A culpa é
como uma parede de concreto que carregamos em nossas costas, tendo o cuidado
para nos mantermos equilibrados com o peso constante que tende a tentar nos
derrubar a todo o momento.
A culpa é
algo que criamos em nossas cabeças?
Ela
existe?
Podemos
ser culpados por seguir nossos instintos e sermos fieis a algo que está dentro
de nós, mesmo sabendo que é errado?
Devemos
nos sentir culpados pelo que fazemos aos outros somente?
E o que
fazemos a nós?
A culpa é
um dos sentimentos mais abstratos que rodeiam a história humana. Nunca consegui
entendê-la, do porque sentimos tal coisa, mas ela esteve presente em todos os
momentos da minha vida desde que me conheço por gente.
Sinto-me
culpado pela fome do mundo, por pessoas que são obrigadas a desistirem de seus
sonhos pela sobrevivência, sou culpado pela morte prematura de John Lennon e
por guerras inteiras ao redor do mundo. É um complexo esquisito este que sinto.
Um psicólogo me disse certa vez que sou empata, que consigo sentir demais o que
as pessoas ao meu redor sentem. Consigo facilmente me colocar no lugar do
outro. Se algum louco entra atirando em uma escola infantil, consigo sentir o
sofrimento dos familiares das crianças mortas como se fossem meus filhos e
filhas. Posso ficar dias deitado na cama pensando como se fosse o meu dedo em
todos os gatilhos e como se fosse minha avareza que impede crianças de comerem
na África. Sinto-me parte de uma sociedade corrompida desde seus primórdios por
culpa minha.
É como se
Deus fizesse tudo para me ensinar uma lição. Para mim e mais ninguém. Então me
sinto culpado por me sentir tão importante e os dados são lançados.
E quando
tudo parece perdido vem o ápice da paranóia onde acredito que na verdade Deus
sou eu, que tenho o poder pra impedir tudo o que é de ruim no mundo e na
verdade não levanto um dedo.
“Mas eu
não sei como impedir isto” – tento dizer para mim mesmo – “Mas eu tenho o poder
para fazê-lo!”
Gostaria
de pedir desculpas para todas as pessoas que conviveram comigo, porém para
algumas nem sei por que gostaria de pedir desculpas, apenas gostaria.
“Me
desculpe, meu filho” – eu digo para a criança abortada que não chegou a nascer
– “me desculpe por matar você. Logo estaremos juntos e poderá gritar comigo
pela vida que lhe tomei. Quando eu disse que não queria ver a cara de sua mãe
para o resto da vida, era mentira, tive apenas medo. Sorte dela ter se
afastado. Eu te matei e somente eu devo carregar esta culpa”.
Na
mitologia Jasão nunca conseguiu se vingar de Medeia que assassinara seus filhos
para se vingar do amado que lhe trocou por outra, talvez ele não tenha se
vingado devido a culpa que sentia de ter abandonado uma mulher que havia feito
tanto por ele. Fui o negligente Jasão e a assassina Media. Sou os dois ao mesmo
tempo.
“Eu nem
mesmo deixei-me o corpo de meu filho; não o levei comigo para ser enterrado. E
para mim mesmo, que te fizeste todo o mal, eu profetizo uma maldição final.
Morrerei no espaço... Sozinho”.
Gustavo
Campello
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