Quando eu era
pequeno, sempre que havia uma prova de matemática, eu torcia para que uma nave
espacial me levasse embora. Algumas vezes eu acreditava tanto que isto ia
acontecer que eu nem estudava para a prova. Nunca aconteceu.
Cresci e parei de
acreditar em alienígenas, não que eu ignoro a existência deles, mas não
acredito que de todos os cantos do universo eles fiquem voando pelo nosso
planeta. Quais as chances disso? Se eles têm naves espaciais que percorrem
enormes distâncias em um curto espaço de tempo, porque diabos estariam
sobrevoando o nosso planeta insignificante? Não, definitivamente não acredito
em alienígenas por aqui... Digo... Por ali, no planeta Terra.
As vezes eu achava
que meus pais iriam chegar para mim e dizer “Filho, temos um segredo para lhe
dizer” – eu ia achar que eles estavam se separando, mas então – “Na verdade
somos extraterrestres e temos que ir embora daqui” – e tudo estaria explicado,
o motivo por eu não me encaixar, o sentimento de ser diferente. Pensando agora
não sei se seria uma boa, acho que o nível de matemática de uma civilização que
constrói discos voadores deve ser muito mais difícil.
A matemática sempre
foi um obstáculo, mas foi algo que venci para me tornar astronauta. As provas e
testes não foram fáceis.
Venci a matemática
para morrer no espaço.
Tenho que parar de
pensar que vou morrer no espaço, não adianta nada ficar todo minuto pensando
nisso, as coisas não vão mudar se eu ficar reclamando e não quero morrer como
um velho rabugento... Reclamando de tudo...
Queria conhecer um
planeta onde as pessoas tivessem uma cultura de aversão a acúmulo e ostentação
de riqueza. Onde o que realmente importa é viver em harmonia com o ambiente e
os outros seres vivos, respeitando e se importante em evoluir mental e
espiritualmente. Porque precisamos criar um planeta assim em nossas mentes?
Porque não fazer do nosso planeta um exemplo?
Se eu fosse um
extraterrestre e viesse para a Terra com o meu disco voador, não bastaria nem
quinze minutos para que eu desse as costas para este planeta e fosse embora
correndo para nunca mais voltar.
Devíamos ter
vergonha de sermos como somos.
Gostaria de falar
para algum ser de fora – Sinto muito – começaria – mas eu sinto vergonha por
ser lá daquele planetinha azul e insignificante.
- Você é lá daquele
planetinha azul e insignificante? – ele diria assustado e sairia correndo logo
depois para não ter contato com ninguém da Terra. Se extraterrestres existem,
então acho que ele tem medo de nós.
Tudo o que tocamos,
nós corrompemos.
Tudo o que
enxergamos, nós queremos.
Tudo que sonhamos,
nós sonhamos apenas para nós. Porque somos egoístas.
Talvez seja bom
morrer longe de tudo isto, sem a presença de todas essas coisas negativas ao
meu redor. Acho que vou gostar de morrer sem ninguém invejoso ao meu lado. Sem
a tristeza de olhos marejados de quem amamos a nos olhar doentes em uma cama.
Olha só eu de novo,
reclamando, mas que velho rabugento eu me tornei.
Gustavo
Campello
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