quinta-feira, 6 de outubro de 2011

OBJETOS



O pente e a saboneteira que se encontram no banheiro de Vitor remontam momentos históricos de sua infância. A saboneteira provavelmente é mais velha que ele, o pente faltando algumas cerdas, azul, deve ser de quando tinha uns 10 anos. Ele é de plástico e não tem nada de especial, apenas seguiu junto com Vitor por tempo demais, assim como a colher bailarina, que é a única que mistura o seu leite, nenhuma outra colher tem esta tarefa – “seria uma heresia usar outra colher”- pensa Vitor.

Um óculos-escuro do seu avô fica guardado na gaveta, usou ele em uma festa a fantasia, mas sempre evita usá-lo por se tratar de uma raridade, ainda tem uma blusa de lã que também pertenceu ao velho. Em cima do seu computador fica uma caveira de gesso que comprou em Gramado-RS, seu nome é Zé Tobias, lembra-se daquela viagem com seus avós onde conheceu Silvana, tinha 13 anos e se apaixonou, quando voltou mandou flores, mas deve ter assustado a garota, nunca mais se viram.

Dois santos, uma Nossa Senhora das Graças e um São Francisco que foram dados pela sua avó quando saiu da casa dos seus pais ainda estavam ali, meio escondidos, mas ainda estavam ali.

Um CD de instalação do Windows 98 que seu primo Giorgio lhe deu quando este tinha acabado de ser lançado. Olhava pro disco e tentava se lembrar de mais algum objeto que tinha sido dado por seu primo, mas não conseguiu lembrar-se de mais nenhum. Resolveu que iria pedir o baixo dele para sua tia.

Espalhados por vários lugares haviam desenhos feitos por Bianca, rabiscos de quando ela tinha cinco anos, animaizinhos de quando ela tinha sete e casas e árvores de quando ela tinha nove. Pensou que tinha que colocar todos em uma pasta. Iria organizar aquilo.

Objetos espalhados por todo o minúsculo apartamento traziam recordações, cada um tinha uma história, cada um lhe lembrava de um momento, cada um lhe era mais importante que tudo. O aquário, o apito, o Sr Cabeça de Batata, camisetas, um barco a vela do Kinder Ovo, um óculos 3-D de papel, uma presilha de cabelo, uma caixa de lenço em formato de elefante, um pôster desenhado por George Pérez, uma sombrinha bem afeminada, um manati de pelúcia chamado Herman, tartarugas de porcelana, copos de Star Trek comprados no Burguer King e várias outras coisas.

Olhou para as garrafas de gin vazias em cima da geladeira e se perguntou porque guardava aquilo.

Gustavo Campello

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