quinta-feira, 27 de novembro de 2014

IMALA



Ela acompanha com seu olhar cada gesto dele, cada movimento. Enquanto ele está no palco cantando é como se fosse a única pessoa no Edifício para ela, é como se em todos os andares só existissem os dois. Imala ama Bram como talvez nem ele mesmo compreenda.

Não importa que este amor seja real ou não, pois é fato que todos os sentimentos humanos não passam de reações químicas no cérebro. Os duendes mecânicos já sabem disso há muito tempo, é só obter a reação química correta que todos os seres humanos são facilmente manipulados. Imala não passa de uma experiência pelas mãos dos duendes mecânicos. O amor que sente por Bram é apenas o elemento químico certo usado no momento apropriado.

Enquanto ele canta aquela música em que diz...

Eu assisto as ondulações alterando seus tamanhos
Mas nunca deixa a corrente
De impermanência morna e
Assim os dias flutuam por meus olhos
Mas ainda os dias parecem os mesmos
E as crianças em que você cuspiu
Enquanto tentam mudar os mundos deles
São imunes as suas consultas
Eles estão perfeitamente conscientes do que estão passando
  
...Ela desperta de tudo e passa a odiá-lo, mas sabe que é um ódio por causa das manipulações inconscientes que passou pela mão de seus pequenos inimigos cibernéticos. Porque mesmo sem a alteração química ela o amaria facilmente sem interferência nenhuma.

Mas porque o ódio e o despertar de tudo acontece só no trecho desta música?

Imala não imagina que as canções de Ferzan não são compostas por ele, imagina menos ainda que esta em específico fosse composta pelo Maquinista.

O amor dela é menor e menos válido por culpa dos duendes mecânicos?

O sexo tem um menor significado? O pau na sua boca é menos gostoso? O arrepio que sente quando goza é pura fantasia daqueles putos duendes mecânicos? Imala, se tivesse consciência de tudo o que tem passado, não acreditaria nisso nem em um milhões de anos. Por mais que tenha alterações químicas no seu cérebro teria amado Bram de qualquer jeito, um dia ela vai conseguir provar que sim, mas até lá seu cérebro vai ser uma massa de modelar entre dedos de alumínio e porcas e parafusos que servem como ligamento.

Ele ainda canta, outra música, ela continua hipnotizada, o ódio passou, tudo o que quer é ir pra casa e dormir depois de uma boa foda.

Gustavo Campello

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

FOO FIGHTERS



Foo Fighters era a segunda banda principal da noite naquele Rock In Rio. A maioria das pessoas estavam ali pra verem a banda do ex-integrante do Nirvana, que vinha fazendo um sucesso estrondoso naquele ano. Um monte de fãs levados pela ação midiática de uma bandinha de rock que vivia nas paradas de sucesso. A música Learn To Fly estava em todas as paradas e todo poser que fingia entender de rock adorava o que era enfiado goela abaixo deles.

Não que Vitor não gostasse de Foo Fighters, mas Learn To Fly estava longe, muito longe, de ser a melhor música daquele álbum. Stacked Actors era a melhor música do álbum novo para o Vitor, mas ele sabia que ela nunca estaria entre as mais tocadas, tinha um peso de rock, violenta e agressiva como o Nirvana sabia fazer tão bem. Dave Grohl era o integrante do Nirvana que Vitor menos gostava.

A banda entrou tocando Breakout, uma ótima música pra se começar um show, mas daí já emendou nas duas mais fraquinhas, My Hero e Learn To Fly, talvez pra queimar a veia pop já no início e poder embarcar em um show de rock de verdade.  Lá pro meio do show tocou Stacked Actor e Vitor pode entrar em uma rodinha pra dar umas cotoveladas.

Stack dead actors, stacked to the rafters
Line up the bastards all I want is the truth
Hey, hey now, can you fake it,
Can you make it look like we want
Hey hey now, can you take it
And we cry when they all die blonde

Lá pro final do show a namorada de Grohl, integrante da banda Hole, entrou no palco com um bolo de aniversário cantando Happy Birthday para o líder da banda. Havia passado da meia noite, era 14 de Janeiro já, portanto Dave Grohl estava fazendo 32 anos. Vitor já tinha, nos dias de hoje, mais do que o Dave Grohl naquela noite. Vitor, naquele começo de 2001, tinha feito 20 anos não devia fazer três semanas, tanto ele quanto Dave Grohl eram capricornianos.

Tocaram ainda Monkey Wrench e Everlong pra fechar o show. Muitas pessoas estavam ali só pra ver o Foo Fighters, deu uma esvaziada e Vitor quase conseguiu chegar na grade.

Estava próximo de Jorge agora, haviam se separado durante o show do Foo Fighters, mas agora estavam lado a lado.

- Os carinhas estão vazando – disse Vitor.

- A molecada queria ver o Foo Fighters.

- Azar deles – disse Vitor – a melhor banda vem agora.

Uma das melhores bandas em atividade estava prestes a pisar no Rock In Rio III, Vitor e Jorge estavam empolgados, esperaram muito para assistir aquele espetáculo.

Gustavo Campello