Em Memória de Alan Poindexter
O que é não ter
fim?
Dizem que não
conseguimos contemplar o verdadeiro significado da palavra infinito. A
matemática é a única linguagem onde o infinito é contemplativo de uma maneira
concebível para nossa limitada forma de pensamento. O amor também, mas o amor é
uma forma de linguagem?
O amor de mãe para
com seus filhos, salvo exceções, é infinito. A mãe que ama o seu filho ainda
vai amá-lo quando todas as estrelas se extinguirem e não houver mais nada
vagando pelo universo, só pó ou nem isso.
O amor é tão
inalcançável.
Intocável.
Incompreensivo.
Infinito.
Enquanto contemplo
o universo e fico há imaginar se ele é infinito mesmo ou não tenho vontade de
amar algo, algo sem fim, que dure mesmo depois da minha morte. Que dure mesmo
que não haja vida após a morte. Que meu amor vague pelo cosmo como o meu corpo
vagueia agora e que seja assim para todo o sempre.
Se o universo tiver
um fim este meu amor iria encontrá-lo, iria se espatifar com uma coluna de
pedras que demarcaria o fim do infinito e mesmo depois de milênios vagando ela
iria fazer todo o caminho de volta de onde surgiu e começaria tudo de novo. De
novo e de novo e isto seria infinito mesmo que o universo tenha um fim.
Nem sei mais no que
estou pensando direito. Não faz o menor sentido.
Tão perto da morte
fico pensando se eu quero ter uma alma que dure para sempre, pois “para sempre”
é algo tão longo e pesado que talvez me assuste mais do que deixar de existir.
Lógico que eu quero que tenha algo depois, mas não sei se precisa ser “para
sempre”. O infinito é tão grande e escuro como o universo que deve ser por isto
que associamos os dois no nosso dia a dia. A matemática é fria e complicada,
também como o infinito.
O amor é tão pouco
associado ao infinito e é o mais parecido com ele. O amor verdadeiro. Infinito,
grande, vazio e que nos faz sofrer.
Olho para o meu
regulador de oxigênio e vejo que ele quebrou devido ao frio, não sei nem quanto
tempo eu ainda tenho para respirar. Gostaria de um cobertor, consigo ver a
fumaça saindo da minha boca e embaçando o vidro do capacete. Gostaria de poder
desenhar algo com o meu dedo no vidro embaçado como fazia quando era criança.
Penso no tempo em
que se passou entre eu estar aqui morrendo vagando pelo espaço e na última vez
em que desenhei com o dedo em um vidro embaçado quando era criança.
Faz muito tempo.
Tanto tempo que
parece infinito.
Gustavo
Campello
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