As Crônicas de Scaglia chegaram ao fim, mas não é o fim do blog, porém, durante alguns meses o blog vai ficar inativo... novas crônicas virão, mas primeiramente estamos fechados para balanço!
Agradeço a todas as pessoas que fizeram parte das crônicas de alguma maneira. Direta ou indiretamente.
Simone, Claudio, Julio, Ed, Felipe, Marcus, Letícia, Alcebiades, Marcela, Otávio e tantos outros que não vou me lembrar de citar, mas acho que os mais importantes estão aí em cima.
Tchau!
Volto logo!
sexta-feira, 9 de março de 2012
O FIM (VITOR SCAGLIA TEM UM PLANO) - PARTE II
“No fundo
a gente só começa a viver mesmo depois que perde o medo de ir para o Inferno” –
pensava Vitor entre seus botões – “A gente vai vivendo até que cria colhões pra
chegar para Deus e mandar ele ir se foder pela merda de vida!”
Este era
um ponto importante na vida de Vitor, o momento em que ele se desconstruía e
virava uma nova pessoa, sem medo, sem aflições, sem sonhos e sem futuro. Pode
ser apavorante pensar em algo assim, mas o que ele sentia era na verdade um
grande desprendimento de tudo, inclusive de sua própria vida.
Teve a
idéia de fazer uma “Última Ceia” com seus amigos, ligou para Jorge, Adamastor,
Mario, Carla, Marcel e Larissa... Nenhum realmente parece ter entendido direito
a situação e já tinham seus respectivos compromissos para o fim de semana.
Olhou
para a arma em cima de sua cama.
Como
estava cansado de sentir culpa por quem era, sentia culpa por não gostar de sua
própria família, sentia culpa por ser diferente das outras pessoas e sentia
culpa pelos caminhos errados que havia decidido seguir durante sua vida. Queria
ser quem ele era, sem culpa, sem desculpas e se era difícil pras outras pessoas
entenderem que ele era assim... Bem... Paciência!
Pegou a
arma e brincou com ela, rodou entre os dedos, jogava para o ar e pegava com a
outra mão, havia aprendido vários truques com os filmes de faroeste, mas jamais
imaginava que eram tão fáceis de por em prática apenas memorizando os
movimentos com a mente, porém descobriu que era praticamente um malabarista com
a arma em punho.
Olhou uma
última vez para os pôsteres do John
Wayne pela sua casa, se
despediu do aquário e de seus pertences mais insignificantes. Tocou o apito com
certo pesar e abraçou o manati de pelúcia que se chamava Herman com carinho.
Marciolo
estava dormindo e Vitor achou melhor assim... Não queria perturbá-lo com nada.
Vitor
Scaglia tinha um plano, podia ser um péssimo plano, mas ele não ligava, iria
com ele até o fim. Parou de se importar com o que sua família ia achar, com o
que seus amigos iriam falar ou qualquer outra coisa que pudesse acontecer.
Sabia que não ia ser fácil se despedir de tudo, por isso havia virado vários
copos de vodka, mas mesmo assim as coisas não estavam saindo como planejado,
seu coração ainda estava apertado.
Segurou
bem firme a pistola com a mão direita, apesar de ser canhoto, usava a mão
direita para todo o resto que não fosse escrever. Sentiu o metal frio contra
sua pele e levou o cano até o céu da boca para ver qual era a sensação de poder
acabar com tudo tão fácil, tão rápido e tão indolor quanto era possível. O
gosto do metal inundou sua boca e Vitor sorriu.
Afastou
bem vagarosamente a arma do rosto, engatilhou e atirou sete vezes, que era o
número de balas que tinha, bem em cheio no seu computador... ele estava
completamente destruído. Vitor pensou que iria sair fumaça e ela se espalharia
por toda a casa, mas estava enganado, era apenas um pedaço de metal com sete
furos por toda a parte.
Deixou a
arma em cima da cama, pegou Sam e foi embora. Vitor iria viver o mais
intensamente que pudesse, sem pensar mais nos outros, sem se importar mais com
os outros e sem se sentir culpado.
Sua vida
passada inteira estava apagada agora.
Algumas
pessoas iriam se esquecer dele em breve, outras iriam lembrar-se dele pra
sempre pensando onde diabos ele estaria, mas a única certeza que teriam é a de
que ele estaria por aí... Vivendo.
Gustavo Campello
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quinta-feira, 8 de março de 2012
O FIM (VITOR SCAGLIA TEM UM PLANO)
Tudo que
tem um começo, tem um fim e nem sempre é um bom fim. Tentou lembrar de algum
livro com final feliz, mas não conseguiu, lógico que havia algum, mas por mais
que tentasse lembrar de algo feliz logo vinha as desgraças de Hank Chinaski em seus memoráveis finais losers ou de Robert Jordan quebrando a perna esquerda nos
momentos finais de sua fuga depois de explodir a ponte. Nenhum final feliz era
muito marcante afinal de contas na literatura.
Vitor
pensou em todas as decisões e escolhas da sua vida, todos os caminhos que
escolheu seguir acabaram sendo o lado errado da moeda, não havia acertado
nenhuma vez sequer. Algumas pessoas tentavam dizer para olhar o lado positivo
das coisas ruins que haviam acontecido, mas a verdade é que não havia lado
positivo em coisa alguma, nem nas coisas boas que haviam acontecido com ele.
“Como uma
pessoa pode fazer as escolhas erradas cem por cento das vezes?”
Ele se
perguntava isto a todo o momento, começou a arrumar suas coisas, abriu caixas
velhas onde havia recordações de sua infância e de diferentes épocas felizes e
infelizes da sua vida, achou até uma foto de Elise, tinha quase certeza
absoluta que tinha destruído todas elas, mas eis que havia uma ali que ele
havia derrubado água há muito tempo atrás e ela tinha xingado ele por isto.
Sentou-se
no computador e pensou em escrever uma carta para cada amigo, mas depois
desistiu da idéia.
- O que
diabos pensa que está fazendo? – perguntou Marciolo lá de dentro de uma gaveta.
- Eu
tenho um plano!
- Espero
que ele não seja um plano estúpido – Vitor se lembrou de Beatriz e o comentário
lhe cortou como uma navalha – está tomando o seu medicamento?
- Não –
disse Vitor olhando para a cartela de antidepressivos em cima da mesa, vazia já
há mais de um mês – Estou me sentindo ótimo!
A
conversa acabou assim, pegou o telefone e ligou para o seu amigo Adamastor.
- Fala
sumido!
- Preciso
de um favor – disse Vitor como quem não quer nada – lembra aqueles conhecidos
seu que encontramos num bar uma vez que você me disse que eram barra pesada?
- O Rato
e o Canivete?
- Eles
mesmo!
- O que
tem eles?
- Você
tem o telefone deles?
Vitor e
Adamastor chegaram uma hora depois em uma casa muito simpática em um bairro bem
agradável.
- É aqui?
Adamastor
não respondeu, estava bravo com o que Vitor estava obrigando ele a fazer,
porque caso o contrário iria dizer para a garota por quem ele estava apaixonado
todas as baixarias que conhecia a respeito dele.
Os
sujeitos eram bem simpáticos, estavam fumando um narguilé com alguma erva
pesada e assistindo um filme pornográfico com Kelly
Divine. Ofereceram um trago, mas Vitor recusou, porém aceitou a cerveja que
foi buscar na geladeira.
- Então
você é o branquelo que ta querendo um berro? – disse o careca de bigode
entrando na cozinha sorrateiro antes que Vitor pudesse voltar para a sala.
- Isso...
E você é?
- Rato
- Rato...
Certo! – o cara tava chapado e tentando botar algum medo em Vitor, mas passado
o susto inicial já não botava medo em ninguém – Você ta aí com a mercadoria?
- “Você
ta aí com a mercadoria?” – Rato riu – Você acha que ta na porra de um filme de
gangue?
- Ta ou
não ta, porra?
Ele
mostrou uma arma meio velha, desgastada, mas para o que Vitor precisava, ela
não precisava ser bonita, bastava que funcionasse. Deu o dinheiro, colocou ela
na cintura e saiu dali com Adamastor o mais rápido possível.
Vitor
tinha um plano.
Agora ele
tinha uma arma.
Gustavo
Campello
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O FIM DAS CRÔNICAS DE SCAGLIA
As próximas duas crônicas serão as últimas de Vitor Scaglia, agradeço a todas as pessoas que leram, que entraram ou ainda entram no blog pra acompanhar este personagem.
As "aventuras" nem tão aventurescas do personagem aqui no blog chegam ao fim, mas espero que ele ainda perdure em cada pessoa que tenha lido.
Sem mais, valeu todo mundo que gostou, que odiou ou que não tenha achado porra nenhuma!
Obrigado!
Gustavo Campello
As "aventuras" nem tão aventurescas do personagem aqui no blog chegam ao fim, mas espero que ele ainda perdure em cada pessoa que tenha lido.
Sem mais, valeu todo mundo que gostou, que odiou ou que não tenha achado porra nenhuma!
Obrigado!
Gustavo Campello
SOFRER, ESCREVER & BEBER
Vitor
estava em um bar, quando uma garota sentou ao seu lado.
- Oi
-Oi – ele
respondeu
Começou
aquele papinho tosco de quando pessoas se conhecem, ela era bonita, o bar não
era dos mais fuleiros que ele frequentava, portanto a clientela até que tinha
um ar de “sou alternativo, mas não preciso feder por causa disso”. Então ela
veio com a pergunta crucial:
- O que
você faz?
- Tenho
duas profissões – tomou um gole da cerveja – sou escritor.
Um
silêncio por um tempo tomou conta dos dois, ela estava esperando pra saber
sobre a segunda profissão, mas Vitor achou que devia era calar a boca.
- E a
segunda profissão?
- Bêbado
profissional.
Achou que
ela ia se levantar e ir embora, mas ao contrário disso, ela riu.
- Todo
escritor tem que ser um pouco transviado.
- Eu sou
transmacho!
Ela riu
de novo, Vitor pediu outra dose de gin, parecia que ia ser uma daquelas
conversas vazias intermináveis e ele só queria beber.
- Você
está bêbado neste momento?
- Eu
estou bêbado em todos os momentos, querida.
Ela riu
de novo e aquilo estava começando a irritar.
- Você
escreve sobre o que?
Ele olhou
pra ela e pensou “Se ela perguntar se eu escrevo livros de vampiros eu dou um
soco na cara dela”, passou a mão no cabelo que estava caindo no rosto, tomou um
gole do gin que tinha acabado de chegar e pensou sobre o que escrevia.
- Escrevo
umas crônicas – não queria especificar muito – mas ando cansado de tudo, de
escrever essas crônicas, de ficar bêbado o tempo todo, de estar sempre
sozinho... Mas eu tenho um plano pra acabar com tudo isto.
- Legal,
mas e estas crônicas? São do que? De vampiros?
Pronto,
este era o fim da picada, jogou o resto do gin na cara da garota, deixou o
dinheiro em cima do balcão e foi pra casa, ainda tinha muita coisa a ser feita.
Vitor tinha um plano.
Gustavo Campello
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segunda-feira, 5 de março de 2012
MAL POR NATUREZA
Vitor
estava se sentindo extremamente mal, tinha certeza de que ia para o Inferno,
estava cansado de ouvir vegetarianos tentando convencer o mundo de que não
comer carne era um caminho para a purificação da raça humana ou que reciclar
lixo garantiria uma sobrevivência para nossa raça no futuro.
“Todos os
seres vivos que se fodam, não queria que nada tivesse futuro, pra ele não havia
nada melhor do que comer uma picanha com uma cerveja em um dia quente ao lado
de uma piscina”
Gostava
da palavra “Assassino”, do som e da conotação que ela tinha, não dava a mínima
se aquele porquinho lindo da foto ia virar um bacon no seu omelete – Assassino!
– repetia ele em voz alta e um sorriso maroto e maquiavélico surgia entre seus
lábios. O leão mata o veado, o homem mata desde os primórdios do tempo e até
golfinhos já foram flagrados praticando atos de violência – “As pessoas
colocaram peso demais na palavra “assassino” ao longo do tempo”. Vitor podia
não ser um assassino, mas estava preparado para matar alguém ou até ele mesmo
se fosse necessário.Já havia pensado em dar um tiro na cabeça e acabar logo com
tudo isto. Queria chegar para Deus e dizer: "Não teve a mínima
graça!"
Olhou
para o lado e viu uma taturana se arrastando pelo seu apartamento, Sam se
aproximava com o focinho com certa cautela, pois era daquelas peludas que
queimavam. Vitor espantou o cachorro e jogou um álcool no bicho, queria ver
algo queimar. Estava se sentindo extremamente mal naquele dia. O álcool tinha
mais água do que qualquer outra coisa, até o sangue de Vitor era mais
inflamável que aquilo, a taturana só deu uma chamuscada e continuava viva, para
o desespero de Vitor, que queria vela queimar. Enfiou uns palitos de fósforo no
animal e tacou fogo neles... Ela se contorcia com os palitos enfiados enquanto
o fogo ia se aproximando de sua pele. Ele tinha certeza que ia pro Inferno.
Gostava
de usar inseticida e ficar olhando o inseto morrer aos poucos, teve uma aranha
que demorou quase uma hora pra parar de se contorcer, era grande e suas pernas se
mexiam em ritmo frenético o tempo todo.
Quando
era pequeno, durante a madrugada, jogava açúcar na pia da cozinha e voltava
depois de duas horas para ver o mar de formigas que tomava conta do lugar.
Esquentava panelas de água e fazia o seu próprio holocausto... Isto era
freqüente durante as madrugadas, foi crescendo e as formigas pararam de ter a
conotação de judeus em campos de concentração e começaram a virar banqueiros em
suas instituições capitalistas. A pia era Manhattan e as formigas grandes corporações.
Queria ver tudo ser varrido da face da Terra em uma tsunami de água fervendo.
Pensava
se essas idéias não passariam pela cabeça de Deus:
“Será que
ele olha a gente aqui embaixo e fica com vontade de esquentar as panelas?”
Depois
dessa euforia de ser completamente mal, acariciava o cachorro, colocava comida
pros peixinhos no aquário e ia dormir.
Gustavo
Campello
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