Vitor já curtia Lou
Reed naquela época de faculdade. Os anos 2000 haviam chegado e os disco
voadores continuavam a ser coisa do futuro. Nesta época ele tinha uma
conta de e-mail em um provedor argentino com sede em São Paulo, não lembrava
mais o nome do provedor que nem existe mais. Entrou no e-mail e viu que tinha
uma promoção pra ganhar um par de ingressos pro show do Lou Reed dia 14 de
Novembro, na semana seguinte.
A promoção era simples,
tinha que entrar em um questionário e responder cada uma das vinte perguntas em
menos de dez segundos. Pra pessoa não ter tempo de procurar em sites de busca
pelas respostas, obviamente. Cada pergunta tinha cinco opções e era
preciso marcar as certas. Tinha perguntas simples como: Qual era a banda
que Lou Reed fazia parte? (Velvet Underground, lógico!). Qual famoso artista
promoveu a banda de Lou Reed no começo da carreira? (Dã! Andy Warhol, cadê as
perguntas difíceis?). Tinha as perguntas médias como: Com quem Lou Reed é
casado? (Como é mesmo o nome dela? Laurie Anderson! Lembrou ao ver na lista
entre outros cinco nomes). E tinha as perguntas nível foda: Qual o nome do
travesti com quem o músico foi casado? (E agora? Fodeu! Vou no Bob! Não, Bob
não... Raquel é um nome mais simpático, vou chutar em Raquel mesmo!).
Bingo! Dois dias depois
Vitor tinha ganhado a promoção. Nunca havia ganhado nada e agora tinha em mãos
dois ingressos para ver o Lou Reed – Que Bob que nada. Raquel, seu travesti
gostoso!
Vitor e Marcel foram
até o Credicard Hall, a mesma casa de show em que havia assistido ao show do Blur. Tinha muitas mulheres
bonitas por lá e antes que o Lou Reed subisse no palco foi arrebatado pela
garota alta de olhos escuros com cabelo ondulado ao seu lado.
Antes que pudesse
formular alguma coisa o show começava com Paranoia
Key of E, a preferida de Vitor do álbum Ecstasy que era responsável pela turnê que
estava assistindo.
Let's play a game the next time we meet, ah
I'll be the hands and you be the feet
And together we will keep the beat
To paranoia key of E
I'll be the hands and you be the feet
And together we will keep the beat
To paranoia key of E
Sabia que era um show
que diria para seus netos que havia assistido. Uma energia estranha percorria
todo o seu corpo. Só iria sentir isso de novo no show do Neil Young, mas isto já é outra
crônica.
Acompanhava ao show
vidrado e ao mesmo tempo contemplava aquele anjo dançando músicas como Turn to Me e Modern
Dance até chegar na Ecstasy. Ela se movia
graciosamente ao ritmo da música. A garota definitivamente dava um toque a mais
ao show. Tudo estava mais interessante. Vitor queria chegar nela, falar com ela,
casar com ela e ir com ela até o Inferno se fosse preciso.
Foi depois de Turning Time Around que começou a tocar Romeo Had Juliette. Era agora!
Ele era Romeu e ali estava sua Julieta... Parou em frente dela e ficou
paralisado, ela continuava a dançar e obviamente já havia percebido aqueles
olhos estatelados nela, quase que hipnotizados por seus movimentos. Ela sorriu.
Algo dentro do cérebro de Vitor explodiu em milhares de fragmentos, aquele
sorriso era o LSD da vida que faltava para torna-lo uma pessoa feliz e ela
simplesmente continuava a dançar.
Quando Vitor percebeu
cinco músicas já haviam passado e eles dançavam agora juntos enquanto Lou
cantava a clássica Sweet Jane no começo do bis que acabou já na
música seguinte com Dirty Blvd.
- Como assim um bis com
duas músicas? – Vitor gritou para o palco enquanto ela ainda sorria olhando de
soslaio para ele.
Lou não podia ir embora
assim, não podia acabar com o show enquanto aquele casal queria
desesperadamente dançar e cantar até morrer. E não parou. Começou Walk On the Wild Side e tanto Vitor como a garota se olhavam
compenetrados, algo especial estava acontecendo ali. O
show acabou com a música seguinte: Perfect
Day.
Just a perfect day
You made me forget myself
I thought I was someone else
Someone good
You made me forget myself
I thought I was someone else
Someone good
Vitor chegou ao ouvido
dela e perguntou: Qual seu nome?
- Sweet Jane – ela
respondeu no seu ouvido, lhe deu um beijo e sumiu na mutidão.
Lou Reed ainda cantava Perfect Day no palco. Vitor nunca mais a viu.
Sua Sweet Jane.
Aquela mesma, que os
vinhos e rosas celestiais parecem sussurrar quando sorri.
Gustavo Campello
Caramba, esse texto foi incrível.
ResponderExcluirEssas coisas casuais, esses olhares, duram 5 minutos e alguns a gente nunca esquece, parece que a gente perdeu o grande amor da vida quando o show acabou, o trem parou na estação, a nossa parada de ônibus chegou...
Ficou ótimo, boa noite.
Valeu pelo elogio, esse foi um dos textos de que mais gostei desta série OS MAIORES ESPETÁCULOS DA TERRA.
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