quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O CAMINHO



Durante a semana, de segunda a sexta, Vitor sai de sua casa as 18:30hs. Saindo do elevador sempre tem que ouvir seu porteiro falar de futebol, mesmo não dando muita bola para o esporte em questão, sempre preferiu beisebol, fato estranho se levarmos em conta o país onde vive.
Virando a primeira a direita ele entra em uma rua suja de bosta, tem bosta pra todo lado, parece um campo minado, é sempre importante deixar os olhos bem abertos e ir desviando para não sujar os pés, os muros dessa rua são usados de latrinas, tem sempre um filho da puta mijando, Vitor finge que não vê e segue em frente, ele imagina se todas aquelas merdas no chão são de cachorros ou se algumas podem ser humanas, mas acha melhor não pensar sobre o assunto.

Saindo dessa rua ele chega a uma enorme avenida, a maioria do seu percurso é nela que ele anda, é uma das avenidas principais da cidade, está sempre cheia, uns oito ônibus fazem fila no ponto, pessoas vêm e vão para todos os lados, quando está muito quente o rio que fica entre as pistas fede que nem um lixão e mosquitos perambulam grudando no seu rosto. Vitor andou por esta avenida a sua vida inteira, brinca que quando morrer quer ser cremado e que suas cinzas sejam jogadas naquele rio fedido.

Ônibus passam no sinal vermelho e buzinam para ele como se fosse um crime andar a pé por ali, existe um cruzamento com uma rua chamada Santos Dumont que nem sequer existe um sinal para pedestre, a faixa está ali, porém você tem que esperar a boa vontade de algum motorista ou que os carros simplesmente parem de passar para atravessar, Vitor às vezes imagina que as pessoas têm que ser um Transformer e virar um carro para poder passar por aquele cruzamento – Vereadores filhas das putas que não ligam a mínima para os pedestres – pensa sempre que passa por ali, todo santo dia.

No caminho passa por aquele barzinho novo tão legal que lembra o Ozzo, não que tenha música ao vivo, mas pelo menos toca algo legal e as pessoas ficam na rua bebendo cerveja, não tem mesa, não tem petiscos, só cerveja e um bando de gente da velha-guarda, mais velhas, como ele.

Quando pega a Rua dos Alecrins sempre tem que desviar de carros parados na faixa de pedestre, as pessoas parecem que nem notam que existem pessoas passando a pé ali, é quase que como o pedestre tivesse que pedir desculpas por não ter um carro. Passa por uma batataria, que é onde Beatriz trabalhava como garçonete, quando eles começaram a sair. Lembra de um amigo que morava naquela rua, ele tinha uma cachorra que de tão velha já estava cega, ela andava em linha reta e quando batia a cabeça na parede deitava e esperava que alguém a tirasse dali. No final tem uma padaria que tem o melhor pão da cidade.

Atravessa uma praça onde dondocas andam com seus cachorrinhos, também é preciso tomar cuidado com as bostas por ali. Passando pelo local ele finalmente chega a rua de seu destino, onde um gato preto sempre passa na sua frente para renovar um pouquinho o azar que Vitor tem de sobra, finalmente chega no Bar do Jean, toma uma cerveja e vai assistir a aula da faculdade sabendo que tem todo o caminho de volta ainda no fim da noite.

Gustavo Campello

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