domingo, 16 de dezembro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A CULPA



A culpa é como uma parede de concreto que carregamos em nossas costas, tendo o cuidado para nos mantermos equilibrados com o peso constante que tende a tentar nos derrubar a todo o momento.

A culpa é algo que criamos em nossas cabeças?

Ela existe?

Podemos ser culpados por seguir nossos instintos e sermos fieis a algo que está dentro de nós, mesmo sabendo que é errado?

Devemos nos sentir culpados pelo que fazemos aos outros somente?

E o que fazemos a nós?

A culpa é um dos sentimentos mais abstratos que rodeiam a história humana. Nunca consegui entendê-la, do porque sentimos tal coisa, mas ela esteve presente em todos os momentos da minha vida desde que me conheço por gente.

Sinto-me culpado pela fome do mundo, por pessoas que são obrigadas a desistirem de seus sonhos pela sobrevivência, sou culpado pela morte prematura de John Lennon e por guerras inteiras ao redor do mundo. É um complexo esquisito este que sinto. Um psicólogo me disse certa vez que sou empata, que consigo sentir demais o que as pessoas ao meu redor sentem. Consigo facilmente me colocar no lugar do outro. Se algum louco entra atirando em uma escola infantil, consigo sentir o sofrimento dos familiares das crianças mortas como se fossem meus filhos e filhas. Posso ficar dias deitado na cama pensando como se fosse o meu dedo em todos os gatilhos e como se fosse minha avareza que impede crianças de comerem na África. Sinto-me parte de uma sociedade corrompida desde seus primórdios por culpa minha.

É como se Deus fizesse tudo para me ensinar uma lição. Para mim e mais ninguém. Então me sinto culpado por me sentir tão importante e os dados são lançados.

E quando tudo parece perdido vem o ápice da paranóia onde acredito que na verdade Deus sou eu, que tenho o poder pra impedir tudo o que é de ruim no mundo e na verdade não levanto um dedo.

“Mas eu não sei como impedir isto” – tento dizer para mim mesmo – “Mas eu tenho o poder para fazê-lo!”

Gostaria de pedir desculpas para todas as pessoas que conviveram comigo, porém para algumas nem sei por que gostaria de pedir desculpas, apenas gostaria.

“Me desculpe, meu filho” – eu digo para a criança abortada que não chegou a nascer – “me desculpe por matar você. Logo estaremos juntos e poderá gritar comigo pela vida que lhe tomei. Quando eu disse que não queria ver a cara de sua mãe para o resto da vida, era mentira, tive apenas medo. Sorte dela ter se afastado. Eu te matei e somente eu devo carregar esta culpa”.

Na mitologia Jasão nunca conseguiu se vingar de Medeia que assassinara seus filhos para se vingar do amado que lhe trocou por outra, talvez ele não tenha se vingado devido a culpa que sentia de ter abandonado uma mulher que havia feito tanto por ele. Fui o negligente Jasão e a assassina Media. Sou os dois ao mesmo tempo.

“Eu nem mesmo deixei-me o corpo de meu filho; não o levei comigo para ser enterrado. E para mim mesmo, que te fizeste todo o mal, eu profetizo uma maldição final. Morrerei no espaço... Sozinho”.

Gustavo Campello

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