quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O CANSAÇO



Em Memória de Oscar Niemeyer

As minhas costas doem. Meus olhos estão pesados. Parece que tenho mais de cem anos e sinto meus ossos esfarelarem aos poucos. É a posição. O cansaço de estar há horas vagando sem rumo no meu traje de astronauta neste espaço infinito.

Queria que a morte fosse mais simples. Que fosse rápida e chegasse de um minuto para o outro. Seria mais fácil.

Nada na vida é fácil.

Tudo vem do jeito mais difícil, sempre.

O cansaço é quando todas as suas forças te abandonam. Quando seu corpo não funciona mais e sua mente luta para se manter alerta. É uma eterna luta entre cérebro e corpo. Meu cérebro ainda está a mil por hora, trabalhando o tempo todo, mas meu corpo sofre toda a tensão, dores, desconfortos e fadiga.

Cansaço é quando seu corpo quer entregar os pontos e seu cérebro não deixa.

Queria poder dormir, tentar descansar. Muitas pessoas gostariam de morrer dormindo, eu não, tenho pânico disto. Fico imaginando eu morto achando que estou dormindo ou algo assim, meu espírito ainda achar que está vivo. Quero encarar a morte acordado, de frente.

Preferia estar descansado pra tudo isto, queria só tirar um cochilo de quinze minutos, nada demais, só para recuperar minhas forças.

Vagar pelo espaço sabendo que você vai morrer é como aquelas noites intermináveis que você precisa dormir para acordar cedo no dia seguinte, mas os pensamentos não deixam que você pegue no sono. Você vira para um lado, vira para o outro e seu corpo não acha uma posição. Lembra de memórias do passado, imagina como teria sido se tivesse tomado outras escolhas e fica suando no travesseiro com medo de não conseguir dormir ou de não conseguir acordar no horário.

Tive uma noite dessas na estação espacial. Fiquei tentando pegar no sono e fiquei a imaginar uma enorme nave espacial coletando animais como na arca de Noé. Tentava imaginar um animal com a letra A, outro com a letra B e assim por diante. Tentei pegar no sono imaginando os animais sendo recolhidos, mas quando travei na letra N fiquei mais inquieto ainda e foi aí que desisti de dormir e fiquei a lembrar de Rachel.

Lembrei dos seus olhos grandes e do seu sorriso, ela tem um sorriso capaz de matar alguém. Tem um quê de sedução e um quê de serial killer. E em cinco minutos estava dormindo como um bebê.

É assim na vida da gente também, algumas soluções só aparecem depois que desistimos de procurá-las.

Talvez o cansaço só vá embora quando parar de pensar nele, talvez a morte só tenha coragem de vir aqui me encarar depois que parar de pensar nela. Talvez ela seja tímida, não consiga se aproximar com alguém procurando por ela. A morte deve ser uma mulher... Com olhos grandes e um sorriso capaz de matar alguém... Com um quê de sedução e um quê de serial killer.

Sim. A morte definitivamente é uma mulher.

Gustavo Campello

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