Vitor
tinha uma novidade para contar.
Pensou
pra quem poderia contar. Beatriz estava dando aula, Mario e Larissa tinham ido
viajar, Marcel estava morando em outro estado, Enzo devia estar cuidando dos
cinco filhos neste momento, Carla morava longe, Helio tinha desaparecido já
fazia algum tempo e Jorge devia estar trabalhando que nem um louco.
- Alô? –
disse Vitor depois de ligar para Jorge – que está fazendo?
- Nada –
disse ele – quer ir tomar umas?
Aquilo
era quase como um filme de terror, como assim Jorge não estava fazendo nada?
Ele sempre foi o Workaholic do grupo, será que estava sonhando? Vivendo em
outra dimensão? Era uma noite de quarta feira e Jorge tinha proposto de ir
beber umas? Imagens de cenas do seriado Além da Imaginação bombardearam seu
cérebro deixando-o transtornado.
- Beleza
– disse Vitor estranhando e se beliscando pra ter certeza que era real – to
saindo daqui.
Combinaram
o bar, Vitor chegou depois porque não tinha carro.
- Tenho
uma novidade – disse Vitor feliz.
- Eu
também – disse Jorge sorrindo, ele só podia ter ganhado um dinheirão na
loteria, era isso, estava milionário.
- Vou
começar a trabalhar – disse Vitor se adiantando à notícia – começo semana que
vem.
- Eu pedi
demissão – falou Jorge virando um copo de cerveja. Não estava milionário.
Era a
primeira vez que Jorge ia ficar sem trabalhar, Vitor achou estranha a notícia e
se beliscou de novo, ainda mais porque ele mesmo iria começar a trabalhar
depois de um ano de férias.
Jorge
estava de saco cheio de fazer tanta hora extra e ganhar sempre a mesma merda de
salário, tinha ido até a sala do chefe e gritado “EU ME DEMITO!”. O Chefe ficou
atônito, afinal Jorge sempre fora calmo e competente no trabalho, tentou
argumentar para Jorge reconsiderar, mas nenhuma palavra conseguiu sair de sua
boca com o choque, ao invés disso deu uma viradinha e deixou um peido escapar
fazendo um barulho curto e grave.
- Essa
foi a única reação do cara? – perguntou Vitor incrédulo com o relato – um
Peido?
- Pois é,
anos de trabalho e a argumentação dele foi um peido, sem contar as contorções
no rosto – Jorge parecia aliviado e descontraído como há muito tempo não ficava
– Vai ver ele estava com caganeira, sei lá! E você? Vai trabalhar no que?
-
Contínuo – disse Vitor orgulhoso – sempre Contínuo!
Vitor
tinha uma carreira de contínuo, afinal ninguém ia contratar ele pra exercer
funções de muita responsabilidade mesmo, então já havia se habituado ao cargo,
pelo menos sobrava tempo pra escrever.
- Porra!
Mas contínuo de novo? – foi a única coisa que Jorge conseguiu pensar, os
parabéns vieram depois.
Gustavo
Campello
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