quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

KRAFTWERK



Marcel estava casado e esperando sua primeira filha que iria nascer em breve, portanto sua esposa não poderia ir no show do Radiohead, tinha um ingresso sobrando.

- Fala, Marcel! – Vitor atendia o telefone após olhar no identificador de chamadas.

- Quer ir no show do Radiohead?

- Querer não é poder!

- Agora é, to com um ingresso sobrando!

Era uma espécie de despedida de solteiro do amigo de longa data, Vitor sabia que provavelmente jamais iriam a um show de novo. Marcel estava adentrando na vida de casado, com outras responsabilidades, de ser marido, pai e mais um monte de coisas que essas coisas acarretam. Vitor estava orgulhoso do amigo.

Foram em uma Van fretada naquele 22 de março de 2009, Vitor foi o último a chegar, atrasou porque foi almoçar com a namorada Beatriz. Estavam indo Vitor, Marcel e o irmão mais novo de Marcel, Eurico. Vitor se lembrava deste último como um pivetinho que curtiam zoar, mas já era um homem feito e iria acabar casando bem antes de Vitor.

Ficaram em um boteco algumas horas antes de entrar no Jockey Club, onde seria o show, beberam cerveja e colocaram o papo em dia. Marcel estava morando em Curitiba, bem longe de Vitor e sempre se viam esporadicamente agora.

A banda Los Hermanos abriu ao show e uma multidão gritava “Pedófilo!!!!”. Depois foi a vez do Kraftwerk entrar e aquilo não era mais um show, era uma aula de história da música eletrônica.

Começaram com The Man-Machine e durante todo o show, eles esqueceram completamente que era um show do Radiohead. Se a banda principal não pudesse se apresentar, aqueles velhacos imitando robôs já valia o ingresso. O show não foi curtinho, tocaram 13 músicas no total, passando pelos grandes sucessos da banda como Tour de France e Radioactivity, mas foi na primeira música do Bis que Vitor foi a loucura quando tocaram The Robots.

We're functioning automatic
And we are dancing mechanic
We are the robots
We are the robots
We are the robots
We are the robots

Era assim que Vitor andava vendo a humanidade, todos ligados no automático, todos como robôs sem emoções, sem sentimentos, frios como gelo.

Tocaram duas músicas depois, mas a mente de Vitor já divagava, olhando todas as pessoas a sua volta como autômatos, como seres mecânicos que não conseguiam pensar por si só. Será que estava sozinho no mundo?

Até hoje a resposta que guarda dentro de si é “sim”.

Gustavo Campello

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