sexta-feira, 26 de junho de 2015

NEIL YOUNG



Foi em 1993, quando tinha 12 anos, que Vitor conheceu o Neil Young... bem, não que ele tenha conhecido pessoalmente, mas ouviu algo com ele, havia assistido um filme com o Tom Hanks e gostado muito. Comprou o CD do filme por causa de uma música do Bruce Springsteen que estava fazendo sucesso. Foi seu primeiro CD na vida, não havia comprado nenhum antes e muitos vieram depois. Mas sua música preferida não era a do Bruce que estourou, mas sim de um tal Neil Young, que nunca ouvira falar e cujo título tinha o mesmo nome do filme: Philadelphia.

O tempo passou e ele esqueceu do tal Neil Young até o ano de 1997, quando tinha 16 anos e descobriu uma banda dos anos 60 chamada Buffalo Springfield. Havia estreado na Sony a série Dark Skies, uma espécie de irmã mais nova de Arquivo X, o capítulo piloto terminava com o Buffalo Springfield tocando a famosa For What It’s Worth, mostrando os protagonistas na estrada fugindo de uma conspiração alienígena que havia matado o presidente Kennedy.

Vitor ficou obcecado por esta música e conseguiu o primeiro CD do Buffalo Springfield em arquivo digital no Napster. Não demorou muito pra descobrir que o guitarrista da banda era o Neil Young, mesmo cara daquela música que ele sabia cantar de cor do filme com o Tom Hanks. Descobriu ainda que ele também era o compositor de Cinnamon Girl, aquela música que o Type O Negative fazia cover no CD que ele tinha. Pronto, Neil Young era um cantor obrigatório a partir daí.

Quando ele confirmou presença no Rock in Rio III, Vitor sabia que faria de tudo pra assistir e que seria um show que contaria para seus netos (se viesse a tê-los um dia). Estava lá na grade, na primeira fileira, mas não tinha grandes expectativas, imaginou que por ele já estar velho, veria um show calmo de um velhinho sentado em um banquinho, fato que se mostrou completamente equivocado quando Neil entrou no palco tocando Sedan Delivery, aquilo sim era rock and roll baby, o resto é resto.

O cara parecia o Wolverine, envelheceu que nem vinho, pulava e tocava como ninguém, a guitarra era uma extensão do seu braço. Até hoje Vitor não deve ter visto um guitarrista ao vivo como ele. Já emendou a segunda música tocando Hey Hey, My My (Into The Black), uma das preferidas de Vitor.

Hey hey, my my
Rock and roll can never die
There's more to the picture
Than meets the eye.
Hey hey, my my.

O Rock and Roll nunca esteve mais vivo. Veio Love and Only Love e na sequência Cinnamon Girl, tão conhecida de Vitor. Em determinado momento do show a corda da guitarra estourou, exatamente como acontecia com Vitor, mas com a diferença que esta talhou o braço de Neil Young, do cotovelo até metade do braço. Sangue escorria e pingava e o show não podia esperar, Neil Young continuou tocando ainda melhor do que antes, ignorando qualquer dor que pudesse estar sentindo. Vitor foi ao delírio, um monte de gente que estava longe nem devia ter reparado no fato, mas Vitor estava na primeira fila e assistia tudo aquilo guardando na memória cada segundo. O braço sangrando, Neil Young tocando guitarra e cantando Fuckin’ Up.

Foi um dos melhores shows que ele já assistiu, quando acabou ficou um gostinho de quero mais, por pelo menos mais duas horas seguidas. Encontrou Marcel e voltaram pra casa a quilômetros de distância. Havia acabado mais um dia de Rock in Rio, o último de Vitor. Hora de voltar pra realidade, encarar o cursinho e pensar no que diabos iria prestar no final do ano pro vestibular.

Gustavo Campello

sábado, 13 de junho de 2015

O PRIMEIRO HOMEM (O SEGUNDO TAMBÉM) E A PRIMEIRA MULHER



Poucos sabem, mas Bohus foi o primeiro homem do Edifício, não havia ninguém por lá ainda, aquela enorme construção de concreto pairava vazia, sem sons, sem cheiro, sem nada. O concreto frio em contato com a pele de Bohus o fez sentir um arrepio, mas não era um arrepio de frio, mas um arrepio de medo. Estava completamente sozinho na maior construção que já existiu e que se tem notícias.

O resto foi puro instinto, aprender a mexer nas coisas que lá havia, ligar a máquina de café, abrir um saco de salgadinhos, tudo foi automático como se ele fosse a engrenagem de uma máquina gigantesca, uma parte integrante que sempre existiu, não um ser pensante que havia acabado de se materializar por ali.

Bohus não era um Adão, como diria anos mais tarde aquele livro idiota. Se tinha algo que Bohus odiaria, se ainda tivesse a consciência que deveria ter, era a Bíblia Sagrada do Deus-Fungo, mas Bohus já não lembrava mais que era o primeiro homem, os duendes mecânicos fizeram um bom serviço com ele.

Bohus estava lá muito antes do Deus-Fungo, viu o segundo homem surgir do nada e se tornaram amigos. Marcelo era divertido e não saberia dizer quanto tempo os dois ficaram lá, sozinhos. A vida era estranhamente calma, bem melhor do que de onde eles haviam saído, daquele mundo pútrido dominado pelo Deus-Fungo. Criaram palavras que aprendiam conforme sonhavam e viam coisas que não compreendiam muito bem. Comiam, falavam, transavam e ficavam bêbados, alterados com substâncias que estavam ali à vontade para eles. A vida era boa.

Foi só então que surgiu a primeira mulher, Zahrat, que as coisas ficaram complicadas. Bohus gostava dela e ela de Bohus, mas Marcelo não estava gostando nada de ficar de lado, vivia cada vez mais e mais bêbado e cada vez com menos sexo. Queria transar e Bohus só queria saber de foder com Zahrat, queria conversar e Bohus só queria saber de falar de Zahrat, queria companhia e Bohus só queria andar com Zahrat.

Marcelo entrou em uma loja que nunca havia notado, havia armas por toda a parede, mas ele não sabia para que serviam, demorou uns dois anos até que tenha entendido que precisava colocar balas dentro para que funcionassem direito. Queria matar Zahrat.

- Sua puta desgraçada – gritou ele apontando-lhe a arma – vou acabar com você!

- Está louco? – gritava Bohus de volta.

- Éramos felizes! Éramos felizes – era o que gritava Marcelo quando a arma disparou. Bohus entrou na frente e levou três disparos no peito, a dor era imensa, mas não morreu, já que a morte não ronda as entranhas do Edifício.

Marcelo tentou correr, mas Bohus o alcançou, mesmo com a dor que percorria todo o seu corpo que expelia as balas lentamente. Bohus esmurrava Marcelo inúmeras vezes enquanto ele chorava, tentava se desculpar enquanto engolia sangue e lágrimas. Por fim teve o coração arrancado, foi arrastado até o porão mais próximo e jogado no subterrâneo.

Muitos vieram depois, muitos já foram embora, mas os três permanecem no Edifício até hoje.

Gustavo Campello

quarta-feira, 3 de junho de 2015

PROMOÇÃO 5 ANOS 5 LIVROS (O RETRATO)



Quarto livro da promoção de cinco anos do blog, onde em cada mês irei sortear um livro até julho, quando o blog efetivamente faz aniversário. Em junho temos como quarto livro sorteado O RETRATO da escritora Olívia Freitas que nasceu em São Paulo, ganhou o Festival de Poesia da Escola da Vila em 2010, se dedica ao teatro no momento e vai pra Índia logo logo. É minha prima caçula, que apesar de sempre sermos distantes, temos nos aproximado bastante nos últimos anos. O livro da editora Patuá tem 112 páginas, espero que o(a) ganhador(a) goste!
O Retrato é um livro de poesia - 
A voz do retrato
reflete minh’alma,
trancada a sete chaves,
atrás de sete portas,
onde a primavera
descansa para sempre 
em paz.

O outono passou.
As folhas velaram as flores,
como se fossem moedas
para um barqueiro sem rumo. 

A promoção é fácil, pra participar tem que estar curtindo nossa página no Facebook clicando AQUI!, depois de curtir nossa página no Facebook é só compartilhar publicamente o banner igual ao da foto aí de cima e pronto, você automaticamente está participando do sorteio. Boa Sorte!