quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

LARVAS DE MOSQUITO NO MEU BRAÇO QUEIMADO



Sou negra, gay, ateia, pobre e viciada.
Viciada nos elétricos injetáveis de uma sociedade sem moral que me condena por ser parte de uma minoria escrota. Nascida sem pau em um mundo de homens. Preciso de um pau elétrico para fazer parte do mundo fálico masculino. Um pau grande, duro e eletrônico com cheiro de sêmen falso para algum filho da puta me levar a sério.

Sou filha do fogo. O fogo é meu único Deus. O único Deus que extermina tudo e não deixa que nos machuquem. Porque a carne queimada fede, mas é imune a dor. Moscas depositam seus ovos e larvas nascem na minha pele queimada e o Deus-Fogo as deixa imaculada para voar, um Deus que não acredito. De corpo em corpo elas voam e infectam mais carnes queimadas. Pessoas vivendo no subterrâneo com suas carnes queimadas cheias de larvas de mosquitos. Ninguém olha para elas. Ninguém se importa com elas. Elas são escória. São Sujas. Vivem a margem, nos subterrâneos. Elas sou eu. Negra chorando no fundo de um porão de um navio negreiro. Gay espancado na sarjeta com seus miolos indo embora pelos bueiros carregados pela chuva. Ateia em uma câmera de gás sem roupa com a pele em contato com outros descrentes de merda que sentem a pele derreter em meio a gases do grande Deus-Fungo (que não acreditamos). Pobre desdentado, comendo sopas servidas por padres que querem chupar seu pau em troca de comida, sorvendo toda a gosma do Deus-Fungo para dentro de uma religião que prega o ódio. Viciada em elétricos eletrônicos de ultra-técnologia.

O Deus-Fungo controla a cabeça dos olhos-abertos-que-nada-vêem e o Deus-Fogo é seu inimigo. O Deus-Fogo não controla ninguém. O Deus-Fogo odeia seus discípulos, o Deus-Fogo odeio a todos. Apenas queima! Queima sua pele para os parasitas-mosquitos.

Os parasitas mosquitos lançam ideias, minha cabeça tem ideias que não são minhas. Ideias que pertencem a realidade. Minha pele putrefata vomita larvas que morrem em peles não-queimadas.

Deus-Fogo é meus pastor, tudo me machucará.

Minha vida é controlada por duendes mecânicos que moram embaixo da minha casa e não há nada que eu possa fazer. Quero sair do subterrâneo, quero ser como todos que o Deus-Fungo controla, mas é tarde demais. Uma vez no subterrâneo você está preso pra sempre no monte de esterco da realidade.

Meu cérebro é meu porque sou uma preta bixa não-crente ralé junky da sociedade!

Mas não me tirem do subterrâneo, não tirem as larvas do meu braço queimado. É tudo que eu tenho! É tudo que me resta..

Gustavo Campello

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