Esperar, esperar,
esperar... Esperar.
A vida é a espera
pela morte, porém temos que ser pacientes para usufruir de todo o pacote que
está no meio de tudo isto.
Eu particularmente
sempre fui uma pessoa paciente, porém tive algumas desvantagens com relação a
pessoas que não tinham paciência com nada. Pessoas impulsivas que pareciam
correr mais atrás do que queriam do que eu. Durante muito tempo tive a
impressão de ficar assistindo a vida passar e de observar pessoas conseguindo
chegar aos seus objetivos enquanto eu ficava para trás. Ninguém acreditava que
eu iria conseguir ser um astronauta, ninguém tinha muita fé em mim. Tive que
esperar muito pelo meu grande momento, porém quando eu finalmente o tive, fui
descuidado e agora estou morrendo por causa disto.
“Prender cabo de
segurança 1, soltar cabo de segurança 2” – não era nada complicado.
Consegui estragar
todo o meu momento de glória, iria voltar para casa como um herói. Esperei
tanto... Não é justo.
Havia conhecido uma
garota há duas semanas. Ela trabalha na torre de controle da missão. Nunca
conheci o amor, porém achei que haveria uma chance para isto com ela, achei que
finalmente havia chegado a minha hora. Conversávamos sobre qualquer coisa,
tínhamos afinidades que eu achei que nunca encontraria em ninguém. Durante os
poucos dias que tivemos juntos ela me fez muito bem. Ela foi especial.
- Desculpe Rachel –
eu tento acreditar que ela possa me ouvir – mas não vou voltar para casa. Fui
burro demais. Soltei o cabo de segurança 1 antes de prender o cabo de segurança
2 e agora vou morrer no espaço. Desculpe, desculpe, desculpe... Desculpe.
Minha voz soa
abafada e isto é estranho.
Esperar as vezes
faz bem, algumas pessoas colocam os carros na frente dos bois e só se ferram,
porém me arrependo de ter esperado tanto. Devia ter falado mais as coisas que
estavam entaladas na minha garganta, expressado mais o que estava no meu
coração e feito mais o que eu tinha vontade. Agora é tarde.
Gostaria de coçar
meu nariz, mas tenho que esperar a coceira passar. ODEIO ESTE CAPACETE! QUERO
COÇAR MEU NARIZ! ODEIO TER QUE ESPERAR!
Por outro lado
odeio esta sociedade imediatista que grita “Eu quero tudo e eu quero agora!”
como uma criança mimada. Temos que entender que nunca teremos tudo e as coisas
não podem ser sempre no nosso tempo. É preciso ter um equilíbrio. Sim, é
preciso correr atrás dos nossos sonhos, é preciso entender que a vida passa, porém
também é preciso saber lidar com frustrações se as coisas não saem como
planejamos.
Não se pode ter
tudo.
Não terei meu
momento de glória.
Nunca.
Minha vida passou
diante dos meus olhos e eu fiquei assistindo.
Agora estou vagando
pelo espaço frio e silencioso. Apenas a morte é uma coisa certa.
Espero por um
milagre. Espero por uma morte rápida. Espero por uma chance de me despedir.
Espero por algo. No final das contas eu só continuo esperando...
Gustavo
Campello
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