Vitor
estava deitado na sua cama quando sentiu uma agulhada na sua nuca, era um cabo
de conexão neural que uma comunidade de ácaros super desenvolvida que morava
embaixo de sua cama havia fabricado para se comunicar com ele. Eles pediam para
que ele parasse de peidar.
Vitor
acordou.
Havia
sido um sonho estranho, olhou para o carpete do seu quarto, havia inúmeras
manchas nele, foi quando se deu conta de que já fazia três anos desde a última
faxina. Levantou bem disposto a arrumar tudo, tirou todos os móveis do quarto e
começou por ali, a cama foi a mais difícil, era grande e pesada, imaginou ficar
soterrado por aquele colchão king size e só conseguir sair quando sua namorada
desse por sua falta.
“Aquela
mancha foi quando vomitei run a noite inteira e minha garganta ficou toda
fodida” lembrou ele esfregando com uma escova, nem toda mancha saiu, porém
aquela mancha de molho de pimenta que já fazia parte do cenário havia dois anos
saiu mais rápido do que ele imaginava. Uma camisinha embaixo da cama deixou uma
mancha irremovível, mas como ficava embaixo da cama não tinha problema, ninguém
ia ver.
Depois
que o quarto havia sido arrumado e um holocausto de ácaros estava em andamento,
resolveu limpar a sala. Antes passou na geladeira e abriu uma cerveja. Na sala
havia de tudo um pouco, amendoins ancestrais, macarrões pretos, milhos
guerrilheiros escondidos por toda a parte e um pedaço de salsicha
estrategicamente escondido atrás do estabilizador. Vitor só achou a salsicha
quando foi ligar o aspirador de pó no maldito estabilizador que pifou assim que
ele começou a aspirar. Pegou outra cerveja e jogou o estabilizador pela janela
do décimo primeiro andar.
A cozinha
era a sua próxima vitima, baldes e baldes de águas estavam sendo jogados por
toda a cozinha enquanto ele esfregava todo azulejo entre uma cerveja e outra,
lembrou então que já era tarde e não havia almoçado, iria se preocupar com isso
depois. Neste momento a água do prédio foi cortada. Revoltado ele foi até a
portaria saber o que estava acontecendo, mas um cartaz no elevador dizia “Vai
faltar água hoje! Manutenção do apartamento 1206” – filho de uma cadela – falou
em voz alta e voltou para o apartamento onde só restava esperar. Ficou bebendo
mais cerveja.
Acordou
no dia seguinte no chão da cozinha, todo molhado e com frio, a única diferença
no cenário era uma nova poça de vomito que ele nem imaginava de onde tinha
surgido, continuou a faxina como se ainda fosse o mesmo dia.
“Falta o
banheiro” – pensou, mas este foi mais fácil porque era o único lugar do
apartamento que sofria faxinas esporádicas, quando terminou se sentiu muito
melhor e mais tranqüilo, pois só teria que repetir este martírio daqui há três
anos.
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