Beatriz
havia acabado de voltar de um festival de arte em outro estado.
- E aí?
Como foi? – pergunta Vitor.
- Putz,
teve uma oficina de performance horrível, você ia adorar.
-
Hahahahaha, como era?
- Tinha
uma temática transgressora, algo de ir contra o sistema, chocar as pessoas,
essas coisas.
- Putz!
- Um
gordinho entrou com uma fralda e uma tira de couro espremendo o peito, ficou
parecendo que tinha umas tetas de mulher, enfiou a mão na fralda e pixou a
parede com algo que parecia bosta!
- Não
fode!
- É
sério, todo mundo pensou que era bosta mesmo, mas era doce de leite.
-
Hahahahahahahahaha, mas que merda!
- Não,
era doce de leite!
-
Hahahahahahahahaha, o que uma pessoa tem na cabeça pra fazer isso? – Vitor
estava com a barriga doendo de tanto rir de imaginar a cena, nunca entendeu
essas performances artísticas e entendia menos ainda o que diabos um gordinho
de fralda pixando com algo que parecesse bosta tinha de transgressor ao sistema
– mas diz aí, o que ele pixou?
- “A
burguesia fede!”
- Não
fode!
- Sério.
- Ele não
podia ser original?
- O cara
estava de fralda pixando a parede com um doce de leite que parecia merda, ta,
foi horrível, mas não da pra dizer que ele não foi original.
-
Hahahahahahahahaha! Tá certo!
- Teve
outro cara que estava nu, com uma lixa de pé escondendo o pinto e um saco
pendurado cheio de bombinhas que devia estar amarrado no próprio saco dele. Daí
ele tirava as bombinhas do saco postiço, esfregava na lixa e estourava elas no
chão.
- Não
fode!
- É!
- Nossa,
onde será que vive esse tipo de gente?
- Como assim?
- Porra,
eu nunca conheci alguém que ficaria nu, com uma lixa escondendo o pinto e
estourando bombinhas de um saco pendurado nos bagos!
- Ah, ta
cheio de gente assim por aí.
- Por aí
onde? Conheço um monte de gente que fez arte, você, o Jorge, a Larissa mesmo
que faz artes cênicas não teria coragem de fazer uma merda dessas - pensou mais
um pouco em alguém - Nem o Mario faria uma coisa dessas!
-
Hahahahahahaha, realmente o Jorge nunca faria algo assim - Beatriz tentava
imaginar a cena e ria compulsivamente.
- Essas
pessoas devem viver em árvores com portinholas ou embaixo da terra, só aparecem
pra essas oficinas, nem fodendo que são pessoas reais.
- Foi
constrangedor!
- Ah, eu
ia dar muita risada se estivesse lá - Vítor se imaginava rolando no chão de
tanto rir enquanto as pessoas levavam suas performances a sério.
- Sorte
que você não foi, teve uma menina que ficou imitando robô...
Ambos
ficaram em silêncio, estavam imaginando a mesma cena. Vitor invadindo a
performance, atacando a mulher e gritando “REPLICAAANTE!”. Vitor deu um
sorriso, olhou para Beatriz e disse:
- Não
perco mais estes festivais por nada!
No
próximo ela iria passar vergonha.
Gustavo
Campello