Sempre me
achei feio.
Sei que é
coisa da minha cabeça, até que sou bem atraente. Muitas mulheres me dizem que
tenho traços delicados, sou bonito e essas coisas. Mas bem lá no fundo sempre
me achei feio.
Acho que
essa coisa de se achar feio é um sistema defensivo para não sofrer com a
rejeição, sempre tive problemas com isso. Eu tinha que ser sempre o melhor em
tudo, fazer as coisas direito, porque queria ser aceito de alguma maneira por
alguém ou por algum grupo.
A verdade
é que quando eu era aceito me sentia um peixe fora d’água também. Parece que
não existia um lugar para mim naquele planeta. Eu sempre estava fora do meu
habitat natural seja onde eu estivesse. Parecia que por mais que eu lutasse
para ser aceito em algum lugar naquele planeta, mais e mais ele tentava me expelir
para fora.
Conseguiu.
Tanto que
estou aqui vagando no espaço tão longe de tudo aquilo.
Eu só
queria me sentir bem onde eu estava. Nada mais, nada menos. Porque era tão
difícil? Eu olhava para o lado e parecia ver tantas pessoas felizes, porque eu
não podia ser uma delas?
A
rejeição partia das pessoas ou partia de mim? Era eu que rejeitava a
felicidade? Era eu que impedia que ela viesse até mim?
Recuso-me
a acreditar que era culpa minha.
Lembro
quando mudei de escola na quinta série e os meus colegas de classe não queriam
falar comigo porque eu tinha o cabelo comprido. Não andava e me vestia como
eles, então eu era um elemento que deveria ser extirpado dali. Quanto mais as
pessoas me tratavam como um elemento estranho, mais eu me tornava um elemento
estranho. Batalhava dia e noite para me tornar o elemento mais estranho
possível e fazia de tudo para que me odiassem. Só assim meu ódio por tudo seria
justificado.
Meu ódio
de tudo e de todos cresceu tanto que tomou conta de mim de um jeito que eu
jamais consegui escapar dele depois.
“Só o
amor mata o demônio” – já dizia o índio que foi morto por dar abrigo a um casal
de assassinos em um filme dos anos 90 – quanta sabedoria existe nesta frase.
O amor
poderia ter me salvado, mas ele só piorou as coisas, só serviu para me arrastar
cada vez mais para o fundo nas profundezas do asco pelas pessoas e
conseqüentemente por mim também.
A
rejeição é o primeiro passo para se trilhar um caminho sombrio e solitário,
depois que você dá os primeiros passou não há mais volta. Dei meus primeiros
passos quando era muito novo, sem saber as conseqüências que isto traria.
Vivi
minha vida quase que na mais completa solidão. Sofri por isso todos os dias da
minha vida. Morro agora mais sozinho do que nunca estive, longe de tudo e de
todos. Gostaria que alguém lá embaixo pudesse ter me entendido, talvez alguém
tenha e eu não tenha percebido.
Não me
odeiem, eu gostaria de ter sido como vocês.
Gustavo
Campello
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