Vitor
estava se sentindo extremamente mal, tinha certeza de que ia para o Inferno,
estava cansado de ouvir vegetarianos tentando convencer o mundo de que não
comer carne era um caminho para a purificação da raça humana ou que reciclar
lixo garantiria uma sobrevivência para nossa raça no futuro.
“Todos os
seres vivos que se fodam, não queria que nada tivesse futuro, pra ele não havia
nada melhor do que comer uma picanha com uma cerveja em um dia quente ao lado
de uma piscina”
Gostava
da palavra “Assassino”, do som e da conotação que ela tinha, não dava a mínima
se aquele porquinho lindo da foto ia virar um bacon no seu omelete – Assassino!
– repetia ele em voz alta e um sorriso maroto e maquiavélico surgia entre seus
lábios. O leão mata o veado, o homem mata desde os primórdios do tempo e até
golfinhos já foram flagrados praticando atos de violência – “As pessoas
colocaram peso demais na palavra “assassino” ao longo do tempo”. Vitor podia
não ser um assassino, mas estava preparado para matar alguém ou até ele mesmo
se fosse necessário.Já havia pensado em dar um tiro na cabeça e acabar logo com
tudo isto. Queria chegar para Deus e dizer: "Não teve a mínima
graça!"
Olhou
para o lado e viu uma taturana se arrastando pelo seu apartamento, Sam se
aproximava com o focinho com certa cautela, pois era daquelas peludas que
queimavam. Vitor espantou o cachorro e jogou um álcool no bicho, queria ver
algo queimar. Estava se sentindo extremamente mal naquele dia. O álcool tinha
mais água do que qualquer outra coisa, até o sangue de Vitor era mais
inflamável que aquilo, a taturana só deu uma chamuscada e continuava viva, para
o desespero de Vitor, que queria vela queimar. Enfiou uns palitos de fósforo no
animal e tacou fogo neles... Ela se contorcia com os palitos enfiados enquanto
o fogo ia se aproximando de sua pele. Ele tinha certeza que ia pro Inferno.
Gostava
de usar inseticida e ficar olhando o inseto morrer aos poucos, teve uma aranha
que demorou quase uma hora pra parar de se contorcer, era grande e suas pernas se
mexiam em ritmo frenético o tempo todo.
Quando
era pequeno, durante a madrugada, jogava açúcar na pia da cozinha e voltava
depois de duas horas para ver o mar de formigas que tomava conta do lugar.
Esquentava panelas de água e fazia o seu próprio holocausto... Isto era
freqüente durante as madrugadas, foi crescendo e as formigas pararam de ter a
conotação de judeus em campos de concentração e começaram a virar banqueiros em
suas instituições capitalistas. A pia era Manhattan e as formigas grandes corporações.
Queria ver tudo ser varrido da face da Terra em uma tsunami de água fervendo.
Pensava
se essas idéias não passariam pela cabeça de Deus:
“Será que
ele olha a gente aqui embaixo e fica com vontade de esquentar as panelas?”
Depois
dessa euforia de ser completamente mal, acariciava o cachorro, colocava comida
pros peixinhos no aquário e ia dormir.
Gustavo
Campello
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