quarta-feira, 15 de setembro de 2010

COMO JOHN WAYNE FARIA



Vitor chegou tarde da faculdade, um garoto e uma garota esperavam o elevador na portaria do prédio, como acontece nesses lugares, o silencio imperava, não se entreolhavam, não falavam entre si, porque afinal de contas todos moravam em uma cidade grande e tinham uma reputação a zelar. Reputação de escrotos.

O elevador chegou, Vitor abriu a porta e esperou para que a garota passasse, podia ser meio rabugento, reclamão e encrenqueiro, mas tinha o cavalheirismo dos antigos filmes de faroeste que cresceu vendo. Para a sua surpresa o outro cara que estava lá passou na frente e entrou no elevador. Vitor pensou em pegá-lo pelo colarinho e tirar ele do elevador dando-lhe um pé na bunda para que a garota entrasse antes, era isso que John Wayne teria feito. A garota pareceu nem perceber nada e entrou logo depois, Vitor entrou por último e ficou encarando o cara.

- Sinto muito! – disse Vitor rompendo o silêncio enquanto o elevador passava pelo primeiro andar.

- Pelo que? – respondeu o sujeito

- Não percebi que era uma mulher, você parece um cara pra mim.

- Do que você está falando?

- Achei que fosse homem.

- Eu sou homem!

O elevador chegou ao terceiro andar, parou e a mulher saiu dando uma risadinha

- Não, não é! – o garoto era um almofadinha desses que nunca haviam levado um soco na cara e que tentavam evitar uma briga a todo custo – se fosse um homem não passaria na frente de uma garota para entrar no elevador.

- Ah.... isso? – ele pareceu aliviado, achando que isso não era nada de importante – estamos no século vinte e um cara, não existe mais isso.

- Sei, então quer dizer que se eu te chamar de lambe bostas arregaçado filho da puta dos quintos dos infernos não é falta de educação?

O elevador passava pelo sétimo andar e o garoto voltou a ficar nervoso, viu que Vitor não estava pra brincadeira, aquilo era assunto sério para ele.

- Bem... eu não quero encrenca cara...

- Tarde demais!

- Não precisa me bater cara! – o elevador chegou no andar dos dois, parece que moravam no mesmo andar, porém Vitor entrou na frente da passagem impedindo a saída do seu oponente – vamos esquecer isso, tudo bem?

- Tudo bem! – disse Vitor apertando o botão do térreo de novo, a porta se fechou e ambos ficaram sozinhos de novo, na descida não teve conversa, mas pareceu uma eternidade, o destino parecia não chegar nunca.

Vítor abriu a porta no térreo, pegou o sujeito pelo colarinho e o atirou do elevador com um chute na bunda, fechou a porta e voltou para o seu apartamento sozinho pensando que isso era exatamente o que John Wayne faria.

Gustavo Campello

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