quarta-feira, 20 de junho de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE OS ANIMAIS



Flutuando assim, no infinito, fez com que eu me lembrasse do Duke. Meu peixe dourado que morava em um aquário redondo. Eu devia ter uns seis anos de idade quando ganhei do meu avô, o vidro não continha nem sequer um enfeite e ele ficava lá a flutuar no vazio como eu agora.

Devo ser um peixe aos olhos de Deus.

Duke pulou do aquário quando eu fiquei um final de semana fora com os meus pais em alguma viagem para a praia. Lembro-me de chegar e vê-lo morto, seco e inerte no chão do meu quarto. Chorei. Nunca mais quis nenhum animal de estimação depois que o Duke morreu, estranho como essas coisas afetam uma criança. Fico imaginando agora se a vida dele valeu a pena, ficar em um lugar vazio, flutuando, apenas observando as outras pessoas irem e virem... Vivendo. Talvez a minha vida tenha sido exatamente como a do Duke, talvez aquele peixinho tenha me afetado tanto que busquei para a minha vida exatamente as mesmas coisas.
            
Vazio.
            
Flutuar.
            
Observar.
            
Pessoas indo e vindo.
            
Li recentemente em algum lugar que os animais são os únicos seres que não reivindicam um Deus, mas são os únicos que conseguem viver em harmonia com Ele. Não consigo me lembrar agora onde foi que eu li isto.
            
A pior coisa que a humanidade fez foi descer das árvores. Devíamos ter continuado lá em cima. Macacos. Sem estradas e prédios. Poder pisar na grama, comer frutas, nadar em rios e sentir a chuva batendo em nossos pelos molhados. Definitivamente estragamos tudo. Tudo está podre e estragado hoje.
            
A teoria da evolução é uma grande piada de Darwin, a grande verdade é que estamos involuindo de mamíferos para parasitas. Evolução é a palavra que menos define o ser-humano, seres evoluídos não criam armas de destruição em massa, não juntam riquezas enquanto seus irmãos morrem de fome, não matam por inveja, ganância e pura violência desenfreada. Somos tão imorais e desmerecedores de pisar no planeta onde vivemos... Este mesmo planeta que observo agora, que parece tão calmo e pacífico do lado de fora, tão livre de problemas e parasitas, mas que está morrendo enquanto o seu sangue é sugado aos poucos.
            
Gostaria de ter tido um cachorro, todos os meus amigos tinham cachorros, mas eu nunca quis um por causa do que houve com o Duke. Imaginava chegar em casa e ver o cachorro morto, seco e inerte no chão do meu quarto e logo desistia da idéia de ter um. Minha mãe comprou um gato depois que me mudei de casa, mas nós nunca nos demos bem... Eu e o gato. Era só eu chegar para uma visita que o gato logo fazia de tudo para que eu percebesse que o sofá era dele e só dele. Era como se ele me dissesse “Você deu o fora daqui, agora o lugar é meu!” e eu tinha que abaixar a cabeça e me dar por vencido por um gato.
            
Gatos comem peixes, acho que por isso nunca gostei deles.
            
- Me desculpe, Duke – eu digo em voz baixa – Me desculpe se eu não cuidei de você direito – e continuo a flutuar no vazio como um peixe.

Gustavo Campello

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