Vitor
chegou tarde da faculdade, um garoto e uma garota esperavam o elevador na
portaria do prédio, como acontece nesses lugares, o silencio imperava, não se
entreolhavam, não falavam entre si, porque afinal de contas todos moravam em
uma cidade grande e tinham uma reputação a zelar. Reputação de escrotos.
O
elevador chegou, Vitor abriu a porta e esperou para que a garota passasse, podia
ser meio rabugento, reclamão e encrenqueiro, mas tinha o cavalheirismo dos
antigos filmes de faroeste que cresceu vendo. Para a sua surpresa o outro cara
que estava lá passou na frente e entrou no elevador. Vitor pensou em pegá-lo
pelo colarinho e tirar ele do elevador dando-lhe um pé na bunda para que a
garota entrasse antes, era isso que John Wayne teria feito. A garota pareceu
nem perceber nada e entrou logo depois, Vitor entrou por último e ficou
encarando o cara.
- Sinto
muito! – disse Vitor rompendo o silêncio enquanto o elevador passava pelo
primeiro andar.
- Pelo
que? – respondeu o sujeito
- Não
percebi que era uma mulher, você parece um cara pra mim.
- Do que
você está falando?
- Achei
que fosse homem.
- Eu sou
homem!
O
elevador chegou ao terceiro andar, parou e a mulher saiu dando uma risadinha
- Não,
não é! – o garoto era um almofadinha desses que nunca haviam levado um soco na
cara e que tentavam evitar uma briga a todo custo – se fosse um homem não
passaria na frente de uma garota para entrar no elevador.
- Ah....
isso? – ele pareceu aliviado, achando que isso não era nada de importante –
estamos no século vinte e um cara, não existe mais isso.
- Sei,
então quer dizer que se eu te chamar de lambe bostas arregaçado filho da puta
dos quintos dos infernos não é falta de educação?
O
elevador passava pelo sétimo andar e o garoto voltou a ficar nervoso, viu que
Vitor não estava pra brincadeira, aquilo era assunto sério para ele.
- Bem...
eu não quero encrenca cara...
- Tarde
demais!
- Não
precisa me bater cara! – o elevador chegou no andar dos dois, parece que
moravam no mesmo andar, porém Vitor entrou na frente da passagem impedindo a
saída do seu oponente – vamos esquecer isso, tudo bem?
- Tudo
bem! – disse Vitor apertando o botão do térreo de novo, a porta se fechou e
ambos ficaram sozinhos de novo, na descida não teve conversa, mas pareceu uma
eternidade, o destino parecia não chegar nunca.
Vítor
abriu a porta no térreo, pegou o sujeito pelo colarinho e o atirou do elevador
com um chute na bunda, fechou a porta e voltou para o seu apartamento sozinho
pensando que isso era exatamente o que John Wayne faria.
Gustavo Campello
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