Vitor
estava finalmente trabalhando, depois de um pouco mais de um ano torrando o
pouco dinheiro que tinha em bebidas e macarrão em todas as refeições (as vezes
sem molho) ele finalmente estava tirando o pé da lama. Trabalhava em um clube,
desses com piscinas e pessoas saradas praticando esportes. Ficava andando pra
lá e pra cá com um rádio olhando as gostosas de biquínis e umas gordas
horrendas usando os mesmos trajes, com a diferença de que nessas ultimas os
biquínis minúsculos entravam nos enormes traseiros cheios de furos de uma
maneira nada sexy.
- Tio,
chuta a bola pra cá – diziam uns garotos jogando bola em uma das quadras. Vitor
nunca jogara futebol e devia fazer uns vinte anos que não chutava uma bola,
olhou para o objeto enquanto os garotos pediam que desse um chute. – Tio filho
da puta! – gritavam os mesmos garotos quando Vitor chutou a bola e ela foi pra
outra direção, foi então que percebeu que definitivamente não sabia como chutar
bolas.
Todos já
o conheciam por ali, era “O Escritor”, então mesmo não sendo bombado com
camiseta justa chamava certa atenção, afinal de contas ninguém precisava saber
que havia publicado uns contos em algumas antologias e quase não havia tido
retorno nenhum sobre eles. Não era um fracasso, longe disso, só que estava bem
longe de ser um sucesso também.
O pior de
tudo de trabalhar era ficar sem tomar uma cerveja, às vezes a boca ficava seca,
um suor escorria pela sua testa e a única coisa que ele pensava era “Cerveja,
cerveja, cerveja, mulher gostosa de biquíni ali na frente, cerveja, cerveja e
cerveja”. Pensavam que era um bom moço, mas no fundo era só mais um bêbado
fingindo trabalhar.
O lugar
pagava bem, estava almoçando carne de novo, mas em compensação andava o dia
inteiro pelo clube fazendo rondas e mantendo a ordem. Gostava do seu emprego.
Quando alguém estava fazendo alguma bagunça podia falar “Hey, você! É.... Você
mesmo moleque! Não pode fazer isto aqui no clube não, cai fora daqui se não te
encho de porrada!” e o moleque sai correndo reconhecendo uma verdadeira
autoridade.
- Sol
filho da puta – dizia ele em voz alta enquanto andava, quando algum cliente
olhava pra ele fingindo surpresa ao ouvir tais palavras ele repetia olhando pro
sujeito – Sol filho da puta!
Agora
Vitor acorda todo dia abrindo a janela esperando um tempo chuvoso, porque
nesses dias o clube fica vazio e ele pode ficar parado em um posto jogando
Campo Minado no computador.
Mas ele
gosta do seu trabalho, gosta de xingar os garotos, gosta de secar as mulheres e
gosta do salário que paga a cerveja no final do expediente.
É...
Vitor se deu bem.
Gustavo
Campello