Em Memória de
Jerry Garcia
“Nossas Orações
estão com você” – é a primeira mensagem transmitida pelo código Morse da
estação espacial, seguida por: – “Você não será esquecido”
Sinto uma angustia
no peito, um aperto que é a esperança que se esvai do meu corpo. Pela primeira
vez me dou conta de que não há realmente chance nenhuma de um resgate milagroso
como em filmes de Hollywood. Dizem que a esperança é a última que morre, então
me pergunto, como é possível que eu ainda esteja vivo?
Este caminho é
somente para meus passos, uma estrada destinada para mim entre o Sol e a Lua.
Na vida, quando você cai, você cai sozinho e raramente existe alguém ali para
te ajudar a levantar. Estou caindo em um abismo infinito sem criar ondulações
no ar porque meu desfiladeiro é a vácuo. Se eu soubesse o caminho eu voltaria
para casa.
Minhas divagações
são de segunda mão, elas já foram pensadas antes, talvez fosse melhor que eu
deixasse meu cérebro vazio.
A esperança se
foi... Posso ver ela ao longe, piscando em código Morse. Sinto-me vazio.
Estendo a mão para tentar alcançar a luz que pisca em vão.
Tenho vontade de
gritar.
Grito.
O que é um homem
sem esperança?
O que sobra a
partir daí?
Volto a pensar na
lesma andando pelo fio de uma navalha, tendo o seu corpo dilacerado aos poucos.
É como me sinto. As lesmas deixam um rastro por onde andam, um caminho de muco
que serve para que ela possa voltar de onde veio. Gostaria de ter uma estrada de
tijolos amarelos para seguir e poder voltar para casa. Fico imaginando uma
lesma tentando voltar para casa depois de uma tempestade, o muco lavado pela
chuva, fazendo com que as esperanças de encontrar seu lar diminuam
consideravelmente. O medo de encontrar moleques malvados com um sal de cozinha
pronto para destruí-la. Antigamente caçadores esmagavam lesmas no cabo de suas
lanças para que ficassem grudentas, diminuindo assim as chances de perdê-las em
batalhas. Pobres lesmas sem esperança.
A esperança é algo
frágil como uma flor, pode ser destroçada em segundos, como a flor Kadupul que
cresce no Sri Lanka. Esta flor é tão frágil que vive apenas algumas horas,
floresce por volta da meia noite e morre durante a madrugada. Imagine você ter
uma vida inteira na escuridão, não ter tempo de se acostumar a sentir as coisas
a sua volta, sem sonhos, desejos ou mesmo esperança de durar muito. A flor
Kadupul é como um recém nascido que morre na incubadora. Não gosto desta flor,
fizemos umas experiências com ela na estação espacial. Sua fragilidade, sua
vida curta e sua brancura contrastante com o fundo negro do universo, que é
agora o meu caixão, são coisas que me deprimem.
Gostaria de
acreditar em um resgate miraculoso novamente, nem que fosse por cinco segundos.
Gostaria de ter esperança de novo.
Gustavo
Campello
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