Tariq sempre
tem o mesmo sonho. Ele sonha que está trabalhando, mas não tem ideia do que
seja tal coisa. O que é o trabalho? Ele passa as oito horas de sono sonhando
estar em frente a um computador, fazendo coisas que não entende, para ganhar um
pedaço de papel e comprar coisas que não entende ou entende e não entende
porque precisa do papel para adquiri-las.
No Edifício
não existe o trabalho.
Tabelas de
Excel, café, uma barriga saliente que não reconhece como a dele, uma caneca com
a ilustração de um homem com uma espada luminosa em cima de sua mesa. Ele não
entende porque sonha todos os dias com o mesmo ser do Mundo Posterior, porque
não consegue se desligar dele como todas as pessoas normais do Edifício?
Tariq acorda
cansado depois de uma jornada de “trabalho”, tenta se manter acordado pra não
ter que encarar o “trabalho”. Tariq usa drogas verdes, roxas e vermelhas.
Ingere as drogas com cerveja vagabunda, tenta ficar acordado. Talvez devesse
tentar aquela coisa azul que estão distribuindo por aí.
Pinta os
olhos com maquiagem preta pra esconder as olheiras, mas chega uma hora que
precisa dormir, que precisa “trabalhar”, que precisa encarar chefe, cafeína,
computadores, planilhas, cobranças, metas, clientes gritando e piadas que não
consegue entender.
Toca a
bateria cada vez com mais raiva, tenta extravasar, tenta fugir, tenta acordar
da realidade do Edifício.
Será que é
obra dos Duendes Mecânicos? Será que os putos tem algum dedo robótico cheio de
circuitos nisso? Tariq está perdendo cada vez mais a sanidade, está cada vez
mais frustrado pelas frustrações do Mundo Posterior que não deveriam atingi-lo
ali. Tão Longe. No Edifício.
Tariq está
apaixonado por uma garota de seus sonhos, uma garota que nem vive na mesma
realidade que ele. Morena. Trabalha na baia ao lado. Queria que o puto
levantasse sua barriga e fosse lá conversar com ela, mas apenas pode observá-la
passar, de tempos em tempos. Tariq quer gritar enquanto sonha! Quer se estapear
para acordar. Mas dorme, sempre as oito horas e só acorda quando bate o ponto
para ir embora do serviço.
Gustavo Campello
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