segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

DEUSES ADORAM PESCAR



A vida veio do mar, mas o que ninguém sabe é que o universo é o mar dos deuses, as coisas vistas lá de cima fazem sentido, já que pra eles a vida veio do universo. Então vamos ficar nesta comparação, o universo é o mar dos caras grandões lá de cima.

Mas o que ninguém sequer imagina, é que como aqui no nosso planeta, lá entre eles também existem vários torneios universais de pescaria. Jesus é o cara, campeão inúmeras vezes, mesmo que venha perdendo alguns campeonatos recentemente pra Alá e tal. Pelo universo há enormes peixes e os planetas criados pelos deuses nada mais são do que iscas, é isso mesmo, você vive em uma isca de peixe e nada mais. Este ano Jesus acredita que vai conseguir pegar a Moby Dick do universo, já que a nossa galáxia é uma região nova no pedaço e logo logo vai chegar os peixões por aqui.

- Porra, este planetinha azul mequetrefe fede, tu acha que vai pegar alguma coisa com ele? – diz Alá tirando sarro.

- Zoa não! Zoa não! Meu pai que fez!

- Alpha Centauri é muito mais esquema, muito mais organizado!

- Acho que a Terra é mais esquema porque tem o fator surpresa, não tem nada tão esquisito como esses bichinhos que vivem ali.

- Dá nojo, os peixes vão fugir, porra!

- Vou arriscar!

- Tu perdeu os últimos dois campeonatos, Jesus, por causa dessa confiança no teu pai! Te situa!

- Mano, não zoa papai, ganhei muito campeonato com a ajuda dele!

- Perdeu a mão, perdeu a mão!

Zeus anuncia o começo do campeonato e a pescaria começa, cada deus escolhe sua isca e é uma zona. Jesus fica com a Terra, Alá com Alpha Centauri, Ganesh fica com Proxima b, Katrrogarrax fica com Nibiru e os outros vários deuses de fora do universo pegam as suas.

O peixão finalmente aparece entrando no novo “oceano”, os deuses ficam eufóricos.

Enquanto isso em um centro de pesquisas espaciais na Terra:

- Puta que pariu! Que porra é aquela?

E morreu!

Jesus ganhou mais um campeonato.

Gustavo Campello

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

PLACEBO



Era o dia 27 de Abril de 2005, acontecia um evento histórico na cidade em que Vitor morava, o Placebo iria tocar e pela primeira vez não precisaria ir até São Paulo para assistir a um show. Vitor não era mais o cara que havia ido no Rock in Rio há quatro anos atrás. Estava casado com Elize e era pai de uma garotinha, mas o show tão próximo de onde morava não podia ser desperdiçado, Elize concordou que ambos iriam. Este foi o primeiro e único show em que os dois foram juntos.

- Olha essas meninas – disse Elize ao chegar no local – todas alternativas, do jeito que você gosta.

- Eu gosto de você – disse Vitor tentando burlar a insegurança da mulher, ele ainda não estava acostumado com a insegurança constante que paira sobre todas as mulheres que conheceu.

Alguns amigos dele estavam por lá, mas não conseguiu encontrar ninguém, Jorge ligou no seu celular, mas não conseguiram se achar. O show começou com a banda tocando Taste In Man.

Depois da terceira música, uma das preferidas de Vitor (Every You Every Me), Elize começou a reclamar que estava com dor de cabeça. “Qual a novidade?” Vitor pensou, ela sempre estava com dor de cabeça. Praticamente perderam a música Protect Me From What I Want para achar um lugar pra sentar, tinha uns lugares de camarote em um andar acima, onde podiam ficar sentados e tinham uma bela visão do palco.

Quando tocaram Without You I’m Nothing Vitor pulou da cadeira:

I'm unclean, a libertine
And every time you vent your spleen
I seem to lose the power of speech
You're slipping slowly from my reach
You grow me like an evergreen
You've never seen the lonely me at all

Vitor se preocupava com a dor de cabeça de Elize, mas ao mesmo tempo sentia raiva por estar tão distante da multidão que pulava na pista, gostava daquela sensação, das cotoveladas, do suor se misturando, das vozes cantando juntas... ele pertencia a pista, ao amontoado de gente.

Elize estava emburrada, e o emburramento de Elize sempre afetava Vitor, talvez por isso que não deram certo, talvez se ele não ficasse tão afetado não haveria problema, mas ela ficava cada vez pior quanto mais afetado ele ficava e era um ciclo infinito pronto para explodir.

Foram embora discutindo aquele dia, por causa das meninas bonitas com botas e saias e que tinham um jeito de alternativas que Vitor não ligava à mínima, pois só tinha olhos para Elize.

Gustavo Campello

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O COPO NÃO CONTINUA NA JANELA E ESTÁ CHEIO DE GIN



Recentemente li uma carta postada na internet que foi das coisas mais estúpidas que já vi na vida, chamava “Quero Estar Solteira, mas Com Você” e reflete exatamente a geração de hoje, daí li outro texto que chamava “Estamos Formando uma Geração de Egoístas, Egocêntricos, Alienados e Inconsequentes” que vou usar como resposta pra carta.

Tinha uma namorada, é... tinha, no verbo passado, ela picou a mula, foi-se embora, se mandou. Porque? Na minha visão ela se mandou porque a coisa tava ficando séria... é... casamento, responsabilidades, comprometimento... Quem quer isso nos dias de hoje? Seis anos de relacionamento não é brincadeira, pelo menos não pra mim aparentemente, mas pra algumas pessoas é sim. Ela queria estar comigo e se sentir solteira, mas pera lá, comigo não, isso não funciona.

Ou você está solteiro ou você está comprometido. Ponto. Estar com alguém é se comprometer, é se entregar, é amar e ser amado, é compartilhar, é querer estar com esta pessoa, é querer que ela esteja com você, que faça parte da sua vida e não simplesmente ter alguém pra trepar e querer sair com seus amigos sozinho. Eu queria sair com meus amigos com ela lá, queria que ela participasse, queria rir com ela, queria beber com ela, queria sair com ela... enfim, mas a geração egoísta, egocêntrica, alienada e inconsequente não pensa assim, essa geração pensa que ser solteira e estar com você é lindo, afinal esta carta viralizou em toda a internet e você deve ter lido ela em algum momento.

Eu queria casar com esta namorada, queria envelhecer com ela, queria ser feliz e passar por dificuldades, queria vê-la chorar e vê-la sorrir, queria poder estender minha mão quando ela precisasse e queria que ela fizesse o mesmo, mas não foi assim, a gente nem sempre pode ter aquilo que você quer (como já dizia o Mick Jagger naquela música dos Stones).

A vida é feita de escolhas, a gente toma uma decisão e segue em frente, toda ação tem uma reação e precisamos saber lidar com elas. Um relacionamento é uma decisão, quando a tomamos fechamos a porta pra várias outras coisas, não dá pra se ter tudo na vida e é preciso ter consciência disso. Hoje as opções são tantas que as pessoas nem sequer sabem tomar uma decisão. Querem tudo e querem agora.

Enquanto essa geração não aprender a tomar decisões tudo será fútil, tudo será sem sentido, tudo será como é... vazio. Pelo menos pra mim é assim e invejo quem não tem essa percepção da realidade e acha linda a carta do começo do texto.

Estou tentando seguir em frente, esquecer o passado, rasgar lembranças como ela rasgou meu coração (Sim, eu posso soar piegas, tenho todo o direito), sair com amigos, ficar bêbado, sair com mulheres de reputação duvidosa e tudo o que a solteirisse possa proporcionar. Tenho o direito. Enquanto meu coração continua a se recosturar o copo de gin continua sempre cheio e parei de ser trouxa que nem o Jack Lemmon.

Gustavo Campello

domingo, 15 de janeiro de 2017

SOLIDÃO DA MADRUGADA NA PISCINA



Já passam das duas horas da manhã, meu corpo boia na piscina que funciona como um analgésico ao horrível calor que faz nesses dias de verão. Uma garrafa de vinho boia vazia junto ao meu corpo, meu cachorro corre em volta da borda com seu medo constante de que eu me afogue, não foram poucas as vezes que ele pulou achando que estava realizando um resgate heroico. Olho para o céu estrelado, mesmo bêbado consigo localizar Alpha Centauri, minha casa, pra onde sonho um dia poder voltar.

Esta piscina de amores, temores e tantas histórias.

Lembro-me quando meu avô escorregou e bateu com a cabeça na borda, sua cabeça abriu, o sangue jorrava e se misturava na água, tentava estancar a corrente do líquido vital em vão, o sangue melado escorria pelos meus dedos e ele tentava a todo custo me acalmar, fingindo que não havia sido nada. Levou vários pontos, mas durante muito tempo a única imagem que tinha quando ia nadar era da água ficando vermelha.

Ainda consigo ver ela na borda conversando comigo, eu declarei meu amor ali e ela sorriu, e consigo lembrar como se fosse ontem, do peito batendo mais forte, dos olhos dela brilhando, da energia que transcorria pelo meu ser de que tudo iria ficar bem, de que daríamos um jeito no que viesse pela frente, mas ela me abandonou mais vezes do que posso contar.

Uma vez posso jurar que deitado assim como estou agora pude ver um veículo de última geração recém fabricado em Alpha Centauri passando muito próximo, foi muito rápido, mas por um minuto achei que finalmente haviam me achado, que finalmente iam me tirar daqui, mas eles nem me viram, ou se viram, nem se preocuparam em me tirar daqui.

Sozinho, boiando, mas querendo afundar.

Gustavo Campello

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O MAQUINISTA ESTÁ MORTO



Em Memória de David Bowie

Desapareceu para achar longamente um novo maquinista. O antigo está morto, neste momento ele está flutuando de um jeito muito peculiar, e se as pessoas pudessem olhar por trás das paredes do Edifício, veriam que as estrelas estão bem diferentes hoje. Mas o novo maquinista há de surgir, enquanto isso não há viagens para fora do Edifício.

Vão de ferro até o Deus Fungo, pois o ferro é o caminho, ele tudo queima, o único medo do Deus-Fungo é o ferro, mas enquanto não houver um novo maquinista canhoto que vá longe demais o ferro será a estrada da enganação. A maneira Dele escapar. Mas Dele ninguém escapa.

Todos foram aos subterrâneos, que apesar do tamanho, foi suficiente para o adeus. Lá estavam os Duendes Mecânicos, mas não foram ao mesmo tempo, mas dando gritos para o nada que o mataram, perseguido por pequenas rodas verdes. 

No Mundo Poderoso do Fígado ele está, mas não é mais desperto, pois o abismo da morte era realmente fantástico.

Falam dele, aguardam as drogas mutiladas lá da rua. A droga azul. Fuga inevitável da manipulação dos Duendes Mecânicos. Fuga do controle do Deus-Fungo. Sem o maquinista só resta a droga azul, nada mais.

Cansado de sua missão, morreu chegando ao seu parecer sobre o Edifício. Lugar dos vivos que não vivem, lugar onde a morte não consegue chegar. Mas o parecer final apenas ao maquinista pertence.

Ele, o metrô, veio. Ele desapareceu por um longo tempo para achar um novo maquinista, mas ele voltou livre, como um pássaro azul e com cicatrizes que não podiam ser vistas.

Gustavo Campello

domingo, 8 de janeiro de 2017

BOWIE: LUTO E CELEBRAÇÃO



Há exatamente um ano atrás estava sendo lançado o álbum Blackstar do Bowie, no dia do aniversário de 69 anos do artista. Ele que foi o meu maior ídolo, a minha maior fonte de inspiração em muitos aspectos iria falecer dois dias depois dando um susto em todos os seus fãs. Parece bobagem, mas fiquei em choque, decidi entrar em um luto e só escrever sobre o impacto disso tudo um ano depois, fiquei em silêncio enquanto a maioria de seus fãs escreviam sobre o assunto.

As crônicas da série Vagando no Espaço de Divagações foram obviamente inspiradas no Major Tom, criado por David Bowie no álbum Space Oddity, o cantor ainda é um personagem chave de enorme importância nas crônicas da série DuendesMecânicos, que voltará a aparecer por aqui. As referências dele no meu trabalho não param por aí, mas essas são as mais importantes que me vem na cabeça agora. Ah, teve um texto que também lembrei agora: Bullying.

2016 foi um ano difícil, por vários motivos, vi morrer meus dois ídolos vivos da música (David Bowie e Leonard Cohen), estudei que nem um louco pra um concurso que não passei, quebrei a coluna em um acidente de carro e vi meu relacionamento amoroso de seis anos ser jogado na lata do lixo pela mulher que eu amo... tá bom ou querem mais? Enfim, apesar de várias coisas que possam parecer piores do que a morte de um artista que eu nem conhecia, a morte do Bowie foi sim fundamental este ano para que eu encarasse as mudanças que o ano trouxe. Bowie era conhecido como o “Camaleão”, porque ele sabia se reinventar, ele sabia seguir em frente, sabia se transformar, deixar o passado onde ele pertence, ir adiante independente do que o futuro traria. Tive que dar passos que nunca dei, fazer coisas que nunca fiz, encarar mudanças, trabalhei até como serralheiro e apesar das dores insuportáveis nas costas, no coração e sei lá mais onde eu estou definitivamente tentando, tropeçando muito, mas tentando.

Então é isso, o luto chega ao fim, o blog volta a toda, mas sem saber direito ainda o que escrever sobre o que sinto sobre a morte do Bowie, acho que ele me ajudou até na morte, pela maneira que encarou tudo, pela maneira como terminou tudo, fazendo arte até na morte. Não tenho a pretensão de ser um Bowie, mas eu acho que devo isto a ele, produzir arte até minha morte, portanto... independente de eu virar um escritor famoso ou não, escrever livros que vendam ou não, o blog deve permanecer aqui até o dia em que eu morrer, produzindo arte.

Hoje celebramos os 70 anos do artista. Neste 2017 esperem por surpresas, esperem por mais loucuras, esperem por mais bebedeiras, esperem por mais textos, esperem por mais música, esperem por mais Bowie, esperem por mais choros, esperem por mais socos na parede, esperem por mais... Vocês não estão sozinhos, é só segurarem a minha mão e deixarem eu levar vocês para longe.

Gustavo Campello