quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

PLACEBO



Era o dia 27 de Abril de 2005, acontecia um evento histórico na cidade em que Vitor morava, o Placebo iria tocar e pela primeira vez não precisaria ir até São Paulo para assistir a um show. Vitor não era mais o cara que havia ido no Rock in Rio há quatro anos atrás. Estava casado com Elize e era pai de uma garotinha, mas o show tão próximo de onde morava não podia ser desperdiçado, Elize concordou que ambos iriam. Este foi o primeiro e único show em que os dois foram juntos.

- Olha essas meninas – disse Elize ao chegar no local – todas alternativas, do jeito que você gosta.

- Eu gosto de você – disse Vitor tentando burlar a insegurança da mulher, ele ainda não estava acostumado com a insegurança constante que paira sobre todas as mulheres que conheceu.

Alguns amigos dele estavam por lá, mas não conseguiu encontrar ninguém, Jorge ligou no seu celular, mas não conseguiram se achar. O show começou com a banda tocando Taste In Man.

Depois da terceira música, uma das preferidas de Vitor (Every You Every Me), Elize começou a reclamar que estava com dor de cabeça. “Qual a novidade?” Vitor pensou, ela sempre estava com dor de cabeça. Praticamente perderam a música Protect Me From What I Want para achar um lugar pra sentar, tinha uns lugares de camarote em um andar acima, onde podiam ficar sentados e tinham uma bela visão do palco.

Quando tocaram Without You I’m Nothing Vitor pulou da cadeira:

I'm unclean, a libertine
And every time you vent your spleen
I seem to lose the power of speech
You're slipping slowly from my reach
You grow me like an evergreen
You've never seen the lonely me at all

Vitor se preocupava com a dor de cabeça de Elize, mas ao mesmo tempo sentia raiva por estar tão distante da multidão que pulava na pista, gostava daquela sensação, das cotoveladas, do suor se misturando, das vozes cantando juntas... ele pertencia a pista, ao amontoado de gente.

Elize estava emburrada, e o emburramento de Elize sempre afetava Vitor, talvez por isso que não deram certo, talvez se ele não ficasse tão afetado não haveria problema, mas ela ficava cada vez pior quanto mais afetado ele ficava e era um ciclo infinito pronto para explodir.

Foram embora discutindo aquele dia, por causa das meninas bonitas com botas e saias e que tinham um jeito de alternativas que Vitor não ligava à mínima, pois só tinha olhos para Elize.

Gustavo Campello

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