Vitor
começou a pensar em quando tinha começado a beber tanto, pensou na morte do seu
avô, pensou na morte do seu cachorro, pensou nas desilusões amorosas, pensou em
tudo o que aconteceu na sua vida até chegar a uma conclusão. Tinha começado a
beber desde que pararam de vender groselha nos supermercados. Antigamente era
uma coisa tão fácil de encontrar, agora era uma coisa escassa, sempre adorou
tomar groselha, mais do que cerveja.
Sempre
fora um viciado em groselha, recentemente descobriu uma sorveteria que tinha um
sorvete de groselha que lembrava exatamente que tomava quando era pequeno,
sempre que ia lá pedia este mesmo sorvete e relembrava a deliciosa groselha que
não se achava mais. Viajando pro interior de Minas, Vitor encontrou um xarope
de groselha artesanal, comprou e voltou pra casa com água na boca para
experimentar esta iguaria. Ficou pensando se não era só no seu estado que este
néctar dos deuses antigos havia se tornado esquecido devido aos novos deuses do
refrigerante.
Chegou em
casa e tomou uns três copos, um atrás do outro, era tão bom quanto ele se
lembrava.
Então uma
lembrança antiga tomou conta do seu cérebro, algo que ele havia se esquecido
por completo, algo arrebatador, algo perfeito, uma coisa quase tão boa quanto
sexo, algo que ele não fazia há mais de quinze anos... UM LEITE COM GROSELHA!
Foi logo
para a geladeira e viu que havia uma caixa de leite ainda lacrada, era uma
sorte que não havia só leite podre como sempre, abriu a caixa de leite e parou
por um minuto.
“E se eu
não gostar?” – pensou – “Se eu achar ruim vai estragar toda a memória que eu
tenho de algo tão bom”.
Ficou
olhando para a groselha e para o leite, um suor escorria pela sua testa, o que
iria fazer agora? Suas mãos se mexeram quase que automaticamente, enquanto a
direita colocava o leite no copo a esquerda colocava a groselha. Ficou olhando
para aquele copo branco se misturando com o líquido roxo. Pegou a colher no
escorredor, era uma sorte também ter uma colher limpa por ali, era quase como
se o destino quisesse que ele tomasse aquilo. Misturou. O leite ficou com uma
cor de rosa calcinha exatamente como ele se lembrava.
Levou o
copo a boca e deu um gole.
-
PERFEITO! – gritou.
Pena que
não morava no interior de Minas, teria que se contentar com a cerveja quando a
groselha acabasse.
Gustavo
Campello
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