Passei a
minha vida inteira deprimido, o que é uma grande perda de tempo, agora que eu
sei que vou morrer não consigo sentir o medo da vida que senti por tanto tempo.
Acho que depressão é isso, medo de viver, cada vez mais as pessoas tem isso.
Antigamente elas tinham medo de morrer, eu estou com medo de morrer, mas não é
um medo como você acha que vai ser quando a hora chega.
Depressão
é uma coisa que te enche de um vazio tão grande que você não consegue fazer
mais nada. Você tem que trabalhar, mas passa horas jogando Campo Minado no
computador e quando você da conta que passou metade do seu dia em um jogo
idiota o vazio aumenta mais. É assim, um efeito dominó, você deixa de fazer as
coisas porque se sente vazio e o vazio vai aumentando porque deixa de fazer as
coisas.
Trinta e
um anos, dez meses e oito dias.
Esta foi
a idade que meu irmão tinha quando morreu.
Trinta e
um anos, dez meses e oito dias.
Foi a
idade que eu tinha em um dia de finados.
Fatos
bizarros da vida.
Vontade
de chorar por qualquer coisa. Você se sente uma menininha. Assiste a um filme
com o Chuck Norris e chora que nem um idiota porque inventa uma mensagem clichê
super profunda e existencial. Uma mensagem que nem o roteirista enxergou na
hora que escreveu o filme.
Fico
pensando se algum sobrinho meu vai se lembrar o dia exato da minha morte e
saber o que estava fazendo com a idade em que eu morri.
Acho que
não, só eu me atenho a detalhes tão específicos. Talvez o fato de eu me ater a
detalhes tão específicos tenha haver com o meu temperamento e conseqüentemente
me leve a um estágio depressão constante que me perseguiu durante tanto tempo.
Hoje em
dia virou moda ser deprimido, tomar remédios, freqüentar psicólogos e
psiquiatras, ser diagnosticado como bipolar e misturar tudo com vodka. Talvez
eu não tenha sido tão depressivo assim em vida, talvez tenha sido apenas uma
imagem externa que eu quis passar para as pessoas, para elas perceberem que eu
tinha sentimentos.
Quando eu
cheguei na estação espacial, lembro de ter olhado para fora e contemplado o
universo. O primeiro pensamento que veio na minha cabeça foi uma comparação ao
sentimento de solidão que me perseguia com o imenso vazio que tomava conta de
tudo lá fora.
Existia alguma correlação
entre as duas coisas?
Mesmo agora, vagando no
nada e prestando atenção nas minhas divagações, não consigo entender muito bem
a correlação entre a solidão e o vazio, parece ser a mesma coisa, mas não é. A
correlação existe, está lá, mas não consigo entendê-la.
O vazio é o que me
incomodava mais, estranho eu morrer aqui no espaço onde tudo é vazio, menos eu.
Gustavo
Campello
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