domingo, 25 de novembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A EXCITAÇÃO



Começo a pensar em sexo, tento pensar em outra coisa, mas a única coisa que vem na minha mente é o corpo de uma mulher. Recordo-me de cada corpo que toquei, das perfeições e imperfeições dos corpos delas.

Tento pensar em outra coisa desesperadamente.

Pensar nelas é uma tortura.

Lembrar deste tipo de coisa sabendo que você vai morrer é a pior parte do processo.

Seios grandes, médios e pequenos.

Estou suando, levo minhas mãos para enxugar minha testa e só então me dou conta que estou com o capacete ainda com o vidro semi embaçado.

Tento me masturbar, mas não consigo. A roupa de astronauta é muito complexa e tem um tubo no meu pinto para que eu possa mijar durante missões muito demoradas no espaço. Nem isto eu posso fazer para aliviar meus pensamentos.

Grito, acho que pela primeira vez, grito com toda a força que consigo. Sinto minha garganta irritar e o gosto de sangue lá no fundo. Tento bater minha cabeça contra o capacete em vão.

Somos todos animais primitivos, seguindo nossos instintos primários até as últimas conseqüências. Destruímos toda uma vida por um rabo de saia. Pisamos na bola e magoamos pessoas queridas por sentimentos que não temos controle.

Quando era adolescente a internet não existia ainda, conseguir uma pornografia era a coisa mais difícil do mundo para um jovem de dezesseis anos. Conseguíamos uma revista ali, outra aqui. Um vídeo então, nem me fale, era raridade. Hoje você liga o computador, se conecta a rede e assiste qualquer putaria com a maior facilidade possível. Estou ficando velho. Lembro quando a internet surgiu, pra se conseguir abrir uma foto com uma resolução mais ou menos você tinha que esperar mais ou menos dez minutos. Quando a conexão não caía durante o processo.

A pornografia se tornou uma potência com a internet e toda a graça da coisa foi-se embora.

A tecnologia conseguiu destruir até a putaria.

Somos todos um bando de idiotas.

Lembro de uma vez que meu pai me pegou vendo uma Playboy. Fechou a porta do quarto como se nada tivesse acontecido. Morri de vergonha. Não sabia onde enfiar a minha cara. Evitei meu pai por dias a fio até que a história ficasse esquecida.

Tento não pensar mais sobre este assunto, tento imaginar velhas desdentadas e enrugadas. Sinto o suor escorrendo por todo o meu corpo e fico a pensar se estou começando a ter alguma crise de pânico.

Não seria tão absurdo eu ter uma crise de pânico nesta situação.

Na verdade é estranho que eu não tenha tido uma crise de pânico até agora.

Vou morrer e meu corpo começa a tremer compulsoriamente.

Gustavo Campello

Nenhum comentário:

Postar um comentário