- Você nunca perguntou de onde vem a
cerveja? – Ferzan tomava um gole da cerveja gelada logo após fazer a pergunta.
Depois ficou encarando o caneco pela metade.
- Vem da maquina de cerveja, oras – Zlatko
não entendeu muito bem a pergunta – que pergunta idiota.
- Sim, mas de onde vem a máquina de
cerveja? Que composto é este? É uma mistura do que exatamente?
- Cara, este é o tipo de pergunta que não
tem resposta. As máquinas de cerveja existem no Edifício, sempre existiram no
Edifício e sempre vão existir no Edifício.
- Mas e as pessoas que aparecem do Mundo
Anterior? E as lendas do Mundo Posterior. Você também tem os sonhos.
- Esse tipo de pergunta só complica a vida
da gente. Quando a gente menos espera... Zapt! – Zlatko passou o dedo sobre a
testa simbolizando uma incisão – Os Duendes Mecânicos mexem aqui dentro e tchau
tchau.
- Os Subterrâneos também são lendas,
histórias. Por acaso você já viu algum Sem-Coração com vermes pelo corpo?
- Não, mas não quero arriscar – Zlatko
tomou outro gole da cerveja, olhou para Ferzan que continuava a pensar sobre a
cerveja e finalmente disse – mas um Duende Mecânico eu já vi.
- Sério?
- Sim, existem muitos relatos de
aparições, mas foi há uns cento e vinte anos atrás no 7432º andar.
- No 7432º andar? – Ferzan não parecia
pensar mais na cerveja.
- Isso mesmo, estava velho, devia ter mais
de mil anos, era guardado por um ancião local. Ele me deixou ver porque eu
tinha acabado de despertar aqui no Edifício e ficamos chegados.
- O que aconteceu com ele?
- Deve estar por lá ainda.
- E como você veio parar aqui? No 10213º
andar? – Ferzan estava interessado na história. Aquele seu jeito calado era
apenas uma fachada que escondia um homem cujo cérebro não conseguia descansar.
O tempo todo pensando, se indagando e ao mesmo tempo com medo. Medo do
Deus-Fungo. Medo da mudança cerebral imposta pelos Duendes Mecânicos. Lendas
tão antigas, mas que ninguém tinha coragem de dizer que não eram reais. Lendas
cuja autenticidade ninguém mais questionava.
- Longa história.
- E qual era o nome desse ancião? – Ferzan
já planejava uma viagem ao 7432º andar sem que o amigo percebesse – onde
exatamente ele morava lá no 7432º andar?
- O nome dele era... – Zlatko estava
confuso, não conseguia se lembrar – era... – forçou a mente e uma dor percorreu
todo seu corpo até parar na cabeça – ele morava no... – colocou a mão na cabeça
limpando o suor frio que lhe escorria pela testa – ele era o...
Os dois se entreolharam assustados. Era
possível sentir o pânico quase palpável vindo de Zlatko, que por fim disse - Eu
não me lembro!
Gustavo Campello
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