Em Janeiro deste ano saiu uma
entrevista com o poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta
e um dos fundadores do neoconcretismo, o Sr Ferreira Gullar.
A entrevista você pode ler na
integra no link abaixo:
Nela o Sr Gullar transcorre sobre
arte. Fiquei um tempo pensando sobre o assunto e resolvi escrever um texto para
o blog. Acho que é a primeira vez que eu publico algo assim por aqui. Li a
entrevista e os comentários de algumas pessoas e me espantei em como a grande
maioria defende com unhas e dentes o poeta. É muito fácil ser meio “Maria vai
com as outras” quando um cara de renome como o Ferreira Gullar expõe alguma idéia,
eu mesmo até certo ponto do texto estava sendo levado até o momento em que ele
critica o artista plástico Joseph Beuys, do qual sou um grande fã. A partir daí
já comecei a ler o restante da entrevista com outros olhos.
Gullar afirma que nem todo mundo
pode fazer arte e que existe uma diferença entre arte e expressão. Bem, sou
apenas um mero aspirante a escritor com cinqüenta anos a menos do que ele, mas
não posso simplesmente concordar com isto. Não quero me auto-promover com este
texto criticando um grande escritor brasileiro, mas ao meu ver, o que o Sr
Ferreira Gullar disse nesta entrevista é uma tremenda bobagem.
Joseph Beuys disse que todo mundo
pode fazer arte, Ferreira Gullar rebate que não e dá exemplos como “Nem todo
mundo pode jogar bola como Zico” ou “Nem todo mundo pode tocar Bach”. Verdade,
eu não jogo bola como o Zico, na verdade eu nunca devo ter chutado uma bola
porque nunca me interessei por jogar futebol, simplesmente não fez parte da
minha vida tal coisa. Já brinquei no piano da minha avó quando era pequeno e
também nunca me preocupei em tocar Bach. Isto não significa que eu não tenha a
capacidade para isto. Poderia ter jogado bola como o Zico se eu tivesse me
esforçado para isto. Todo o ser humano pode alcançar o seu potencial, acredito
nisto.
Acredito que escrevo bem, alguns
familiares pensam que é um dom e blá blá blá, mas eu tive que ler muito
Hemingway, Dostoiévski, Bukowski, Fante, Kafka, Garcia-Marquez, entre outros
para conseguir escrever razoavelmente bem na minha concepção. Acredito que
ainda tenho muito que ler pra chegar onde eu quero. Posso nunca chegar a
escrever como o Hemingway, tudo bem, mas não significa que o que eu escrevo não
é nada, não vale nada e não é arte.
Em um dos comentários, uma usuária
do Instituto de Artes da UNESP chamada Beatriz Ruco consegue simplificar todo o
meu argumento: “Ele falou coisas das quais compartilho como obras que não fazem
o menor sentido, não atingem nenhum objetivo e são defendidas por críticos que
fazem menos sentido ainda.Isso me lembra o porco empalhado , obra de Leiner.
Porém não sou eu e muito menos o grande Ferreira Gullar que pode definir o que é e o que não é arte, podemos apenas não gostar do que vemos. Queria ainda lembrar que discordo totalmente desse pedestal em que colocam o artista, como se ele fosse um ser iluminado pelo dom. Acredito que sim, qualquer um pode fazer arte (alguns com mais facilidade) ou seria inútil estudar a forma, o desenho, a pintura e deixaríamos tudo por conta do dom.”
Porém não sou eu e muito menos o grande Ferreira Gullar que pode definir o que é e o que não é arte, podemos apenas não gostar do que vemos. Queria ainda lembrar que discordo totalmente desse pedestal em que colocam o artista, como se ele fosse um ser iluminado pelo dom. Acredito que sim, qualquer um pode fazer arte (alguns com mais facilidade) ou seria inútil estudar a forma, o desenho, a pintura e deixaríamos tudo por conta do dom.”
Eu, particularmente, odeio
Picasso. Não me agrada olhar para os quadros dele. E aí? Só porque eu não gosto
de Picasso ele não é arte para mim? Quem dita o que é e o que não é arte? Adoro
os quadros do Pollock, tem gente que odeia. Pode algo ser arte pra mim e não
ser arte pra outra pessoa? Arte é arte e pronto. Nem tudo vai descer redondo
pela garganta de todo mundo.
Pelo discurso do Gullar
poderíamos então jogar no lixo a arte de Marcel Duchamp? Teria ele feito mal
para o mundo das artes? Certa vez o escritor Paulo Coelho declarou que James
Joyce fez mal para a literatura, achei de um tremendo mal gosto este comentário.
Ao meu ver, se Joyce fez mal a literatura, fez bem menos mal que o Sr Paulo
Coelho. Esta entrevista parece seguir o mesmo caminho. Ferreira Gullar dizendo
que Beuys e Duchamp fizeram mal para as artes plásticas. Quem é ele para dizer
isto?
Duvido que meu estilo de
literatura agrade ao Sr Ferreira Gullar, devo ser enxotado como escritor por
isto? Não quero um Prêmio Nobel e muito menos um lugar na Academia Brasileira
de Letras, mas sou um escritor sim. Respeito é bom e eu gosto. Odeio os livros
do Paulo Coelho, mas que direito eu tenho de dizer que o que ele escreve não é
literatura? Posso até chamar de péssima literatura, mas ainda assim é
literatura.
O porco empalhado de Leiner pode
até ser chamado de péssima arte por quem não se sentir agradado por ele, mas não
deixa de ser arte. Já vi várias performances por aí, nunca entendi direito elas
e já até rendeu uma crônica chamada Arte Transgressora. De todas que vi,
gostei só de uma. Quem sou eu pra dizer que arte performática não é arte? É
preciso que alguém pinte a performance para que seja arte? Desculpem-me, mas a
visão de arte de Ferreira Gullar está muito limitada na minha opinião.
Gullar ainda diz “Vídeo bom é
aquele que narra alguma coisa”. Sou fã do David Lynch e também sou obrigado a
discordar desta frase. A imagem pode nos tocar com sentimentos sem que seja uma
simples narrativa. O vídeo pode ser usado sim como algo muito maior do que uma
simples narrativa.
Espero não ter falado bosta
demais, sou apenas um apreciador de arte, conheço muito pouco, meu negócio é
mais a literatura mesmo. Achei que minha opinião sobre o assunto fosse
acrescentar algo a discussão.
Pensem sobre o assunto!
Gustavo Campello
Comprei um livro de Ferreira Gullar sobre arte e já no primeiro contato comecei a entortar o nariz. Não sou um grande conhecedor de arte, mas leio muito sobre o assunto. E, pelo pouco que sei, não dá pra condenar a não-arte tudo o que pessoalmente não gostamos, até porque não é realmente possível gostar de tudo. E o discurso de Ferreira Gullar tem muito desse tom propenso a não haver diálogo e compreensão sobre o que não se entende. Acho que é justamente por essa "ignorância" que o seu discurso ressoa tão bem na opinião do público.
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