quinta-feira, 25 de outubro de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE A DEPRESSÃO



Passei a minha vida inteira deprimido, o que é uma grande perda de tempo, agora que eu sei que vou morrer não consigo sentir o medo da vida que senti por tanto tempo. Acho que depressão é isso, medo de viver, cada vez mais as pessoas tem isso. Antigamente elas tinham medo de morrer, eu estou com medo de morrer, mas não é um medo como você acha que vai ser quando a hora chega.

Depressão é uma coisa que te enche de um vazio tão grande que você não consegue fazer mais nada. Você tem que trabalhar, mas passa horas jogando Campo Minado no computador e quando você da conta que passou metade do seu dia em um jogo idiota o vazio aumenta mais. É assim, um efeito dominó, você deixa de fazer as coisas porque se sente vazio e o vazio vai aumentando porque deixa de fazer as coisas.

Trinta e um anos, dez meses e oito dias.

Esta foi a idade que meu irmão tinha quando morreu.

Trinta e um anos, dez meses e oito dias.

Foi a idade que eu tinha em um dia de finados.

Fatos bizarros da vida.

Vontade de chorar por qualquer coisa. Você se sente uma menininha. Assiste a um filme com o Chuck Norris e chora que nem um idiota porque inventa uma mensagem clichê super profunda e existencial. Uma mensagem que nem o roteirista enxergou na hora que escreveu o filme.

Fico pensando se algum sobrinho meu vai se lembrar o dia exato da minha morte e saber o que estava fazendo com a idade em que eu morri.

Acho que não, só eu me atenho a detalhes tão específicos. Talvez o fato de eu me ater a detalhes tão específicos tenha haver com o meu temperamento e conseqüentemente me leve a um estágio depressão constante que me perseguiu durante tanto tempo.

Hoje em dia virou moda ser deprimido, tomar remédios, freqüentar psicólogos e psiquiatras, ser diagnosticado como bipolar e misturar tudo com vodka. Talvez eu não tenha sido tão depressivo assim em vida, talvez tenha sido apenas uma imagem externa que eu quis passar para as pessoas, para elas perceberem que eu tinha sentimentos.

Quando eu cheguei na estação espacial, lembro de ter olhado para fora e contemplado o universo. O primeiro pensamento que veio na minha cabeça foi uma comparação ao sentimento de solidão que me perseguia com o imenso vazio que tomava conta de tudo lá fora.

Existia alguma correlação entre as duas coisas?

Mesmo agora, vagando no nada e prestando atenção nas minhas divagações, não consigo entender muito bem a correlação entre a solidão e o vazio, parece ser a mesma coisa, mas não é. A correlação existe, está lá, mas não consigo entendê-la.
O vazio é o que me incomodava mais, estranho eu morrer aqui no espaço onde tudo é vazio, menos eu.

Gustavo Campello

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