sábado, 10 de novembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A REJEIÇÃO



Sempre me achei feio.

Sei que é coisa da minha cabeça, até que sou bem atraente. Muitas mulheres me dizem que tenho traços delicados, sou bonito e essas coisas. Mas bem lá no fundo sempre me achei feio.

Acho que essa coisa de se achar feio é um sistema defensivo para não sofrer com a rejeição, sempre tive problemas com isso. Eu tinha que ser sempre o melhor em tudo, fazer as coisas direito, porque queria ser aceito de alguma maneira por alguém ou por algum grupo.

A verdade é que quando eu era aceito me sentia um peixe fora d’água também. Parece que não existia um lugar para mim naquele planeta. Eu sempre estava fora do meu habitat natural seja onde eu estivesse. Parecia que por mais que eu lutasse para ser aceito em algum lugar naquele planeta, mais e mais ele tentava me expelir para fora.

Conseguiu.

Tanto que estou aqui vagando no espaço tão longe de tudo aquilo.

Eu só queria me sentir bem onde eu estava. Nada mais, nada menos. Porque era tão difícil? Eu olhava para o lado e parecia ver tantas pessoas felizes, porque eu não podia ser uma delas?

A rejeição partia das pessoas ou partia de mim? Era eu que rejeitava a felicidade? Era eu que impedia que ela viesse até mim?

Recuso-me a acreditar que era culpa minha.

Lembro quando mudei de escola na quinta série e os meus colegas de classe não queriam falar comigo porque eu tinha o cabelo comprido. Não andava e me vestia como eles, então eu era um elemento que deveria ser extirpado dali. Quanto mais as pessoas me tratavam como um elemento estranho, mais eu me tornava um elemento estranho. Batalhava dia e noite para me tornar o elemento mais estranho possível e fazia de tudo para que me odiassem. Só assim meu ódio por tudo seria justificado.

Meu ódio de tudo e de todos cresceu tanto que tomou conta de mim de um jeito que eu jamais consegui escapar dele depois.

“Só o amor mata o demônio” – já dizia o índio que foi morto por dar abrigo a um casal de assassinos em um filme dos anos 90 – quanta sabedoria existe nesta frase.

O amor poderia ter me salvado, mas ele só piorou as coisas, só serviu para me arrastar cada vez mais para o fundo nas profundezas do asco pelas pessoas e conseqüentemente por mim também.

A rejeição é o primeiro passo para se trilhar um caminho sombrio e solitário, depois que você dá os primeiros passou não há mais volta. Dei meus primeiros passos quando era muito novo, sem saber as conseqüências que isto traria.

Vivi minha vida quase que na mais completa solidão. Sofri por isso todos os dias da minha vida. Morro agora mais sozinho do que nunca estive, longe de tudo e de todos. Gostaria que alguém lá embaixo pudesse ter me entendido, talvez alguém tenha e eu não tenha percebido.

Não me odeiem, eu gostaria de ter sido como vocês.

Gustavo Campello

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