segunda-feira, 5 de março de 2012

MAL POR NATUREZA



Vitor estava se sentindo extremamente mal, tinha certeza de que ia para o Inferno, estava cansado de ouvir vegetarianos tentando convencer o mundo de que não comer carne era um caminho para a purificação da raça humana ou que reciclar lixo garantiria uma sobrevivência para nossa raça no futuro.

“Todos os seres vivos que se fodam, não queria que nada tivesse futuro, pra ele não havia nada melhor do que comer uma picanha com uma cerveja em um dia quente ao lado de uma piscina”

Gostava da palavra “Assassino”, do som e da conotação que ela tinha, não dava a mínima se aquele porquinho lindo da foto ia virar um bacon no seu omelete – Assassino! – repetia ele em voz alta e um sorriso maroto e maquiavélico surgia entre seus lábios. O leão mata o veado, o homem mata desde os primórdios do tempo e até golfinhos já foram flagrados praticando atos de violência – “As pessoas colocaram peso demais na palavra “assassino” ao longo do tempo”. Vitor podia não ser um assassino, mas estava preparado para matar alguém ou até ele mesmo se fosse necessário.Já havia pensado em dar um tiro na cabeça e acabar logo com tudo isto. Queria chegar para Deus e dizer: "Não teve a mínima graça!"

Olhou para o lado e viu uma taturana se arrastando pelo seu apartamento, Sam se aproximava com o focinho com certa cautela, pois era daquelas peludas que queimavam. Vitor espantou o cachorro e jogou um álcool no bicho, queria ver algo queimar. Estava se sentindo extremamente mal naquele dia. O álcool tinha mais água do que qualquer outra coisa, até o sangue de Vitor era mais inflamável que aquilo, a taturana só deu uma chamuscada e continuava viva, para o desespero de Vitor, que queria vela queimar. Enfiou uns palitos de fósforo no animal e tacou fogo neles... Ela se contorcia com os palitos enfiados enquanto o fogo ia se aproximando de sua pele. Ele tinha certeza que ia pro Inferno.

Gostava de usar inseticida e ficar olhando o inseto morrer aos poucos, teve uma aranha que demorou quase uma hora pra parar de se contorcer, era grande e suas pernas se mexiam em ritmo frenético o tempo todo.

Quando era pequeno, durante a madrugada, jogava açúcar na pia da cozinha e voltava depois de duas horas para ver o mar de formigas que tomava conta do lugar. Esquentava panelas de água e fazia o seu próprio holocausto... Isto era freqüente durante as madrugadas, foi crescendo e as formigas pararam de ter a conotação de judeus em campos de concentração e começaram a virar banqueiros em suas instituições capitalistas. A pia era Manhattan e as formigas grandes corporações. Queria ver tudo ser varrido da face da Terra em uma tsunami de água fervendo.

Pensava se essas idéias não passariam pela cabeça de Deus:

“Será que ele olha a gente aqui embaixo e fica com vontade de esquentar as panelas?”

Depois dessa euforia de ser completamente mal, acariciava o cachorro, colocava comida pros peixinhos no aquário e ia dormir.

Gustavo Campello

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