quinta-feira, 10 de julho de 2014

FUNGOS NO MACARRÃO



Bram não gosta de macarrão, acha que lembra os vermes que vivem nos braços dos sem-coração. Não que ele precise comer algo, afinal ninguém precisa comer algo no Mundo Intermediário. Indaga-se porque está ali naquele restaurante imundo com aquele prato de macarrão na sua frente? Porque se sente compelido a comer aquela merda? Parece um macarrão normal com molho de aspargos, seja lá o que for um aspargo. Pensa que aspargos não combinam com macarrão e sente vontade de vomitar.

O garfo vai até o prato quase de maneira automática, vai girando enquanto o macarrão vai enrolando entre seus dentes de metal. Bram olha pra tudo aquilo com nojo. O garfo parece adquirir vida própria enquanto o macarrão se aproxima com o macarrão até sua boca. Bram não quer abrir a boca, seus olhos tentam focalizar algo.

Tem algo andando em seu macarrão, ele enfia na boca mesmo assim, mastiga e passa mal. Vomita ali mesmo do lado de sua mesa. Sua frio e sente algo andando pela sua garganta, tentando chegar até seu cérebro.

Vomita mais um pouco até sentir que não tem mais vermes dentro dele.

Olha para o prato de macarrão, um velho se aproxima e joga o prato longe.

-Fungos! – o velho grita – Fungos por toda parte!

- Fungos? – diz Bram sem entender nada.

O velho é arrastado pra fora do restaurante enquanto o mesmo joga um pano em direção a Bram dizendo – Você vai limpar esta sujeira – e parece decidido a impedir a saída de Bram até que ele faça o que tem que ser feito.

Bram começa a limpar seu vomito enquanto algo se meche, parece criar vida própria. O fungo quer Bram, não importa como, tenta entrar em seu nariz, mas ele é mais rápido e pisa no fungo que cresce tentando tomar a todos no restaurante.

As pessoas não são mais elas mesmas, são agora parte do fungo.

Bram corre dali. Sobre trinta e cinco andares sem parar até se sentir seguro. Ele pensa estar a salvo, mas é questão de tempo até o fungo alcança-lo, não hoje, mas em breve. O vocalista dos  Formigas de Mercúrio vai ter muito trabalho pra continuar sendo ele mesmo.

Gustavo Campello

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