Em Memória de
Neil Armstrong
Quando nascemos, já
chegamos conectado a algo. Nossa família. Conforme crescemos temos apenas dois
caminhos a seguir, nos conectamos a mais coisas além da nossa família ou vamos
perdendo conexões até não termos mais nada.
Acho que se eu não
fosse morrer aqui, chegaria ao ponto onde não teria mais nada. Vinha trilhando
um caminho perigoso, me afastando de tudo e de todos. Dinheiro já não me
importava mais, bens materiais muito menos. Minha humanidade ia escorrendo do
meu corpo aos poucos, como se fosse tirada de mim por um conta-gotas. Olhava as
pessoas na rua e não sentia nada, não tinha vontade de conversar, de interagir
ou de fingir que era parte de alguma sociedade que não me dizia respeito.
Estava me perdendo, agora eu consigo enxergar, estava deixando que minha alma
me deixasse.
Conheci Rachel há
pouco tempo e achei que ela seria minha salvação, mas eu estava errado em dar
tamanha responsabilidade nas mãos de uma única pessoa. A responsabilidade tinha
que ser minha. Consigo ver agora que se eu tivesse continuado lá embaixo ela
não teria me salvado, talvez eu tivesse tragado sua alma para o buraco junto
com a minha. Pobre Rachel. Temos sorte, você e eu. Agora eu consigo ver que não
foi nossa conexão que me salvou, mas foi o meu afastamento de tudo no espaço
que fez isso. Só agora que eu estou longe de tudo é que estou conectado de novo
com a essência das coisas.
Para nos
conectarmos ao mundo, amar o próximo, nutrir compaixão e fazermos parte de um
todo é preciso primeiramente estar conectado a si mesmo. Mesmo aqui tão longe
de tudo ainda não estou desconectado de tudo, pois tenho a mim mesmo para me
conectar. Somente quando você consegue se entender consigo mesmo, saber quem
realmente é, seus sonhos e desejos é que você estará disposto a dar um passo a
frente e estar realmente conectado ao mundo como ele deve ser.
Agora, que estou
afastado de tudo, é o momento em que eu nunca estive tão conectado a tudo e a
todos que estão naquele planeta. Posso sentir as tristezas e felicidades, posso
sentir como uma folha se sente ao ser carregada por uma brisa suave de
primavera, sinto fome e fartura ao mesmo tempo e principalmente sinto o gosto
salgado das lágrimas que escorrem agora pela pele macia da Rachel enquanto ela
pensa em mim aqui em cima pensando nela.
O mundo é como uma
enorme teia de aranha, onde tudo está conectado. Se Deus tiver alguma forma,
com certeza é a de uma enorme aranha, puxando seus fios, ligando tudo em um
complexo quebra cabeças. Conectando e desconectando. Tecendo novos caminhos em
fios quase invisíveis.
Estou feliz por
estar conectado agora.
Estou feliz porque
consigo ver os fios quase invisíveis e me espanta como quase ninguém consegue
vê-los. Porque agora que eu realmente parei para prestar atenção, eles são
enormes e impossíveis de se ignorar. É só realmente abrir os olhos que eles
estarão ali.
Abra os olhos!
Gustavo
Campello
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