Marciolo
era um fiapo de algum pijama branco de Vitor, morava em um nécessaire de
remédios transparente e tinha um capacete metálico de um pedaço de uma cartela
de pastilhas para garganta. O fiapo Marciolo era o melhor amigo de Vitor.
- O que
você está procurando? – Diz o pobre fiapo sendo acordado de seu sono.
- Meu
anti-depressivo – diz Vitor que abriu o nécessaire com o maior cuidado do mundo
na intenção de não acordar o amigo.
- Você
bebeu de novo, não é? – o fiapo Marciolo já está bem acordado agora – Você sabe
muito bem que você não guarda seu anti-depressivo aqui!
Vitor faz
uma careta e fica constrangido com a bronca sobre sua bebedeira.
- Você
devia é tomar um daqueles remédios pra parar de beber, mas não tenho desses
aqui também, na verdade agora seria um bom momento para conversarmos sobre a
falta de remédios aqui na minha casa.
Vitor
pensa em fechar o zíper e deixá-lo falando sozinho, mas sabe que isso só iria
zangá-lo mais.
- Você
tem tudo de que precisa aí!
- Eu não
preciso de Fluimucil, meu nariz vai bem, obrigado! – Marciolo olha ao redor – E
se eu tiver uma dor de cabeça? Hein? Hein?
- Eu
compro uma Neosaldina!
- Até
você ir comprar, minha cabeça pode explodir, prefiro ser um fiapo prevenido!
- Sua
cabeça não vai explodir, seu capacete vai te proteger!
- Este
capacete me protege de radiações perdidas no ar, não confio nessas ondas
emitidas pelos celulares, microondas e afins que estão em toda parte nos dias
de hoje.
- Não
seja tão hipocondríaco!
- Um
fiapo precisa dormir em paz sabendo que há uma Neosaldina ao seu lado!
- Você
tem essa Dipirona Sódica que deve servir para a mesma coisa!
- De que
me adianta ter uma Dipirona com o prazo de validade vencido?
- Está
vencido?
- Há um
ano! – o fiapo começa a ficar histérico, com medo de ter um troço e não ter o
medicamento necessário a disposição – Você quer que eu morra por falta de uma
Neosaldina?
- É claro
que eu não quero que você morra!
- Então
me traga uma Neosaldina!
- Você
quer que eu vá comprar agora?
Silêncio,
ambos se encaram por alguns minutos.
- Ok, vou
indo! – diz Vitor irritado de ter que sair às duas horas da manhã pra ir
comprar remédio para um fiapo.
Vitor
volta uns quinze minutos depois, coloca a Neosaldina no nécessaire e observa o
amigo Marciolo voltar para dentro e dormir sossegado, tenta ir fazer o mesmo e
se esquece de tomar o anti-depressivo que estava em cima da mesa do computador.
Gustavo
Campello
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