Flutuando
assim, no infinito, fez com que eu me lembrasse do Duke. Meu peixe dourado que
morava em um aquário redondo. Eu devia ter uns seis anos de idade quando ganhei
do meu avô, o vidro não continha nem sequer um enfeite e ele ficava lá a
flutuar no vazio como eu agora.
Devo ser
um peixe aos olhos de Deus.
Duke
pulou do aquário quando eu fiquei um final de semana fora com os meus pais em
alguma viagem para a praia. Lembro-me de chegar e vê-lo morto, seco e inerte no
chão do meu quarto. Chorei. Nunca mais quis nenhum animal de estimação depois
que o Duke morreu, estranho como essas coisas afetam uma criança. Fico
imaginando agora se a vida dele valeu a pena, ficar em um lugar vazio,
flutuando, apenas observando as outras pessoas irem e virem... Vivendo. Talvez
a minha vida tenha sido exatamente como a do Duke, talvez aquele peixinho tenha
me afetado tanto que busquei para a minha vida exatamente as mesmas coisas.
Vazio.
Flutuar.
Observar.
Pessoas
indo e vindo.
Li
recentemente em algum lugar que os animais são os únicos seres que não
reivindicam um Deus, mas são os únicos que conseguem viver em harmonia com Ele.
Não consigo me lembrar agora onde foi que eu li isto.
A pior
coisa que a humanidade fez foi descer das árvores. Devíamos ter continuado lá em
cima. Macacos. Sem estradas
e prédios. Poder pisar na grama, comer frutas, nadar em rios e sentir a chuva
batendo em nossos pelos molhados. Definitivamente estragamos tudo. Tudo está
podre e estragado hoje.
A teoria
da evolução é uma grande piada de Darwin, a grande verdade é que estamos
involuindo de mamíferos para parasitas. Evolução é a palavra que menos define o
ser-humano, seres evoluídos não criam armas de destruição em massa, não juntam
riquezas enquanto seus irmãos morrem de fome, não matam por inveja, ganância e
pura violência desenfreada. Somos tão imorais e desmerecedores de pisar no
planeta onde vivemos... Este mesmo planeta que observo agora, que parece tão
calmo e pacífico do lado de fora, tão livre de problemas e parasitas, mas que
está morrendo enquanto o seu sangue é sugado aos poucos.
Gostaria
de ter tido um cachorro, todos os meus amigos tinham cachorros, mas eu nunca
quis um por causa do que houve com o Duke. Imaginava chegar em casa e ver o
cachorro morto, seco e inerte no chão do meu quarto e logo desistia da idéia de
ter um. Minha mãe comprou um gato depois que me mudei de casa, mas nós nunca
nos demos bem... Eu e o gato. Era só eu chegar para uma visita que o gato logo
fazia de tudo para que eu percebesse que o sofá era dele e só dele. Era como se
ele me dissesse “Você deu o fora daqui, agora o lugar é meu!” e eu tinha que
abaixar a cabeça e me dar por vencido por um gato.
Gatos
comem peixes, acho que por isso nunca gostei deles.
- Me
desculpe, Duke – eu digo em voz baixa – Me desculpe se eu não cuidei de você
direito – e continuo a flutuar no vazio como um peixe.
Gustavo
Campello
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