Dedicado
a Felix Baumgartner
O que é o nada?
Ele
existe?
A
própria concepção do nada chega a ser absurda.
Antes
de Deus existia o nada? Existia o “antes de Deus”? Como era o nada antes de
Deus? Escuro? Claro? Preto? Branco? O nada pode ter cor?
Pra
mim é fácil demais acreditar em
vida após a morte, porque imaginar que vou virar um “nada” é tão estranho, tão
estúpido e tão incoerente que não faz nenhum sentido.
Como
pode ser possível que tudo o que eu penso, tudo o que eu sinto, tudo o que eu
sou simplesmente deixe de existir?
Neste
momento em que estou completamente sozinho neste enorme espaço silencioso,
tento parar de pensar. Pensar em nada. Mas percebo que é impossível.
Mesmo
quando tento pensar em nada, começo a pensar no que é o nada, logo acabo não
conseguindo pensar em nada. É um paradoxo mental, quase uma armadilha cerebral.
Quanto
tentamos não pensar em nada, acabamos pensando no que nos preocupa naquele
exato momento. Neste momento, por exemplo, eu penso que devo ter no máximo duas
horas de oxigênio. Duas horas devem passar bem rápido agora.
Fiquem
em uma cama de hospital durante três semanas. Vai parecer que você está ali
deitado por três meses inteiro. Um minuto parece pouco tempo, mas segurem com o
braço estendido uma sacola com duas garrafas de dois litros de coca cola dentro
por um minuto. Um minuto vai parecer uma eternidade.
O
tempo é relativo.
Mas o
que não é relativo?
O
próprio nada pode ser relativo de uma pessoa para outra.
Claro
ou escuro. Preto ou branco. Sólido ou liquido.
Dizem
que os peixes tem uma memória de alguns minutos. Viver assim deve ser o mais
próximo do nada. O nada é o esquecimento. Não saber quem você é. Onde você
está. O que você quer. Quais seus sonhos. Quem você ama...
O
mais próximo que chegaria da concepção do nada é se eu fosse um peixe.
Um
peixe nadando num espaço de divagações que logo seriam esquecidas.
Minhas
divagações logo vão ser esquecidas... Mas duraram mais do que alguns minutos.
Estou longe de entender o nada.
Eu
sei quem sou, um astronauta. Onde estou, no espaço fora do meu planeta Terra. O
que eu quero, que é viver. Conheço meus sonhos, poder dizer para as pessoas o
quanto elas significam para mim e o quanto elas foram importantes até agora.
Quem eu amo... Agora eu entendo...
Eu
amo a todos.
Todos
eles lá embaixo.
Cada
um deles, sem distinção.
Gustavo
Campello
Minhas primeiras noites insones, cultivadas desde os 5 anos, resumem-se no primeiro parágrafo.
ResponderExcluir"E antes do antes e do antes? Era tudo preto? E antes do preto, era tudo branco? E antes?" ... "Ahh vai dormir, ô mãe..."
O fato é que nunca encontrei alguém tão parecido comigo quanto esse astronauta.
É surpreendente, estranho e mágico, assim como esses textos livres de parâmetros estéticos e linguagem rebuscada.
Bom desfecho, caríssimo astronauta.
Obrigado Letícia!
ResponderExcluirLegal saber que existem pessoas parecidas assim com o que escrevo também.
Falta só 5 crônicas pro derradeiro fim.
Continue acompanhando.