam tudo por uma pechincha. O ingresso era para as cadeiras numeradas, mas estava ótimo já que estava difícil conseguir ingressos por aí.

Vitor ficou puto quando descobriu que suas duas primas haviam comprado um ingresso para ir. Elas nunca haviam escutado U2 na vida. E foi assim por todos os lugares, as pessoas não iam por causa da banda, mas sim por causa do evento. Não importava se a pessoa nunca havia escutado U2, a turnê tinha a maior televisão do mundo. VÃO SE FODER pensava Vitor.

No dia do show tudo correu perfeitamente bem, a empresa de turismo não era um golpe, os ingressos eram reais e estavam no Morumbi no dia 30 de Janeiro de 1998 como tudo fora planejado.

Chegaram de tarde, havia muito tempo para o show. Vitor e Marcel como bom corinthianos cuspiam no símbolo do São Paulo toda vez que passavam por ele. Foram até a cadeira numerada que estava marcada em seus ingressos e sentaram ao lado de um velho com o cabelo rosa. Vitor pensou em pintar o cabelo de rosa também, mas nesta época tinha o cabelo pintado de amarelo. Tomaram uma cerveja e foram atacados por um enxame de abelhas. Pisotearam todas.

- Esta cadeira numerada é uma bosta – disse Marcel.

- A gente precisa ficar aqui?

- A gente podia ir lá no meio da multidão, afinal nosso ingresso é mais caro que a pista.

- Vamos lá!

Vitor e Marcel foram até a pista onde se aglomerava um monte de gente e ficaram mais perto do palco que se ficassem nas cadeiras numeradas.

- Cadeira numerada é pra idiotas! – disse Marcel feliz com a nova posição que conquistaram.

- Pra idiotas que tem medo de multidões – Vitor lembrou-se que suas primas iriam ficar nas cadeiras numeradas e completou – e pra idiotas que só vieram pra ver a maior televisão do mundo.

Uma bandinha ganhadora de algum prêmio chamada Bootnafat começou a tocar. Até que era bem legal. Tocaram Killing in The Name Of do Rage Against The Machine e aparentemente só Vitor e Marcel pularam e se divertiram no meio de toda aquela gente. Público pop é foda!

Quando entrou o Gabriel, O Pensador a galera foi ao delírio, só porque era um babaca vinculado pela mídia. Vitor sentou no chão e aproveitou pra descansar enquanto o babaca cantava contra o sistema e enchia o bolso de dinheiro com o mesmo sistema.

U2 entrou e foi um puta show! Não há como explicar aquela televisão enorme mandando um monte de imagens direto pro seu cérebro enquanto o U2 tocava músicas de uma época em que ainda inovavam alguma coisa no rock. Vitor preferia a fase mais eletrônica deles que começou no álbum Achtung Baby, mas Marcel era mais tradicional e preferia o álbum Joshua Tree.

Para Vitor o ponto alto do show foi quando tocaram Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me:

You don't know how you got here
You just know you want out
Believing in yourself almost as much as you doubt,
You're a big smash
You wear it like a rash
Star.

O ponto baixo foi tocarem Sunday Bloody Sunday em versão acústica. Esta música era baseada no Domingo Sangrento, um confronto entre manifestantes católicos e protestantes, e o exército inglês na Irlanda do Norte no dia 30 de Janeiro de 1972. Houve 14 fatalidades entre os ativistas católicos e 26 feridos. Naquele exato dia o Domingo Sangrento fazia 26 anos e quiseram tocar com um tom melancólico. Vitor e Marcel queriam o som forte da bateria e da guitarra, mas tiveram que se contentar com o que tiveram.

Quando o show acabou eles estavam simplesmente suados e morrendo de sede, havia caído uma garoa que não atrapalhou o show, mas que com certeza traria uma gripe. Chegaram no ônibus e não havia mais água. Vitor pegou uma pedra de gelo e a mastigou. Seus dentes sempre foram de aço, mastiga gelo como se fosse gelatina. Todo mundo olhava pra ele dando risada, a pedra de gelo era do tamanho de uma maça.

Houve outras duas passagens da banda pelo Brasil, uma em 2006 e outra em 2011, mas Vitor não conseguiu ingressos. Em 2006 ficou ligando que nem um louco porque as vendas eram por telefone. Perdeu horas da sua vida e ficou puto. Em 2011 queria mais é que se fodessem, não iria ficar atrás de ingressos que nem um louco e ainda por cima pagar uma fortuna.

Sentia falta da pegada eletrônica da banda, eles ainda faziam um rock excelente e honesto, mas faltava inovação, como quase todas as outras bandas das antigas que haviam ficado por aí.

Gustavo Campello

quarta-feira, 1 de maio de 2013

BUSH



Vitor começou a escutar Bush desde que lançaram seu primeiro álbum, Sixteen Stone, comprou o CD em uma loja que vendia várias coisas importadas de bandas de rock. Eles não estouraram no Brasil até que lançassem o segundo álbum, Razorblade Suitcase, foi quando a banda veio fazer um show e Vitor com certeza estaria lá.

Marcel não era um grande fã da banda e resolveu não ir. Bush era uma banda inglesa que talvez fosse o último suspiro do grunge para Vitor. “Banda inglesa fazendo grunge?” – pensava Marcel – “Não dá muito certo isso!”.

Vitor decidiu ir sozinho.

Um dia antes o David Bowie havia tocado em São Paulo em um festival patrocinado por uma pasta de dente, mas nesta época Vitor não levava a música tão a sério. Se arrependeria pelo resto da vida por ter preferido ir ao show do Bush. David Bowie viria a se tornar seu cantor preferido anos mais tarde.

Conheceu um pessoal assim que chegou. Um cara da idade dele e uma garota uns sete anos mais velha. Era o dia 10 de Novembro de 1997 e a garota mais velha havia assistido ao show do David Bowie.

- Fui ontem no show do Bowie – falou ela toda orgulhosa.

- Grandes merdas ir no show do Bowie – replicou Vitor – depois todo mundo que gosta do Bowie é viado mesmo.

- Bowie foi o cara mais importante pro rock na minha opinião – disse a garota rindo e levando o comentário na esportiva.

A verdade é que Vitor era um homofóbico babaca criado por uma sociedade preconceituosa nesta época. Foi só depois de muito tempo que conseguiu deixar seus preconceitos e valores retrógrados pra trás graças a um vizinho homossexual que conseguiu fazer com que Vitor finalmente abraçasse a literatura como o maior sentido de sua vida.

A banda finalmente entrou no palco e Vitor estava relativamente bem próximo da grade de segurança. As garotas soltaram gritinhos histéricos por causa do Gavin Rossdale, vocalista e guitarrista que era tido como o galã do rock do momento.

O melhor momento do show foi quando começaram a tocar Little Things:

going up
when coming down
scratch away
it's the little things that kill
tearing at my brains again
the little things that kill
the little things that kill

Gavin Rossdale chegou próximo a grade com sua guitarra e uma multidão puxou ele pela roupa, gruitarra e até pelo cabelo. Vitor pulou para próximo da grade e segurou bem firme na guitarra dele. Gavin ficou meio assustado, mas logo todos o soltaram, menos Vitor.

- Fuck Off! - disse o líder da banda.

-Dá essa porra de guitarra – gritava Vitor se divertindo como nunca – eu quero a porra da sua guitarra!

-Son of a bitch!

-Dá a guitarra!

Gavin tentou dar um chute em Vitor, mas seu pé bateu na grade. Os seguranças ficaram um tempo sem reação e vieram tentar ajudá-lo. Vitor queria a guitarra a qualquer custo.

Por fim Vitor teve que largar a guitarra e a música continuou depois de um tempo de improviso do resto da banda.

As pessoas arrastaram Vitor para longe da grade, algumas estavam rindo da situação, outras estavam com raiva porque a música havia parado e outras aplaudiam Vitor como um autentico grunge encrenqueiro dos anos 90.

Acabando o show Vitor comprou uma camiseta. Foi a primeira camiseta de turnê que Vitor comprou, ele a mantém guardada no armário até hoje.

Gustavo Campello