sábado, 25 de setembro de 2010

A FAXINA



Vitor estava deitado na sua cama quando sentiu uma agulhada na sua nuca, era um cabo de conexão neural que uma comunidade de ácaros super desenvolvida que morava embaixo de sua cama havia fabricado para se comunicar com ele. Eles pediam para que ele parasse de peidar.

Vitor acordou.

Havia sido um sonho estranho, olhou para o carpete do seu quarto, havia inúmeras manchas nele, foi quando se deu conta de que já fazia três anos desde a última faxina. Levantou bem disposto a arrumar tudo, tirou todos os móveis do quarto e começou por ali, a cama foi a mais difícil, era grande e pesada, imaginou ficar soterrado por aquele colchão king size e só conseguir sair quando sua namorada desse por sua falta.

“Aquela mancha foi quando vomitei run a noite inteira e minha garganta ficou toda fodida” lembrou ele esfregando com uma escova, nem toda mancha saiu, porém aquela mancha de molho de pimenta que já fazia parte do cenário havia dois anos saiu mais rápido do que ele imaginava. Uma camisinha embaixo da cama deixou uma mancha irremovível, mas como ficava embaixo da cama não tinha problema, ninguém ia ver.

Depois que o quarto havia sido arrumado e um holocausto de ácaros estava em andamento, resolveu limpar a sala. Antes passou na geladeira e abriu uma cerveja. Na sala havia de tudo um pouco, amendoins ancestrais, macarrões pretos, milhos guerrilheiros escondidos por toda a parte e um pedaço de salsicha estrategicamente escondido atrás do estabilizador. Vitor só achou a salsicha quando foi ligar o aspirador de pó no maldito estabilizador que pifou assim que ele começou a aspirar. Pegou outra cerveja e jogou o estabilizador pela janela do décimo primeiro andar.

A cozinha era a sua próxima vitima, baldes e baldes de águas estavam sendo jogados por toda a cozinha enquanto ele esfregava todo azulejo entre uma cerveja e outra, lembrou então que já era tarde e não havia almoçado, iria se preocupar com isso depois. Neste momento a água do prédio foi cortada. Revoltado ele foi até a portaria saber o que estava acontecendo, mas um cartaz no elevador dizia “Vai faltar água hoje! Manutenção do apartamento 1206” – filho de uma cadela – falou em voz alta e voltou para o apartamento onde só restava esperar. Ficou bebendo mais cerveja.

Acordou no dia seguinte no chão da cozinha, todo molhado e com frio, a única diferença no cenário era uma nova poça de vomito que ele nem imaginava de onde tinha surgido, continuou a faxina como se ainda fosse o mesmo dia.

“Falta o banheiro” – pensou, mas este foi mais fácil porque era o único lugar do apartamento que sofria faxinas esporádicas, quando terminou se sentiu muito melhor e mais tranqüilo, pois só teria que repetir este martírio daqui há três anos.

Gustavo Campello

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