domingo, 15 de janeiro de 2017

SOLIDÃO DA MADRUGADA NA PISCINA



Já passam das duas horas da manhã, meu corpo boia na piscina que funciona como um analgésico ao horrível calor que faz nesses dias de verão. Uma garrafa de vinho boia vazia junto ao meu corpo, meu cachorro corre em volta da borda com seu medo constante de que eu me afogue, não foram poucas as vezes que ele pulou achando que estava realizando um resgate heroico. Olho para o céu estrelado, mesmo bêbado consigo localizar Alpha Centauri, minha casa, pra onde sonho um dia poder voltar.

Esta piscina de amores, temores e tantas histórias.

Lembro-me quando meu avô escorregou e bateu com a cabeça na borda, sua cabeça abriu, o sangue jorrava e se misturava na água, tentava estancar a corrente do líquido vital em vão, o sangue melado escorria pelos meus dedos e ele tentava a todo custo me acalmar, fingindo que não havia sido nada. Levou vários pontos, mas durante muito tempo a única imagem que tinha quando ia nadar era da água ficando vermelha.

Ainda consigo ver ela na borda conversando comigo, eu declarei meu amor ali e ela sorriu, e consigo lembrar como se fosse ontem, do peito batendo mais forte, dos olhos dela brilhando, da energia que transcorria pelo meu ser de que tudo iria ficar bem, de que daríamos um jeito no que viesse pela frente, mas ela me abandonou mais vezes do que posso contar.

Uma vez posso jurar que deitado assim como estou agora pude ver um veículo de última geração recém fabricado em Alpha Centauri passando muito próximo, foi muito rápido, mas por um minuto achei que finalmente haviam me achado, que finalmente iam me tirar daqui, mas eles nem me viram, ou se viram, nem se preocuparam em me tirar daqui.

Sozinho, boiando, mas querendo afundar.

Gustavo Campello

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