Em Memória de Ray
Bradbury
“Eu não sou um herói!”
“Nunca fui”
Heróis são aquelas
pessoas que inspiram outras, que são corretas e que acima de tudo não são
egoístas. Não sou nenhuma dessas coisas. Posso ter ido a alguns colégios falar
como é ser um astronauta para algumas crianças, mas todo o discurso é puro
fingimento.
“Escute aqui
garoto” – eu teria dito se fosse verdadeiro – “Ser astronauta não tem nada
haver com esses filmes por aí, o trabalho é o maior tédio e passamos a maior
parte do tempo nos masturbando para passar o tempo”
Gostaria de cruzar
a galáxia com uma arma em punhos como o Flash Gordon. Desbravar um mundo
desconhecido como Mongo. Ter um amor como Dale Arden. Um amigo como Zarkov. Um
inimigo como Ming com o qual teria lutas épicas.
Ser astronauta não
foi exatamente como eu havia planejado.
Heróis são aqueles
que ficam para a história, pode ser o avô de alguém ou um grande escritor. E
quando eu digo história não me refiro a enciclopédias velhas e sites na
internet. Cada um tem uma história individual. Ninguém se lembra do nome de
todos os desbravadores do continente americano, mas muitos foram heróis, outros
vilões.
Os vilões ficam
mais marcados na história do que muitos heróis, Hitler poderia colocar Ming no
chinelo. Extermínio em massa. Queimar livros. Controle da mente.
“Es geht nicht um
eine Neutralität nur im Zweiten Weltkrieg.”
Um herói nunca é
neutro… Sob nenhum aspecto. Um herói nunca finge que os problemas não existem.
Na humanidade realmente há muito poucos heróis. Há vilões demais.
Fecho os olhos e
tento imaginar a minha fantasia, minhas aventuras, meus inimigos e meus amores
extraterrestres. Uma mulher azul com os cabelos alaranjados. Gostaria de uma
roupa verde, botas vermelhas e um foguete nas costas, foi para isto que estudei
para ser um astronauta.
Ser um astronauta
nunca fez de mim um herói, eu achei que ia fazer, mas eu estava enganado quanto
a isso. Não conheci nenhum astronauta que possa se encaixar no perfil do herói,
todos eram pessoas comuns com suas vidas comuns. Provavelmente vão me chamar de
herói ao dizer que morri no espaço a serviço da ciência. Vão querer enaltecer
minha morte pelas circunstâncias que ela ocorreu. O Instituto vai até conseguir
arrecadar um pouco mais de verba em meu nome. Logo serei esquecido, mas
servirei ao propósito deles. O Instituto logo me esquecerá e fabricará outro
herói, algum outro acidente sabe-se lá onde, é preciso que o dinheiro entre e o
setor de marketing é bom no que faz.
“Sou um falso
herói!”
“Ainda não”.
“É preciso morrer
primeiro pra ser um falso herói”.
“O bom de ser um
herói de verdade é que você ao menos pode continuar vivo”.
Gustavo
Campello
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