Em
Memória de Oscar Niemeyer
As minhas
costas doem. Meus olhos estão pesados. Parece que tenho mais de cem anos e
sinto meus ossos esfarelarem aos poucos. É a posição. O cansaço de estar há
horas vagando sem rumo no meu traje de astronauta neste espaço infinito.
Queria
que a morte fosse mais simples. Que fosse rápida e chegasse de um minuto para o
outro. Seria mais fácil.
Nada na
vida é fácil.
Tudo vem
do jeito mais difícil, sempre.
O cansaço
é quando todas as suas forças te abandonam. Quando seu corpo não funciona mais
e sua mente luta para se manter alerta. É uma eterna luta entre cérebro e
corpo. Meu cérebro ainda está a mil por hora, trabalhando o tempo todo, mas meu
corpo sofre toda a tensão, dores, desconfortos e fadiga.
Cansaço é
quando seu corpo quer entregar os pontos e seu cérebro não deixa.
Queria
poder dormir, tentar descansar. Muitas pessoas gostariam de morrer dormindo, eu
não, tenho pânico disto. Fico imaginando eu morto achando que estou dormindo ou
algo assim, meu espírito ainda achar que está vivo. Quero encarar a morte
acordado, de frente.
Preferia
estar descansado pra tudo isto, queria só tirar um cochilo de quinze minutos,
nada demais, só para recuperar minhas forças.
Vagar
pelo espaço sabendo que você vai morrer é como aquelas noites intermináveis que
você precisa dormir para acordar cedo no dia seguinte, mas os pensamentos não
deixam que você pegue no sono. Você vira para um lado, vira para o outro e seu
corpo não acha uma posição. Lembra de memórias do passado, imagina como teria
sido se tivesse tomado outras escolhas e fica suando no travesseiro com medo de
não conseguir dormir ou de não conseguir acordar no horário.
Tive uma
noite dessas na estação espacial. Fiquei tentando pegar no sono e fiquei a
imaginar uma enorme nave espacial coletando animais como na arca de Noé.
Tentava imaginar um animal com a letra A, outro com a letra B e assim por
diante. Tentei pegar no sono imaginando os animais sendo recolhidos, mas quando
travei na letra N fiquei mais inquieto ainda e foi aí que desisti de dormir e fiquei
a lembrar de Rachel.
Lembrei
dos seus olhos grandes e do seu sorriso, ela tem um sorriso capaz de matar
alguém. Tem um quê de sedução e um quê de serial killer. E em cinco minutos
estava dormindo como um bebê.
É assim
na vida da gente também, algumas soluções só aparecem depois que desistimos de
procurá-las.
Talvez o
cansaço só vá embora quando parar de pensar nele, talvez a morte só tenha
coragem de vir aqui me encarar depois que parar de pensar nela. Talvez ela seja
tímida, não consiga se aproximar com alguém procurando por ela. A morte deve
ser uma mulher... Com olhos grandes e um sorriso capaz de matar alguém... Com
um quê de sedução e um quê de serial killer.
Sim. A
morte definitivamente é uma mulher.
Gustavo
Campello
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