quinta-feira, 9 de junho de 2011

NÃO PODEMOS MUDAR O PASSADO



Era aniversário de Beatriz, Vitor queria levá-la pra comer em algum lugar legal, queria comprar um presente caro (pensou em um livro de algum artista plástico legal, um vestido, um peixe caro para o aquário, uma jaqueta de couro, uma viagem para algum lugar perto, algum novo brinquedo), pensou que poderiam passar o dia juntos, essas coisas. Mas Beatriz não estava mais ali. Vitor havia sido idiota e agora a única coisa que conseguiu fazer foi dar uma telefonada.

Desligou o telefone e ficou pensando que aquilo não bastou, foi muito pouco para tudo o que tinha pensado e passado com ela. Do outro lado do telefone ela também deve ter ficado pensando a mesma coisa.

Ele sabia que tinha pisado na bola, sabia que diferente das histórias em quadrinhos não ia ter jeito de voltar no tempo e concertar as coisas. Tinha quebrado, quando era pequeno, um perfume do seu pai que tinha o formato de um cachimbo, lembrou-se daquele momento, de algo escorregando pelas suas mãos e o sentimento de ter estragado algo bonito. A culpa de ter deixado aquilo acontecer, a vontade de ter segurado mais firme, o pensamento de mudar o passado sempre estiveram ligado a este perfume em formato de cachimbo. Agora tudo estava diferente, o sentimento de querer mudar as coisas não estavam mais ligadas a um perfume em formato de cachimbo, estavam ligadas a sua vida.

Vitor não sabia que rumo sua vida estava levando agora, parece que tinha perdido completamente o controle de tudo. Estava apenas lendo livros, escrevendo seus textos e indo para o trabalho, de resto não fazia mais nada. Parou de cozinhar, lavar louças ou roupas já fazia algum tempo.

No fim do dia, ficou sentado no ponto do ônibus olhando os mesmos passarem e toda vez que o ônibus que levava a casa de Beatriz passava um calafrio percorria todo o seu corpo. Foi até a casa de sua irmã Úrsula neste dia, ficou conversando e brincando com o seu sobrinho até a uma da manhã, mas não adiantou muito, seu pensamento estava em outro lugar.

Dias depois ele viu as fotos de Beatriz no aniversário, no Facebook de um amigo, estava usando o vestido que ele havia dado no natal, estava sorridente e parecia muito mais bonita do que ele se lembrava.

Gustavo Campello

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