segunda-feira, 20 de setembro de 2010

OS OBSERVADORES



- Eu aposto que ele vai comer macarrão hoje de novo! – diz o mais grandão dos três – ele sempre come macarrão.

- Grande merda! Nós também comemos sempre a mesma coisa – diz o mais rabugento, ele está sempre reclamando, não gosta de muita coisa, então os outros dois costumam ignorá-lo, assim ele acaba dizendo a mesma coisa duas vezes, sempre - Grande merda! Nós também comemos sempre a mesma coisa.

- Eu gosto do que comemos todos os dias, além do mais tem gente por aí que nem tem o que comer – o menor entre eles é quase uma criança e vê sempre o lado positivo de tudo – ele sempre come macarrão porque é nutritivo e deve ser gostoso.

- Dane-se vocês, eu preferia comer o macarrão ao invés da merda da nossa comida, odeio ter que o ver comendo este macarrão através desse vidro – ninguém pareceu notá-lo de novo - Dane-se vocês, eu preferia comer o macarrão ao invés da merda da nossa comida, odeio ter que ver ele comendo este macarrão através desse vidro.

- Vai lá e pede pra ele – diz o menor.

- Um dia eu faço isso!

- Da mesma maneira que você diz que um dia vai embora para Huahine e comer coisas diferentes todos os dias – o maior sempre gosta de provocar os outros dois, mas no fundo são amigos, bem, não porque escolheram, mas porque o destino assim o quis.

- Um dia vou ser um rei e comerei até um pedaço daquilo que ele sempre come!

- Se chama Filé! – disse o menor não dando tempo para repetições.

- Eu sei como se chama – virou-se de costas para não ter mais que olhar a vida alheia através de um vidro – Eu sei como se chama!

- Lá vem ele – disse o maior cheio de expectativa.

- O que ele está trazendo? – ele voltou correndo para o vidro sem se queixar – O que ele está trazendo?

- Não deu pra ver ainda.

- É macarrão!

- Qual? – ainda não tinham conseguido ver – Qual?

- Parece ser um comum com molho de tomate.

- Delícia! Delícia!

Vítor sentou em sua mesa sem imaginar que era alvo de uma discussão, pegou uma taça de vinho e comeu todo o macarrão com bastante queijo.

- Ele vai repetir, sempre repete – disse o menor se gabando de seu conhecimento sobre o cara que eles gostavam de observar. Realmente Vitor repetiu o prato, após terminar a refeição, porém se virou e encarou os três.

- Ele olhou pra gente – diz o maior.

- Está vindo pra cá – diz o menor – porque não aproveita e pede o macarrão para ele?

- Não seja idiota, vamos nadando! – então o mais rabugento se põe a nadar fingindo que está tudo bem e repete para os outros que o imitam – Vamos, não sejam idiotas, vamos nadando!

Vitor fica alguns minutos encarando seu aquário, sem imaginar o que pode passar na mente de peixinhos tão ariscos.

Gustavo Campello

3 comentários:

  1. Ótimo texto, criativo por demasia! Confesso que imaginava se tratar de mendigos, ficou muito bom isso de serem peixinhos, hahaha.

    Então, Gustavo, vou entender o "textos carregados" como elogio e agradecer, hahahaha... Quanto ao seu comentário: realmente já desencanei, é o melhor a se fazer.
    Gostei das tuas crônicas, parabéns, tu escreves muito bem!

    Tenha uma ótima semana, até mais. Beijos!

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  2. Que fim surpreendente! Eu já tinha mil cenas na cabeça e você destruiu tudo com esse fim. Ótimo!

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  3. e eu achei que eram moscas, rs, muito bom, adorei!

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