Se eu
morresse hoje, não teria lido todos os livros que tenho vontade de ler, não
teria conhecido a Irlanda, não teria visto um jogo de baseball ao vivo, falando
nisso, não teria em toda a minha vida visto o meu time, Cleveland Indians, ganhar o World Series, justo neste ano
que achei que eles tinham alguma chance. Não teria visto neve, o mais engraçado
nisso é que já morei do lado de alpes na Europa. Não teria andado em um
submarino, nem navegado pelos sete mares a bordo de um navio qualquer, não
teria visto um iceberg ou um urso polar. Não teria um autógrafo do Keith Giffen ou apertado sua mão. Não teria tido um
cavalo com o nome Duke, nem vivido em uma casa de madeira em uma chácara
qualquer no meio do mato. Não teria visto o homem pisar em Marte, nem em
qualquer outro planeta, mas pensando bem, acho que nem acredito que ele tenha
pisado na lua. Não teria visto o filme do Lanterna
Verde, nem o próximo filme do Tarantino.
Não teria terminado o meu primeiro livro, nem experimentado heroína. Deixaria
para trás o ultimo capítulo do seriado Gótico
Americano, que eu nunca consegui assistir. Não teria dito para as pessoas
que amo o quanto elas são importantes para mim. Não teria chegado a uma
conclusão plausível sobre o sentido do filme Estrada
Perdida. Morreria antes de Leonard
Nimoy e definitivamente muito
depois do meu ídolo John Wayne.
O último filme que eu teria assistido em vida seria Terra Bruta de John
Ford e o último livro lido
teria sido Entre Rinhas de
Cachorros e Porcos Abatidos de Ana Paula Maia. Sobraria
inúmeras pílulas do meu antidepressivo. Jamais aprenderia e entenderia exatamente
a nova norma gramatical estabelecida. Minha ultima refeição seria um cachorro
quente e uma cerveja e meu apartamento continuaria bagunçado. Não teria gasto
todo o meu ultimo salário e ainda sobraria mais de duzentos contos do meu
vale-refeição. Não teria matado ninguém, mas ao menos seria responsável por
muitos holocaustos entre as formigas. Teria desperdiçado muito tempo deprimido
pensando em como o mundo em que vivemos é um bastardo filho da puta. Teria
partido desta pra melhor sem ao menos bater uma punheta nas ultimas duas
semanas. Minha última conta de luz ainda não estaria paga, já estava bastante
atrasada. Jamais teria dito ao Paulo
Coelho que a literatura dele
é um lixo, apesar de gostar das músicas do Raul
Seixas que ele compôs junto.
Nunca iria ter entendido porque os livros de auto-ajuda vendem tanto ou porque
o Senhor dos Anéis é um sucesso tão grande. Deixaria uma coleção de DVDs,
quadrinhos, livros e pornografia impressionante. Nunca teria tirado o dente do
siso ou amputado algum membro, acho que ia gostar de ter um gancho no lugar da
mão ou um pedaço de pau no lugar da perna. Nunca teria andado de helicóptero ou
pulado de pára-quedas. Não teria vencido meus medos de escorpião e do ET do Steven
Spielberg. Iria embora sem ao menos saber quem era o atual presidente da
Rússia ou o Primeiro Ministro da Inglaterra, não veria jamais a Irlanda
unificada. A fome não teria sido erradicada, mas aí é pedir demais, ou não? Não
lembraria com qual personagem teria jogado pela ultima vez Street Fighter.
Daria pra
continuar escrevendo até amanhã, mas será que o amanhã vem?
E você?
E se você
morresse hoje?
Vitor Scaglia
Acho que nem acredito que um texto desses não tem nenhum comentário...
ResponderExcluirSe eu morresse hoje?
Acho que fiquei definitivamente tentada a responder à sua pergunta.
Você é autor de um dos contos do livro negro dos vampiros, não é?
Meu livro de cabeceira, e um dos meus contos favoritos.
Desculpe chamar de conto, caso não seja, mas enfim, é um dos meus favoritos "Nem Alfa, nem Ômega"
Nem sei o que dizer...
Acho que parabéns, por escrever tão bem, ter bom gosto...
e que o admiro muito!
Heloise Azevedo
Uau! Sou eu mesmo que escrevi este conto (é conto mesmo) Nem Alfa, Nem Ômega.
ResponderExcluirAs vezes escrever me coloca literalmente pra baixo, parece que ninguém realmente se importa. Ao receber um comentário desses parece que um novo folego vem pra que eu continue escrevendo.
Obrigado mesmo. Tentei achar um e-mail no seu perfil pra responder ao comentário, mas não achei. Mande um e-mail pra mim: guscampello@gmail.com
Valeu mesmo!
Concordando com o comentário da menina acima, eu também morreria tentada a responder a sua pergunta. E não pense que ninguém se importa, o que você escreve importa sim, muito. Gostaria de saber como faço pra adquirir um exemplar do livro onde o seu conto foi publicado.
ResponderExcluir=)
Me Manda um e-mail.
ResponderExcluirguscampello@gmail.com