O U2 estava com a turnê Pop Mart explodindo de público por onde quer
que passasse. Era uma febre! Os ingressos esgotavam rapidamente. Vitor e Marcel
queriam ir neste show a qualquer custo, mas não haviam mais ingressos.
Vitor começou a escutar U2 quando a banda
havia lançado o álbum Zooropa,
quatro anos antes do lançamento do álbum Pop que rendera a turnê Pop Mart que estava em questão. Foi seu primo
Giulio que comprou o Zooropa em 1993 e que Vitor havia gravado em
uma fita K7 que ficava tocando em seu walk-men enquanto descia para a praia
todo o final de ano com sua família. Foi esta fita K7 que o salvou de horas
dentro de um carro tocando músicas chatas de dancing que sua irmã adorava.
Foi Marcel que viu no jornal uma empresa de
turismo oferecendo um pacote completo para o show. Estava incluso o ingresso e
transporte. Perfeito! Foram até lá e fecharam tudo por uma pechincha. O
ingresso era para as cadeiras numeradas, mas estava ótimo já que estava difícil
conseguir ingressos por aí.
Vitor ficou puto quando descobriu que suas
duas primas haviam comprado um ingresso para ir. Elas nunca haviam escutado U2
na vida. E foi assim por todos os lugares, as pessoas não iam por causa da
banda, mas sim por causa do evento. Não importava se a pessoa nunca havia
escutado U2, a turnê tinha a maior televisão do mundo. VÃO SE FODER pensava
Vitor.
No dia do show tudo correu perfeitamente bem,
a empresa de turismo não era um golpe, os ingressos eram reais e estavam no
Morumbi no dia 30 de Janeiro de 1998 como tudo fora planejado.
Chegaram de tarde, havia muito tempo para o
show. Vitor e Marcel como bom corinthianos cuspiam no símbolo do São Paulo toda
vez que passavam por ele. Foram até a cadeira numerada que estava marcada em
seus ingressos e sentaram ao lado de um velho com o cabelo rosa. Vitor pensou
em pintar o cabelo de rosa também, mas nesta época tinha o cabelo pintado de
amarelo. Tomaram uma cerveja e foram atacados por um enxame de abelhas.
Pisotearam todas.
- Esta cadeira numerada é uma bosta – disse
Marcel.
- A gente precisa ficar aqui?
- A gente podia ir lá no meio da multidão,
afinal nosso ingresso é mais caro que a pista.
- Vamos lá!
Vitor e Marcel foram até a pista onde se
aglomerava um monte de gente e ficaram mais perto do palco que se ficassem nas
cadeiras numeradas.
- Cadeira numerada é pra idiotas! – disse
Marcel feliz com a nova posição que conquistaram.
- Pra idiotas que tem medo de multidões –
Vitor lembrou-se que suas primas iriam ficar nas cadeiras numeradas e completou
– e pra idiotas que só vieram pra ver a maior televisão do mundo.
Uma bandinha ganhadora de algum prêmio chamada Bootnafat começou a tocar. Até que era bem
legal. Tocaram Killing in The
Name Of do Rage Against The Machine e aparentemente só Vitor e Marcel
pularam e se divertiram no meio de toda aquela gente. Público pop é foda!
Quando entrou o Gabriel, O Pensador a galera foi ao delírio, só porque era
um babaca vinculado pela mídia. Vitor sentou no chão e aproveitou pra descansar
enquanto o babaca cantava contra o sistema e enchia o bolso de dinheiro com o
mesmo sistema.
U2 entrou e foi um puta show! Não há como
explicar aquela televisão enorme mandando um monte de imagens direto pro seu
cérebro enquanto o U2 tocava músicas de uma época em que ainda inovavam alguma
coisa no rock. Vitor preferia a fase mais eletrônica deles que começou no álbum Achtung Baby, mas Marcel era
mais tradicional e preferia o álbum Joshua
Tree.
Para Vitor o ponto alto do show foi quando
tocaram Hold Me, Thrill Me,
Kiss Me, Kill Me:
You don't know how
you got here
You just know you
want out
Believing in
yourself almost as much as you doubt,
You're a big smash
You wear it like a
rash
Star.
O ponto baixo foi tocarem Sunday Bloody Sunday em versão acústica. Esta música era
baseada no Domingo Sangrento, um confronto entre manifestantes católicos e
protestantes, e o exército inglês na Irlanda do Norte no dia 30 de Janeiro de
1972. Houve 14 fatalidades entre os ativistas católicos e 26 feridos. Naquele
exato dia o Domingo Sangrento fazia 26 anos e quiseram tocar com um tom
melancólico. Vitor e Marcel queriam o som forte da bateria e da guitarra, mas
tiveram que se contentar com o que tiveram.
Quando o show acabou eles estavam simplesmente
suados e morrendo de sede, havia caído uma garoa que não atrapalhou o show, mas
que com certeza traria uma gripe. Chegaram no ônibus e não havia mais água.
Vitor pegou uma pedra de gelo e a mastigou. Seus dentes sempre foram de aço,
mastiga gelo como se fosse gelatina. Todo mundo olhava pra ele dando risada, a
pedra de gelo era do tamanho de uma maça.
Houve outras duas passagens da banda pelo
Brasil, uma em 2006 e outra em 2011, mas Vitor não conseguiu ingressos. Em 2006
ficou ligando que nem um louco porque as vendas eram por telefone. Perdeu horas
da sua vida e ficou puto. Em 2011 queria mais é que se fodessem, não iria ficar
atrás de ingressos que nem um louco e ainda por cima pagar uma fortuna.
Sentia falta da pegada eletrônica da banda,
eles ainda faziam um rock excelente e honesto, mas faltava inovação, como quase
todas as outras bandas das antigas que haviam ficado por aí.
Gustavo Campello
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