Tudo que
tem um começo, tem um fim e nem sempre é um bom fim. Tentou lembrar de algum
livro com final feliz, mas não conseguiu, lógico que havia algum, mas por mais
que tentasse lembrar de algo feliz logo vinha as desgraças de Hank Chinaski em seus memoráveis finais losers ou de Robert Jordan quebrando a perna esquerda nos
momentos finais de sua fuga depois de explodir a ponte. Nenhum final feliz era
muito marcante afinal de contas na literatura.
Vitor
pensou em todas as decisões e escolhas da sua vida, todos os caminhos que
escolheu seguir acabaram sendo o lado errado da moeda, não havia acertado
nenhuma vez sequer. Algumas pessoas tentavam dizer para olhar o lado positivo
das coisas ruins que haviam acontecido, mas a verdade é que não havia lado
positivo em coisa alguma, nem nas coisas boas que haviam acontecido com ele.
“Como uma
pessoa pode fazer as escolhas erradas cem por cento das vezes?”
Ele se
perguntava isto a todo o momento, começou a arrumar suas coisas, abriu caixas
velhas onde havia recordações de sua infância e de diferentes épocas felizes e
infelizes da sua vida, achou até uma foto de Elise, tinha quase certeza
absoluta que tinha destruído todas elas, mas eis que havia uma ali que ele
havia derrubado água há muito tempo atrás e ela tinha xingado ele por isto.
Sentou-se
no computador e pensou em escrever uma carta para cada amigo, mas depois
desistiu da idéia.
- O que
diabos pensa que está fazendo? – perguntou Marciolo lá de dentro de uma gaveta.
- Eu
tenho um plano!
- Espero
que ele não seja um plano estúpido – Vitor se lembrou de Beatriz e o comentário
lhe cortou como uma navalha – está tomando o seu medicamento?
- Não –
disse Vitor olhando para a cartela de antidepressivos em cima da mesa, vazia já
há mais de um mês – Estou me sentindo ótimo!
A
conversa acabou assim, pegou o telefone e ligou para o seu amigo Adamastor.
- Fala
sumido!
- Preciso
de um favor – disse Vitor como quem não quer nada – lembra aqueles conhecidos
seu que encontramos num bar uma vez que você me disse que eram barra pesada?
- O Rato
e o Canivete?
- Eles
mesmo!
- O que
tem eles?
- Você
tem o telefone deles?
Vitor e
Adamastor chegaram uma hora depois em uma casa muito simpática em um bairro bem
agradável.
- É aqui?
Adamastor
não respondeu, estava bravo com o que Vitor estava obrigando ele a fazer,
porque caso o contrário iria dizer para a garota por quem ele estava apaixonado
todas as baixarias que conhecia a respeito dele.
Os
sujeitos eram bem simpáticos, estavam fumando um narguilé com alguma erva
pesada e assistindo um filme pornográfico com Kelly
Divine. Ofereceram um trago, mas Vitor recusou, porém aceitou a cerveja que
foi buscar na geladeira.
- Então
você é o branquelo que ta querendo um berro? – disse o careca de bigode
entrando na cozinha sorrateiro antes que Vitor pudesse voltar para a sala.
- Isso...
E você é?
- Rato
- Rato...
Certo! – o cara tava chapado e tentando botar algum medo em Vitor, mas passado
o susto inicial já não botava medo em ninguém – Você ta aí com a mercadoria?
- “Você
ta aí com a mercadoria?” – Rato riu – Você acha que ta na porra de um filme de
gangue?
- Ta ou
não ta, porra?
Ele
mostrou uma arma meio velha, desgastada, mas para o que Vitor precisava, ela
não precisava ser bonita, bastava que funcionasse. Deu o dinheiro, colocou ela
na cintura e saiu dali com Adamastor o mais rápido possível.
Vitor
tinha um plano.
Agora ele
tinha uma arma.
Gustavo
Campello
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