Já passam das duas horas da manhã, meu corpo boia na piscina que
funciona como um analgésico ao horrível calor que faz nesses dias de verão. Uma
garrafa de vinho boia vazia junto ao meu corpo, meu cachorro corre em volta da
borda com seu medo constante de que eu me afogue, não foram poucas as vezes que
ele pulou achando que estava realizando um resgate heroico. Olho para o céu
estrelado, mesmo bêbado consigo localizar Alpha Centauri, minha casa, pra onde
sonho um dia poder voltar.
Esta piscina de amores, temores e tantas histórias.
Lembro-me quando meu avô escorregou e bateu com a cabeça na borda, sua
cabeça abriu, o sangue jorrava e se misturava na água, tentava estancar a
corrente do líquido vital em vão, o sangue melado escorria pelos meus dedos e
ele tentava a todo custo me acalmar, fingindo que não havia sido nada. Levou
vários pontos, mas durante muito tempo a única imagem que tinha quando ia nadar
era da água ficando vermelha.
Ainda consigo ver ela na borda conversando comigo, eu declarei meu
amor ali e ela sorriu, e consigo lembrar como se fosse ontem, do peito batendo
mais forte, dos olhos dela brilhando, da energia que transcorria pelo meu ser
de que tudo iria ficar bem, de que daríamos um jeito no que viesse pela frente,
mas ela me abandonou mais vezes do que posso contar.
Uma vez posso jurar que deitado assim como estou agora pude ver um
veículo de última geração recém fabricado em Alpha Centauri passando muito
próximo, foi muito rápido, mas por um minuto achei que finalmente haviam me
achado, que finalmente iam me tirar daqui, mas eles nem me viram, ou se viram,
nem se preocuparam em me tirar daqui.
Sozinho, boiando, mas querendo afundar.
Gustavo Campello
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