Além de ser astronauta,
nunca soube o que quis da vida. As vezes queria ser rico, viver bem vestido e
sair com mulheres deslumbrantes como em um filme do 007 e as vezes queria ter
uma vida simples, longe de tudo, sozinho como em um filme de faroeste antigo.
Das mulheres com quem
vivi, tinha a certeza que seria infeliz para o resto da minha vida quando
estava com elas, mas também tive a certeza de que seria o homem mais feliz do
mundo quando elas partiam. Meu coração nunca bateu no ritmo certo por culpa da
indecisão que fazia parte de mim. Se eu deixasse tento de pensar nas
possibilidades infinitas e me entregasse a um único destino, minha vida talvez
não tivesse sido tão confusa e turbulenta como foi. Quando uma falou em
casamento eu surtei, quando outra falou em filhos fugi e quando outra falou em
abandonar tudo pra ficar comigo eu a afastei o mais longe possível.
Mesmo aqui no espaço este
sentimento de indecisão me persegue como um gato morrendo de fome mastiga um
rato morto há três dias. Não sei se sinto desespero por saber que minha morte é
iminente, pois a vida parecia guardar ainda tantos segredos a serem
conquistados, ou se sinto tranqüilidade, pois me liberto de um mundo do qual
não sei se gostava tanto assim.
Pessoas cruéis e egoístas
que só pensam nelas mesmas, que fazem de tudo para subir na vida sem se
importar em quem estão pisando logo abaixo delas. Um mundo que se autodestrói
cada vez mais a cada segundo, onde pessoas para conseguirem viver bem vestidas
e sair com mulheres deslumbrantes como em um filme do 007 precisam disseminar a
fome e a miséria por todos os continentes do globo.
Então eu me lembro de
pessoas boas que conheci, pessoas carinhosas que tinham um apreço único pela
humanidade em geral. Minha avó sempre tentou ajudar quem podia, não importava
quem fosse. Quando uma pessoa pedia dinheiro no semáforo as pessoas logo diziam
“Não dê dinheiro pra ele, vai comprar drogas com certeza!”. E daí? E se ele
quiser comprar drogas? Ninguém sabe a história dele, o que viveu, o que viu ou
como sua existência é cheia de sofrimento e miséria. Aprendi com pessoas como a
minha avó que não se deve julgar os outros. Cada um tem sua história cheia de
indecisões e cada um vai levando a vida da melhor forma que consegue.
Eu não acertei o tempo
todo, muito pelo contrário, a minha vida foi mais cheia de erros do que de
acertos. Acho que as vidas de algumas poucas pessoas devem ter mais acertos.
Não é porque eu acertei em determinado caminho que eu devo julgar quem não fez o
mesmo, quem se perdeu ou está perdido entre as milhares de escolhas entre o
ponto A e o ponto B.
O problema é quando sua
indecisão é tão forte que não deixa você fazer escolhas e você fica preso
naquele momento, inerte, como se estivesse em animação suspensa. Já fiquei
assim, sem tomar decisões e estagnado por mais de um ano. É preciso dar um
passo a frente nem que seja para cair de um precipício, é preciso entender que
parado nunca se chega a lugar nenhum.
É possível viver uma vida
inteira estagnada, onde nada acontece. Então quando se menos espera a morte
bate a sua porta cobrando débitos por uma vida que não existiu.
Gustavo
Campello