Começo a
pensar em sexo, tento pensar em outra coisa, mas a única coisa que vem na minha
mente é o corpo de uma mulher. Recordo-me de cada corpo que toquei, das
perfeições e imperfeições dos corpos delas.
Tento
pensar em outra coisa desesperadamente.
Pensar
nelas é uma tortura.
Lembrar
deste tipo de coisa sabendo que você vai morrer é a pior parte do processo.
Seios
grandes, médios e pequenos.
Estou
suando, levo minhas mãos para enxugar minha testa e só então me dou conta que
estou com o capacete ainda com o vidro semi embaçado.
Tento me
masturbar, mas não consigo. A roupa de astronauta é muito complexa e tem um
tubo no meu pinto para que eu possa mijar durante missões muito demoradas no
espaço. Nem isto eu posso fazer para aliviar meus pensamentos.
Grito,
acho que pela primeira vez, grito com toda a força que consigo. Sinto minha
garganta irritar e o gosto de sangue lá no fundo. Tento bater minha cabeça
contra o capacete em vão.
Somos
todos animais primitivos, seguindo nossos instintos primários até as últimas
conseqüências. Destruímos toda uma vida por um rabo de saia. Pisamos na bola e
magoamos pessoas queridas por sentimentos que não temos controle.
Quando
era adolescente a internet não existia ainda, conseguir uma pornografia era a
coisa mais difícil do mundo para um jovem de dezesseis anos. Conseguíamos uma
revista ali, outra aqui. Um vídeo então, nem me fale, era raridade. Hoje você
liga o computador, se conecta a rede e assiste qualquer putaria com a maior
facilidade possível. Estou ficando velho. Lembro quando a internet surgiu, pra
se conseguir abrir uma foto com uma resolução mais ou menos você tinha que
esperar mais ou menos dez minutos. Quando a conexão não caía durante o
processo.
A
pornografia se tornou uma potência com a internet e toda a graça da coisa
foi-se embora.
A
tecnologia conseguiu destruir até a putaria.
Somos
todos um bando de idiotas.
Lembro de
uma vez que meu pai me pegou vendo uma Playboy. Fechou a porta do quarto como
se nada tivesse acontecido. Morri de vergonha. Não sabia onde enfiar a minha
cara. Evitei meu pai por dias a fio até que a história ficasse esquecida.
Tento não
pensar mais sobre este assunto, tento imaginar velhas desdentadas e enrugadas.
Sinto o suor escorrendo por todo o meu corpo e fico a pensar se estou começando
a ter alguma crise de pânico.
Não seria
tão absurdo eu ter uma crise de pânico nesta situação.
Na
verdade é estranho que eu não tenha tido uma crise de pânico até agora.
Vou
morrer e meu corpo começa a tremer compulsoriamente.
Gustavo
Campello
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