O pente e
a saboneteira que se encontram no banheiro de Vitor remontam momentos
históricos de sua infância. A saboneteira provavelmente é mais velha que ele, o
pente faltando algumas cerdas, azul, deve ser de quando tinha uns 10 anos. Ele
é de plástico e não tem nada de especial, apenas seguiu junto com Vitor por
tempo demais, assim como a colher bailarina, que é a única que mistura o seu
leite, nenhuma outra colher tem esta tarefa – “seria uma heresia usar outra
colher”- pensa Vitor.
Um
óculos-escuro do seu avô fica guardado na gaveta, usou ele em uma festa a
fantasia, mas sempre evita usá-lo por se tratar de uma raridade, ainda tem uma
blusa de lã que também pertenceu ao velho. Em cima do seu computador fica uma
caveira de gesso que comprou em Gramado-RS,
seu nome é Zé Tobias, lembra-se daquela viagem com seus avós onde conheceu
Silvana, tinha 13 anos e se apaixonou, quando voltou mandou flores, mas deve
ter assustado a garota, nunca mais se viram.
Dois
santos, uma Nossa Senhora das
Graças e um São Francisco que foram dados pela sua avó quando
saiu da casa dos seus pais ainda estavam ali, meio escondidos, mas ainda
estavam ali.
Um CD de
instalação do Windows 98 que seu primo Giorgio lhe deu quando
este tinha acabado de ser lançado. Olhava pro disco e tentava se lembrar de
mais algum objeto que tinha sido dado por seu primo, mas não conseguiu
lembrar-se de mais nenhum. Resolveu que iria pedir o baixo dele para sua tia.
Espalhados
por vários lugares haviam desenhos feitos por Bianca, rabiscos de quando ela
tinha cinco anos, animaizinhos de quando ela tinha sete e casas e árvores de
quando ela tinha nove. Pensou que tinha que colocar todos em uma pasta. Iria
organizar aquilo.
Objetos
espalhados por todo o minúsculo apartamento traziam recordações, cada um tinha
uma história, cada um lhe lembrava de um momento, cada um lhe era mais
importante que tudo. O aquário, o apito, o Sr
Cabeça de Batata, camisetas, um barco a vela do Kinder Ovo, um óculos 3-D de
papel, uma presilha de cabelo, uma caixa de lenço em formato de elefante, um
pôster desenhado por George
Pérez, uma sombrinha bem afeminada, um manati de pelúcia chamado Herman,
tartarugas de porcelana, copos de Star
Trek comprados no Burguer King e várias outras coisas.
Olhou
para as garrafas de gin vazias em cima da geladeira e se perguntou porque
guardava aquilo.
Gustavo Campello
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