Sou negra, gay, ateia, pobre e
viciada.
Viciada nos elétricos injetáveis de
uma sociedade sem moral que me condena por ser parte de uma minoria escrota.
Nascida sem pau em um mundo de homens. Preciso de um pau elétrico para fazer
parte do mundo fálico masculino. Um pau grande, duro e eletrônico com cheiro de
sêmen falso para algum filho da puta me levar a sério.
Sou filha do fogo. O fogo é meu
único Deus. O único Deus que extermina tudo e não deixa que nos machuquem.
Porque a carne queimada fede, mas é imune a dor. Moscas depositam seus ovos e larvas
nascem na minha pele queimada e o Deus-Fogo as deixa imaculada para voar, um Deus que não acredito. De
corpo em corpo elas voam e infectam mais carnes queimadas. Pessoas vivendo no
subterrâneo com suas carnes queimadas cheias de larvas de mosquitos. Ninguém
olha para elas. Ninguém se importa com elas. Elas são escória. São Sujas. Vivem
a margem, nos subterrâneos. Elas sou eu. Negra chorando no fundo de um porão de
um navio negreiro. Gay espancado na sarjeta com seus miolos indo embora pelos
bueiros carregados pela chuva. Ateia em uma câmera de gás sem roupa com a pele
em contato com outros descrentes de merda que sentem a pele derreter em meio a gases
do grande Deus-Fungo (que não acreditamos). Pobre desdentado, comendo sopas servidas por padres que
querem chupar seu pau em troca de comida, sorvendo toda a gosma do Deus-Fungo
para dentro de uma religião que prega o ódio. Viciada em elétricos eletrônicos
de ultra-técnologia.
O Deus-Fungo controla a cabeça dos
olhos-abertos-que-nada-vêem e o Deus-Fogo é seu inimigo. O Deus-Fogo não
controla ninguém. O Deus-Fogo odeia seus discípulos, o Deus-Fogo odeio a todos.
Apenas queima! Queima sua pele para os parasitas-mosquitos.
Os parasitas mosquitos lançam
ideias, minha cabeça tem ideias que não são minhas. Ideias que pertencem a
realidade. Minha pele putrefata vomita larvas que morrem em peles
não-queimadas.
Deus-Fogo é meus pastor, tudo me
machucará.
Minha vida é controlada por duendes
mecânicos que moram embaixo da minha casa e não há nada que eu possa fazer.
Quero sair do subterrâneo, quero ser como todos que o Deus-Fungo controla, mas
é tarde demais. Uma vez no subterrâneo você está preso pra sempre no monte de
esterco da realidade.
Meu cérebro é meu porque sou uma
preta bixa não-crente ralé junky da sociedade!
Mas não me tirem do subterrâneo, não
tirem as larvas do meu braço queimado. É tudo que eu tenho! É tudo que me
resta..
Gustavo Campello
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