Era
aniversário de Beatriz, Vitor queria levá-la pra comer em algum lugar legal,
queria comprar um presente caro (pensou em um livro de algum artista plástico
legal, um vestido, um peixe caro para o aquário, uma jaqueta de couro, uma
viagem para algum lugar perto, algum novo brinquedo), pensou que poderiam
passar o dia juntos, essas coisas. Mas Beatriz não estava mais ali. Vitor havia
sido idiota e agora a única coisa que conseguiu fazer foi dar uma telefonada.
Desligou
o telefone e ficou pensando que aquilo não bastou, foi muito pouco para tudo o
que tinha pensado e passado com ela. Do outro lado do telefone ela também deve
ter ficado pensando a mesma coisa.
Ele sabia
que tinha pisado na bola, sabia que diferente das histórias em quadrinhos não
ia ter jeito de voltar no tempo e concertar as coisas. Tinha quebrado, quando
era pequeno, um perfume do seu pai que tinha o formato de um cachimbo,
lembrou-se daquele momento, de algo escorregando pelas suas mãos e o sentimento
de ter estragado algo bonito. A culpa de ter deixado aquilo acontecer, a
vontade de ter segurado mais firme, o pensamento de mudar o passado sempre estiveram
ligado a este perfume em formato de cachimbo. Agora tudo estava diferente, o
sentimento de querer mudar as coisas não estavam mais ligadas a um perfume em
formato de cachimbo, estavam ligadas a sua vida.
Vitor não
sabia que rumo sua vida estava levando agora, parece que tinha perdido
completamente o controle de tudo. Estava apenas lendo livros, escrevendo seus
textos e indo para o trabalho, de resto não fazia mais nada. Parou de cozinhar,
lavar louças ou roupas já fazia algum tempo.
No fim do
dia, ficou sentado no ponto do ônibus olhando os mesmos passarem e toda vez que
o ônibus que levava a casa de Beatriz passava um calafrio percorria todo o seu
corpo. Foi até a casa de sua irmã Úrsula neste dia, ficou conversando e
brincando com o seu sobrinho até a uma da manhã, mas não adiantou muito, seu
pensamento estava em outro lugar.
Dias
depois ele viu as fotos de Beatriz no aniversário, no Facebook de um amigo,
estava usando o vestido que ele havia dado no natal, estava sorridente e
parecia muito mais bonita do que ele se lembrava.
Gustavo
Campello
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