domingo, 24 de abril de 2011

RECITANDO HEMINGWAY EM PENSAMENTOS



Vitor estava pensando sobre a vida, em como em alguns momentos parecia que nada acontecia e como tudo podia ficar atribulado de repente, sentia que não havia vivido nada e as vezes sentia que já tinha passado por tudo que a vida tinha para oferecer.

“Suponho que seja possível viver uma vida completa em setenta horas, tanto quanto em setenta anos. Contanto que a vida esteja amadurecida desde o começo das setenta horas, e que já se tenha uma certa idade.”

Vitor concordava com isto, não importava o tempo que se vive, desde que se viva intensamente. Já havia tido inúmeras vidas em mais ou menos horas, vidas inteiras, com começos, meios e fins. Vidas engraçadas, vidas apaixonantes, vidas depressivas, vidas com finais felizes, vidas com finais infelizes. Estas ultimas vidas eram mais freqüentes, diga-se de passagem.

“Gostaria que vovô estivesse aqui” - pensa Vitor - “ ...gostaria muito de conversar com ele. Porque há muitas coisas que eu gostaria de saber. Tenho o direito de lhe perguntar agora, pois tive que fazer coisas do mesmo tipo. Não acho que hoje em dia ele se importaria que eu perguntasse. Antes eu não tinha o direito de perguntar. Entendo a sua recusa em me falar, ele não me conhecia. Mas agora acho que nos daríamos muito bem. Gostaria de conversar e ouvir seus conselhos. Diabos, mesmo que não me desse conselhos, eu queria conversar com ele, simplesmente. É uma pena que haja um abismo de tempo tão grande entre nós.”

O fim de sua primeira vida chegou no momento em que seu avô morreu, quanto a isto não havia dúvida. Sentia falta dele, sentia raiva por ele ter morrido quando Vitor mais precisava dele ao seu lado, lembrava de todos os momentos que conseguia, do seu sorriso, da sua voz, dos seus abraços, das suas aulas sobre bacias e rios usando suas varizes como exemplo e dele caído no chão com a cabeça aberta, o sangue escorrendo do crânio e depois entre os dedos de Vitor até cair no chão. Um frio percorria toda a espinha de Vitor e seu avô tentava dizer que estava bem para não deixá-lo ainda mais assustado. Lembrava de tudo isso e ainda conseguia sentir tudo de novo, da alegria do abraço até o terror do sangue que escorria pelos dedos.

“E você, estou contente que tenha resgatado algo que havia perdido, algo que lhe fazia muita falta. Mas você estava mal mesmo há pouco. Fiquei muito envergonhado de você, por um momento. Só que eu era você. Não havia um eu julgando você. Nós dois estávamos muito mal. Você e eu, nós dois juntos. Vamos lá, agora. Pare de pensar como um esquizofrênico. Um de cada vez. Agora você está no caminho certo, novamente.”

“Mas qual era o caminho mesmo?” - Vitor não se lembra, sabe que estava nele, mas se perdeu, não consegue se lembrar por mais esforço que faça. Sabe que tinha um destino, que tinha algo para realizar, algo que daria significado a sua vida, mas tudo se perdeu – “pra sempre?”

Gustavo Campello
(Texto em Itálico retirado do livro Por Quem os Sinos Dobram de Ernest Hemingway)

sábado, 23 de abril de 2011

NEVER GET OLD


Melhor tomar cuidado
Acho melhor eu ir, arrumar um quarto
Melhor cuidar de mim
De novo e de novo

Eu penso nisso e eu penso em história pessoal
Melhor tomar cuidado
Eu respiro tão fundo quando o filme fica real
Quando a estrela se vira
De novo e de novo
Ele olha nos meus olhos e diz que tem uma contagem regressiva na mente 3,2,1
Pra sempre
Estou gritando que eu vou viver até o fim dos tempos
Pra sempre
O céu se abre pra uma caveira vermelha idiota
Minha cabeça abaixa porque tudo acabou agora

E nunca vai ter dinheiro o bastante
E nunca vai ter drogas o bastante
E eu nunca vou envelhecer
Nunca vai ter balas o bastante
Nunca vai ter sexo o bastante
E eu nunca, nunca vou envelhecer
Então eu nunca vou ficar torpe
E eu nunca vou ficar triste
E eu nunca, nunca vou envelhecer

Melhor tomar cuidado
A lua flutua até os limites do mundo por causa de você
De novo e de novo
E estou acordado na era da luz vivendo por causa de você
Melhor tomar cuidado
Estou olhando pro futuro sólido como uma pedra por causa de você
De novo e de novo

Quero estar aqui e quero estar ali
Vivendo como você, vivendo como eu
Pra sempre
Colocando minhas luvas e enterrando meus ossos no pântano
Pra sempre
Penso na minha alma mas eu nao preciso de nada só o bater do sino no ar puro e limpo

E eu estou correndo pela rua da vida
E eu nunca vou te deixar morrer
E eu nunca nunca vou envelhecer
E eu nunca vou
Nunca vou ter
E eu nunca vou envelhecer
E eu nunca vou
E eu nunca vou
Nunca vou envelhecer

David Bowie

sábado, 16 de abril de 2011

LINHAGEM



Que a minha família nunca bateu bem não é novidade, venho de uma linhagem de malucos, isto nunca foi segredo, é só contar a alta taxa de suicídio ao longo do tempo. É gente se matando a torto e a direito. O que eu não sabia é que minha tataravó Catarina Scaglia era uma louca de carteirinha lá na Itália, oh sim, daquelas que apontavam e diziam “Coitada, é louca”.

Sempre penso nos meus antepassados, onde toda essa merda começou, e cada vez que eu penso sempre vem a palavra “LOUCO” taxado em cada um deles. Imagino um tataravô do meu tataravô dançando pelado pelas ruas de Milão e as pessoas apontando para o seu pinto balançando e dando risadas e dizendo “Guarda Il Pazzo” e mais gargalhadas indo em direção a ele. Normal. Família Scaglia.

Sempre tive orgulho da minha linhagem italiana, que vem do meu pai, porém também sempre exaltei a linhagem irlandesa da minha mãe. Não tinha como eu não ser católico depois dessa mistura, porém também não tinha como eu não ser um beberrão briguento do mais alto calibre sem ela.

Os O’Donovan, nem imagino em que região viviam, mas sempre os imaginei como responsáveis pelo meu lado mais normal. O que eu vim a descobrir agora é que a porra dos O’Donovan da minha linhagem não passavam de uns leprosos. É isso aí! Enquanto meus antepassados italianos se fodiam taxados de loucos, os meus outros antepassados se fodiam mais ainda taxados de leprosos.

Que linhagem maravilhosa!

1/2 Louco + 1/2 Leproso = Inteiramente Fodido

Escrevo está crônica em homenagem aos meus antepassados malucos, mas principalmente aos meus antepassados sem pedaços do corpo. Apesar de eu nascer com uma orelha gigante, espero realmente que ela continue no lugar dela.

Vitor Scaglia